Cuidado com o Chicote Não Espreite o Telefone do Marido

No passado mês de Maio foi publicada uma nova lei na Arábia Saudita que aplica penas de multa, prisão ou e chicotadas às mulheres que metam o nariz no telefone do marido.

A notícia não é totalmente clara quanto à graduação da aplicação daquelas penas, mas a moldura penal para as infratoras está determinada e vai desde a multa até à prisão com ou sem chicotadas.

Nada acontece ao marido que, sem consentimento, espreite o telefone das suas mulheres a não ser passar a ter conhecimento do conteúdo das comunicações, sendo que o pronome possessivo “suas” tem rigorosamente o seu valor semântico em toda a plenitude.

Depois de não poderem sair sozinhas, de não poderem conduzir automóveis, ficam agora sujeitas a estas penas se ousarem meter o nariz nos telemóveis do marido.

A Arábia Saudita de orientação sunita wahabita deixa o mundo estupefacto. Com efeito no Reino do petróleo metade da população vive em condições que em grande parte têm similitudes com as descritas por Montesquieu no seu livro ”Cartas Persas” publicado em 1721, isto é, num verdadeiro serralho.

Poderiam os costumes numa sociedade profundamente desigual continuarem a ser dominantes e na prática as mulheres serem severamente censuradas por acederem aos telefones do marido.

Mas as autoridades sauditas não se quiseram ficar por aí; quiseram impor à população feminina a submissão legal, e não apenas consuetudinária; as mulheres são uma espécie de ser de segunda categoria.

As mulheres através de lutas gigantescas conseguiram alcançar direitos e hoje lutam pela igualdade de facto com os homens, sendo que a lei em geral lhes reconhece os mesmos direitos.

Quando os governantes ocidentais em fila se deslocam à Arábia Saudita para lhe vender armas e tecnologia “esquecem” que ao pisarem aquela terra as mulheres são tratadas sem o mínimo de dignidade fruto de um regime absolutista. Se fosse na vizinha Síria ai-jesus quantas campanhas já tinham sido desencadeadas.

É revoltante que, face a violações tão brutais dos direitos humanos, impere este silêncio de chumbo no hemisfério ocidental sempre tão lesto a posicionar-se em relação aos direitos humanos nos países que não alinham na orientação dominante.

Na verdade a Arábia Saudita de cima dos seus petrodólares nas Bolsas de Nova Iorque, Londres, Berlim, Paris e Hong-Kong sabe o peso que tem e quer confrontar os seus aliados com essa situação publicando uma lei que envergonha os próprios aliados.

No fundo Riad passa ao mundo esta mensagem: ou estão comigo e com todas estas barbaridades ou não há petrodólares para ninguém.

O poder do dinheiro é tremendo, já se sabia. Mas exercer esse poder desta forma tão brutal é um novo desafio ao mundo.

À sexta em Riad os sabres cortam cabeças; diariamente as mulheres não saem sozinhas, não podem conduzir, não podem espreitar os telefones do marido sob pena de multa, cadeia e chicotadas…Em Raqqa, em Mossul, não deve ser muito diferente.

Nas cidades do Daesh há a escravatura sexual das minorias; na Arábia Saudita mulheres filipinas, indianas, paquistanesas ficam sem passaporte e penam a vida inteira.

Esta lei não é mais grave que outras acima referidas; é mais um passo na ignomínia de impedir que a maioria da população tenha os direitos que a minoria tem.

Aguarda-se que os muftis defensores desta enormidade apareçam a alegar que se as mulheres não conhecerem as infidelidades do marido serão mais felizes. Quem sabe? Houve os que defenderam que não deviam conduzir para não molestar os ovários…

Este é um poder de tipo absolutista, próprio dos regimes despóticos e brutais…por mais armas que comprem. Quem as vende e cala, alinha.

Europa Sim, Submissão Não!

Um dos aspetos mais aberrantes da construção da União Europeia é a facilidade com que a Alemanha, atrás do tabique da economia, ganhou um poder incrível.

Até há umas décadas para se ter poder sobre outros países era necessário desencadear guerras e impor pela força das armas a política do vencedor.

A Alemanha em 1914-1918 e 1939-1945 desencadeou guerras que se alastraram de modo global para tentar dominar a Europa e o mundo.

Com a reunificação, o desaparecimento da URSS, a construção da U.E. e sobretudo com a criação da moeda única a Alemanha vem impondo à França, ao Reino Unido, aos vizinhos, ao sul do continente a sua política sem dar um tiro. Com falinhas mansas, exceção feita ao ministro Schäuble, a Alemanha vem fazendo tudo o que pode para que a crise não lhe chegue e que a vulnerabilidade dos outros se transforme em superioridade para si.

Na verdade a Alemanha é hoje um império na medida em que tem força para impor aos outros países orçamentos, défices, taxas de crescimento, destinatários de vendas de bancos…Os pequenos países que se encafuaram na moeda única vivem hoje com a espada alemã sobre a cabeça.

Veja-se a vergonha que é para Portugal ter tido um governo que fez o que a U.E. lhe encomendou e apesar disso sofrer eventualmente sanções depois de cumprir ao milímetro as determinações de Schäuble e Cª.

E sublinhe-se a dignidade de António Costa em rejeitar tais sanções que resultam da política submissa do PSD/CDS, isto é, de Passos e Portas.

E assinala-se esta abencerragem que é a possibilidade de impor a um país, a uma nação, sujeita a um tratamento de choque de pobreza, sanções de centenas de milhões de euros. Vale a pena esta Europa?

O manto da austeridade que se abate sobre o continente é tecido em Berlim e visa sufocar economicamente um conjunto de países para que a Alemanha se desenvolva.

Conseguindo que os bancos da Alemanha se tivessem livrado de ver investimento incobráveis nos países em dificuldades passando a dívida dos privados para o Estado, a Alemanha arroga-se o direito de submeter países ao seu diktat, independentemente das vontades expressas em eleições. Que valem os resultados eleitorais face ao poder da Alemanha… über alles…?

Se os portugueses não aceitam a austeridade preconizada pela Alemanha e Cª, isso não conta para a imperatriz. Quem manda é quem pode e quem pode é a Alemanha…

É esta a política dominante no espaço da moeda única onde a panela de barro não pode chocar com a panela de ferro alemã, que cria enormes desigualdades entre as nações, e as transforma em meros espaços económicos, meros prolongamentos dos braços teutónicos, considerando-os como satrapias do império berlinense.

A grande questão da atualidade é esta: vai a Europa sujeitar-se a este desígnio? Mesmo que países como a França e a Itália se submetam, as outras nações vão aceitar continuar encafuadas na lógica da submissão aos interesses alemães über alles?

A imperatriz e o Vizir-Geral agem para com a Europa como donos da Treuhandanstalt, a empresa encarregada de liquidar a RDA, submetendo o continente como outrora submeteram aquele desaparecido país.

É chegada a altura de repensar este caminho. Até agora o que se anuncia é o desastre. É austeridade, mais austeridade e sanções e punições sob a placidez sinistra dos “amigos” governantes alemães. Não se trata de defender o isolacionismo e o fechamento do país. Estamos na Europa e não vai suceder o que Saramago imaginou na Jangada de Pedra, mas ficar amarrado não será melhor que ir à deriva.

Um país longe da periferia, pouco desenvolvido, precisa se se agarrar às raízes de onde está (Europa) e procurar complementaridades que o façam mais forte no local onde está.

Mas estar onde nos punem por fazermos o que impuseram que fizéssemos precisa de ser avaliado e sujeito a outras regras em que cada um possa ser como é e como nação velha de nove séculos ser respeitada. Europa sim, submissão não!

Fascismo à Espreita no Brasil

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Na votação, na Câmara dos Deputados no passado dia 16, pelo impeachment de Dilma Rousseff, Presidente do Brasil, distinguiu-se entre muitos o deputado Jair Bolsonaro que para atacar a Presidente foi ressuscitar um dos algozes mais sinistros da ditadura militar brasileira.

Jair Bolsonaro lembrou que o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ( chefe do DOI   COD, Departamento das Operações Internas do Centro de Operações da Defesa, órgão subordinado ao Exército, de Inteligência  e Repressão , criado em 2 de Julho de 1969)  acusava Dilma de ter pertencido a quatro organizações terroristas que pretendiam implantar o comunismo no Brasil.

Foi às mãos do DOI que foram assassinados entre outros o jornalista Vladimiro Herzog e o operário Manoel Fiel Filho.

Este órgão foi um verdadeiro antro de prisão, tortura e assassínio dos militantes  oposicionistas à ditadura militar.

Vir agora justificar o impeachment com o passado de resistente à ditadura militar brasileira, mostra que no Brasil o fascismo espreita e que muitos dos que se juntam a esta loucura ainda se virão a arrepender.

A raiva e o ódio à Presidente Dilma cegou muitos dos seus opositores.

Na verdade, independentemente dos erros de Dilma, não existe qualquer suspeição de corrupção sobre a Presidente.

Em contrapartida existem na Câmara de Deputados dezenas de deputados em pânico devido à operação Lava Jato que a Presidente não fez nada para parar.

A incapacidade para a direita neo liberal no Brasil ganhar a presidência fê-la perder o tino.

São juízes a pedir manifestações para terem apoio na perseguição a Lula da Silva e a divulgar escutas da Presidente; são deputados a votarem em nome de Deus, Pai, Espirito Santo, esquecendo o pecado mortal que é invocar o santo nome de Deus em vão… Há de tudo, até quem vá procurar nos algozes torcionários “razões” para o impeachment…

O Brasil vai mal, vai muito mal… algo anda à solta e não é nada de bom: o ódio mais destemperado, próprio do fascismo.

 

O que é Portugal? Ou já nem é? Episódio II

A entrada no euro significou uma perda substantiva da soberania portuguesa. Mas uma perda significativa da soberania não implica a perda da soberania. E muito menos que as diversas instituições portuguesas ajam obedecendo aos ditames de Bruxelas, escondendo às autoridades governamentais decisões da mais alta importância para a vida dos seus cidadãos.

É aceitável que, invocando um dever de silêncio e escudando-se nele, o governador do Banco de Portugal, não informasse o governo português acerca da proposta de venda do BANIF que ele próprio engendrou?

Pode um governador do Banco de Portugal ocupar esse alto posto da Administração servindo os banqueiros do BCE, desprezando os interesses de Portugal passando a funcionar como pertencendo a um clube dos donos das finanças dos países mais frágeis do ponto de vista económico?

O governador do BdP é nomeado pelo governo português, o que significa que a sua fonte de legitimidade radica na posse que o governo lhe conferiu.

Uma decisão que implique para os portugueses uma perda de milhares de milhões de euros e a transferência a preço da uva mijona de mais um banco para os banqueiros espanhóis tem uma importância nacional indiscutível; um governador do BdP não pode ser um escudo do BCE contra o governo que o nomeou. Se estas são as regras uma conclusão se impõe: não servem.

A admitir-se este comportamento de qualquer governador do Banco de Portugal só resta ao governo em Lisboa assinar de cruz o que o BCE ditar diretamente ou indiretamente via BdP.

Neste quadro institucional pode haver uma União em que entre os seus membros uns imponham aos outros as suas regras e não aceitem que as aspirações democráticas de uma nação sejam tidas em conta?

A maioria do povo português votou contra a austeridade e essa maioria deu corpo a um governo; pode Bruxelas por via do BCE e BdP impor o que o povo rejeitou?

Pode haver uma União na qual alguns países estejam condenados por terceiros a viver uma vida indigna sempre sob o jugo das reformas estruturais intermináveis e salários de miséria que os países ricos rejeitam para os seus nacionais?

Se Portugal nunca teve salários a nível dos países europeus e se encontra na situação em que está, como é possível continuar a defender que o caminho é o da austeridade e empobrecimento?

Serão os tecnocratas pagos a peso de ouro os defensores dos interesses portugueses? Podem os portugueses confiar neles? Têm essas senhoras e esses senhores empenho no desenvolvimento e crescimento de Portugal ou pretendem metê-lo nos “eixos” custe o que custar para depois terem garantias que Portugal é atrativo para os seus negócios?

Que futuro está destinado à velhíssima pátria lusitana? Morrer às mãos frias da austeridade  imposta pelo império alemão?

As Virtudes e os Vícios no Reino Saudita

Na Arábia Saudita a sharia tem no “Comité para a Prevenção da Virtude e a Prevenção do Vicio” composto pela polícia religiosa, os muttawin, um fortíssimo braço protetor.

O conselho de Ministros da Arábia Saudita retirou (é o que relata a imprensa) àqueles virtuosos o poder de deter e interrogar os criminosos infratores e atribuiu essas funções à polícia e às unidades de combate à droga.

Os muttawin continuam vigilantes, ativos e quando se trata de deter e interrogar encarregam outras polícias.

A notícia surge com um avanço liberalizador da ditadura mais absolutista do Golfo.

Porém vale a pena pensar no embuste. Os muttawin continuam a policiar? Continuam.

Só que a detenção de pessoas infratoras passa para outros “promotores das virtudes”- a polícia, incluindo a do combate ao tráfico de droga.

E que virtudes promovem todos estes virtuosos? Impedem as mulheres de andar na rua sem um homem que as guarde, de conduzirem, de não taparem integralmente o rosto. Isto no que se refere aos anjos da guarda das mulheres.

Impedem os homens de conduzir automóveis com o rádio ligado com o som alto, homens e mulheres de se tocarem, de quem quer que seja de deter ou beber bebidas alcoólicas, e de possuir ou vender produtos não islâmicos.

De acordo com a nova versão quem for denunciado é entregue à polícia ou à unidade de droga. Está-se mesmo a ver o avanço que esta lei representa. Em Portugal nos últimos anos do fascismo deixar de haver PIDE, passou a ser DGS, mas o eixo da atuação era o mesmo.

O adultério entre a população é condenado com a pena de morte, assim como o tráfico de droga.

A família real não entra nestas contas e podem fazer o que lhes der na veneta. Está acima da lei.

Os homens e sobretudo as sauditas continuarão, num dos reinos mais obscuros do planeta, a sujeitar-se as mais brutais iniquidades.

Porém serão detidos e interrogados pelas polícias civis; a polícia religiosa indicará os suspeitos criminosos. Sim, denunciarão toda e qualquer mulher que decida ir ao supermercado sem o seu anjo da guarda masculino; toda e qualquer mulher que conduza; toda e qualquer mulher que não tenha a cara tapada; todo e qualquer cidadão que não feche o estabelecimento comercial à hora das orações.

Os sauditas nunca estão sozinhos. Têm sempre homens a vigiá-los. E a obrigá-los a vigiar as suas mulheres e filhas de modo a que sejam amputadas da liberdade de circulação, de expressão, de se vestirem como queiram, amputados da sua integridade física e moral, isto é, de grande parte da sua alma.

Os promotores das Virtudes especializaram-se em roubar a alma às mulheres sauditas, aniquilando aos homens a possibilidade de desfrutarem de um relacionamento igualitário e de verdadeira comunhão de afetos, isto é, de um autêntico amor. Que importa quem detém e interroga? O que importa é que a mais simples das liberdades (de circular, de se exprimir, de se ser como se é) não existe em reino tão virtuoso e sem vícios.

Portugal É o Quê ou Já nem É?

Portugal, enquanto nação, tem oitocentos e setenta e três anos. A moeda única tem dezassete anos. O Banco Central Europeu tem dezassete anos e alguns meses.

Draghi, nascido em Roma em 1947, tem sessenta e nove, fez uma carreira como banqueiro; passou pela Goldman Sachs onde treinou intensamente para vir a ser o Governador do BCE, como aconselham as melhores regras dos mercados financeiros.

Draghi tinha pedrigree e os banqueiros convenceram a chancelerina que ele era o homem certo. Pelos vistos acertaram.

Quando o Senhor Mario Draghi veio à reunião do Conselho de Estado com a sua linda idade devia, no mínimo, respeitar a pátria de Afonso Henriques, de D. João I, de Gil Vicente, de Luís Vaz de Camões, de D. João II, do Infante D. Henrique, de Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama, de D. João IV, dos Republicanos da revolução do 5 de Outubro, dos militares de Abril de 1974 e de José Saramago.

Por mais dinheiro que o onzeneiro junte à custa das desgraças dos povos e das pessoas simples como já o Mestre Gil tinha assinalado o destino deveria ser o do inferno, se houvesse justiça na Terra…

Por mais prosápia que o encarregado de zelar pelo dinheiro que se amontoa em Francoforte e escasseia em Atenas, Lisboa, Madrid e noutras capitais, a História não se apaga só porque o tem aquelas “virtudes “ de esmifrar os que não atingem estatuto dos descendentes de Bismark.

As palmadinhas da dona disto tudo e a pipa de massa que recebe anualmente não o deviam cegar a pontos de entrar no Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República de Portugal, e agir como procônsul da Alemanha, dado que Portugal não é nem uma freguesia da Ibéria, nem uma província do Império berlinense.

O sátrapa que veio com o poder que lhe conferiu a imperatriz da Europa não se coibiu de espalhar a mensagem dos troicanos, defensores do empobrecimento de Portugal e do enriquecimento da Alemanha, de uma vida austera para os portugueses e de uma vida à farta para os naturais do Império.

Tudo isso disse o onzeneiro, convidado de Marcelo, o irrequieto, agora em funções de Presidente da República.

É de crer que o sátrapa tenha, pelo menos referido, antes de ter pronunciado o discurso, ao mais alto magistrado da Nação portuguesa os traços gerais da comunicação e certamente a referência ao que o governo pode ou não pode fazer, sendo certo que nos termos da Constituição da República portuguesa (sim, Portugal tem uma Constituição) o governo de Portugal presta contas à Assembleia da República e, em última instância, ao Presidente da República.

Seria, portanto, de admitir que quem tem o dever de fazer cumprir a Constituição lhe lembrasse que por mais dinheiro que haja em Francoforte, Portugal ainda não é uma província do Império.

As palavras de reprovação da conduta do governo de Portugal logo foram aplaudidas por aqueles que não tendo a força para serem governo vão ao estrangeiro buscar essa força vinda do Império.

Sempre em Portugal houve quem se governasse servindo os interesses alheios aos interesses dos portugueses afirmando com todo o despudor que o futuro do país é empobrecer para se tornar competitivo e os poderosos poderem cá investir e levar a nossa riqueza para a esconder algures no Panamá ou em qualquer canto do Reino Unido ou da Holanda.

Barroso, Cristas,  Passos e uns tantos embevecidos pela presença nos media aplaudiram-no.

Haverá sempre quem troque a História por uns milhões e por algum poder.

O que está em causa é mesmo o futuro. E a pergunta é: pode a nossa História, o nosso país, as nossas vidas serem tratadas deste modo? Pode alguém vir dizer-nos, em nome da Banca (que tem espatifado riqueza incalculável em benefício de umas tantas famílias e lesando países inteiros) o que podemos e não podemos fazer? Portugal é o quê? Ou já não é?

Os Nossos Mortos de Bruxelas e os Deles de Lahore

Os nossos mortos valem a nossa revolta e o nosso choro. Os mortos inocentes de Bruxelas que iam apanhar os aviões ou o metropolitano morreram às mãos da barbárie.

E o mundo parece ter parado com as explosões das bombas que os suicidas detonaram. O mundo ocidental ergueu-se como um só a condenar os atentados e a dar conta do que é preciso fazer evitar mais atentados.

Cameron, Hollande, Putin, Obama, Rajoy, Junker, Costa, Marcelo , todos à uma, levantaram-se para manifestar a sua indignação pelos mortos de Bruxelas.

Foram crianças, idosos, jovens e homens (cerca de trinta e dois, incluindo os terroristas que também são seres humanos) que pereceram apenas porque naquele dia, àquela hora iam fazer o que tinham de fazer.

Tudo aconteceu ao raiar do dia 22 de Março na capital das instituições europeias às mãos de jovens belgas, alegadamente convertidos ao Islão.

A dor dominou esta Europa que acabava de se fechar para recambiar os refugiados e desterrá-los para a Turquia e desta para a origem.

Na manhã de domingo de Páscoa lá longe, em Lahore, no Paquistão uma bomba matou setenta e duas pessoas vinte e tal crianças) todas festejando a Páscoa.

Segundo Paulo de Tarso, mais conhecido no mundo cristão por São Paulo, na Epístola aos Gálatas dizia …” não há judeus, nem gregos, porque sois um em Cristo…” Mas isso foi há mais de dois mil anos.

E agora há mortos e mortos. Os nossos e os deles.

Há os mortos que põem o mundo totalmente alvoraçado. E há os mortos que merecem uma notícia de roda pé, mesmo sendo irmãos em Cristo.

Segundo São Paulo os homens são todos um em Cristo. Porém para este mundo cristão não é bem assim.

Bruxelas é o quartel da NATO e sede da União Europeia.

Lahore é uma cidade do Paquistão muçulmano e os mortos de Lahore não têm o mesmo estatuto.

São mortos longínquos, ainda se fossem dos EUA ou do Canadá…

Há uma espécie de “ os nossos mortos” e há os deles.

Se um palestiniano for morto, à queima-roupa, por um judeu é normal.

Se um bombardeamento dos aliados dos EUA acertar em cheio num hospital e morrerem dezenas de afegãos é um dano colateral.

A emoção e a dor não é a mesma porque eles não são “ os nossos mortos “ . São os deles.

Há mesmo muitos cristãos que invocam Cristo para o que lhes serve, esquecendo as palavras de Paulo de Tarso.

Mortos. Mortos de primeira e mortos que nem vale a pena lembrar, como os de Lahore, ou do Afeganistão ou da Palestina… Não são “nossos”. São deles.

Obama/Castro – Tão Longe e Tão Perto

Obama visitou Cuba. A última visita de um Presidente dos EUA tinha acontecido há oitenta e oito anos.

O país de José Marti recebeu condignamente o poderoso vizinho, por sinal um afro-americano.

Obama visitou a fantástica Calle Obispo e deve ter visto a espontaneidade contagiante dos cubanos. E na Praça da Revolução deve ter recuado à sua juventude.

Muitos perguntam – Quem ganhou ou quem vai ganhar?

Vão ser escritos livros, teses, tratados para responder a esta questão. Seguramente. Porém há uma questão anterior a esta – porquê só agora? Era possível continuar assim?

Do lado cubano a resposta é um pouco mais clara, a ida de Obama abre possibilidades.

Do lado dos EUA há que esperar pelas próximas eleições presidenciais. Percebe-se a vontade de Obama deixar a via aberta, mas Trump já disse que a fechava, no caso de as ganhar.

Cuba tem vindo a evoluir e há sinais claros de num sentido de uma abertura controlada. Às vezes o tempo é inimigo das melhores intenções e nunca se sabe o que pode acontecer se a pressão se descontrola.

Falta acabar com o bloqueio e com a prisão de Guantánamo, mas é melhor ir a Havana cumprimentar Raul que ficar na sala Oval. É seguro que sem o fim do bloqueio não há relações baseadas na igualdade entre Estados.

Cuba vai evoluir para uma abertura económica, colocando-se a questão de saber como se passará no domínio das instituições políticas. Continuará a ser o Partido Comunista de Cuba o único ator político? Quererá Cuba seguir um caminho parecido com o da China? Só que Cuba não tem o peso de um gigante como a China, embora as elites cubanos sejam sofisticadas e tentem por via de uma melhoria substancial das condições de vida da população encontrar uma legitimidade que lhes escapa em termos concorrenciais.

Para já Obama e Castro cumprimentaram-se no Palácio da Revolução. Ambos sorriram para a fotografia. Na cabeça de cada um ter-se-ão agitado ideias distintas e ao mesmo tempo convergentes. O certo é que ambos sabiam que estavam a fazer História que vai acelerar. Haja coragem! E venham os passos que conduzam à total normalidade entre os dois vizinhos.

O Grande Mufti, o Cheique e os Ovários

A notícia divulgada, esta semana, num jornal marroquino deu conta que a tripulação de um avião do Sultanato do Brunei integralmente constituída por mulheres aterrou em Djedda na Arábia Saudita, no dia 23 de Fevereiro, pilotando um Boeing 787 Dreamliner.

Tratava-se de um voo para comemorar o aniversário da independência daquele país. No mundo muçulmano, ao qual o Sultanato pertence, colocar nas mãos de três mulheres um avião cheio de homens e mulheres é um facto relevante.

A comandante e as duas co-pilotos após a aterragem do avião deslocaram-se para o exterior do aeroporto e quando se preparavam para conduzir os veículos colocados à sua disposição foram proibidas de conduzirem porque na Arábia Saudita as mulheres não podem conduzir.

O cheique Saleh AL Luhaidan afirmou que as mulheres que violem estas regras correm o risco de ter filhos anormais devido à pressão sobre os ovários quando conduzem.

O grande mufti, Abdul Azis Abdillah Ali ash- Shaykh argumentou que a proibição se destinava a “proteger a sociedade do mal”.

Mil trezentos e oitenta e quatro anos depois da morte do profeta Maomé, o cheique Saleh devia considerar a hipótese de pelo facto do seu pai ter andado em cima do cavalo, ou do camelo ou sentado a conduzir, ter sofrido pressões sobre os testículos (bem mais no exterior do corpo que a dos ovários) e as mesmas terem tido alguma influência no cérebro do então feto, hoje chefe religioso.

O grande mufti, por outro lado, não esclarece se o mal reside no facto de se conduzir carros e não camelos por exemplo, ou no de as mulheres poderem conduzir.

Dizem os homens sauditas, agradecidos ao grande mufti, que se as mulheres conduzissem podiam provocar um grande mal aos homens –afastarem-se deles a uma grande velocidade, dependendo da cilindrada dos carros.

Sendo o Brunei muçulmano tal como o Irão ou o Paquistão ou a Indonésia ou Marrocos ou a Síria, estranha-se que adorando o mesmo deus, este, a uns autorize a condução e àquele que tem muito mais dinheiro e possibilidades que os outros deixe mais de metade da população à boleia.

É ponto assente que estes chefes religiosos sauditas, filhos de mulheres com os ovários bem protegidos, não cuidaram da parte do cérebro que não está sujeita a pressões, mas apenas a ideias e se lá se depositaram estas sobre os ovários o cérebro vai ficou inundado delas, impedindo a captação de outras.

Só uma sociedade de tipo tribal, retrógrada, a raiar o Califado, é capaz de semelhantes atoardas contra a cultura, a igualdade e a vida em comunidade.

Os dirigentes do Estado Islâmico para além das ajudas em espécie podem encontrar nestes paladinos da proteção inspiração para imporem o seu reino de terror.

São estes dirigentes que, no início do ano degolaram quarenta sete opositores, que fazem chorudos negócios com o Ocidente. E a quem os EUA, A França, a Alemanha, o Reino Unido, a Itália e outros juram fidelidade de parceiros.

A Arábia Saudita pode gastar dinheiro em armamento como quem colhe areia no deserto e pegar nessas armas e distribui-las aos seus agentes na Síria, no Iraque, e pode enviar os seus aviões a bombardear o Iemen ou socorrer os seus pares no Golfo quando as ondas da democracia chegam àquelas paragens.

Este país tem uma riqueza enorme debaixo das areias do Sahara e uma pobreza incalculável de espírito e de civilização dentro das cabeças dos seus dirigentes.

As mulheres muçulmanas do Brunei que levaram no avião homens sauditas e outros , conduzido-os com a mesma segurança dos homens sauditas pilotos de aviação.

É quase certo que muitos homens sauditas teriam adiado a partido se soubessem que seriam pilotados por mulheres. Não era por nada, era por não quererem mal aos ovários das mulheres do Brunei…a compressão dos ovários a dez mil metros de altitude é terrível, mas terrível, terrível é a cabeça destes cavalheiros.

O Insuportável Peso da Ingerência dos Desalmados Schäuble e Moscovici!

A crise financeira provocada pela incapacidade do sistema financeiro de se conter e por ter erigido a especulação no seu modo de vida teve como consequência por parte dos Estados irem em socorro dos bancos impondo sacrifícios às populações fazendo-as pagar em boa medida essa crise.

A União Europeia que há muito virara o rumo para o liberalismo aproveitou o momento para se juntar ao FMI e fazer aplicar um vasto plano de austeridade e empobrecimento aos países mais débeis do ponto de vista económico.

Para salvar os bancos que tinham créditos de difícil cobrança através de avultados empréstimos conseguiu fazer chegar carradas de dinheiro a Portugal que logo saiu para as mãos desses credores aflitos.

Foram celebrados Memorandos de Entendimento que não eram mais que ordens sobre os governos que os assinaram. Viveu-se um período de ordem excecional. Os portugueses não mandavam em Portugal; se é que mandam.

Cumpridas as metas dos credores pensava-se que os mesmos se remeteriam ao seu papel de cobradores de dívidas.

Não é assim. A Comissão Europeia quer continuar a mandar em Portugal, independentemente da vontade do povo soberano.

Não há vontades soberanas; há diktates. Ou tomam medidas ou os mercados fazem as taxas de juro subir . Que interessou à chancelerina que os gregos tivessem rejeitado as imposições da Alemanha. Quem manda pode e quem pode manda. A Alemanha manda na UE.

E o Primeiro-Ministro de Portugal que se cuide – chegará na próxima quinta-feira o Sr Moscovici, um socialista francês, Comissário Europeu para as Finanças, para dizer onde António Costa tem de cortar. Mais nada.

Antes do socialista francês chegar o Sr Schäuble deixou claro que o governo de António Costa tem de cortar e continuar na linha do anterior. O senhor não quer saber de eleições, nem da vontade dos portugueses; o que lhe interessa é a Alemanha e os mercados.

A política que o diretório da UE está a fazer passar para os países é esta: podem continuar a fazer eleições que para nós o que conta é o que vocês têm de aplicar; mudem à vontade de governo, mas não pensem em mudar de rumo e de política.

Na UE não lugar para políticas que “irritem” os mercados. Mas não foi o sistema financeiro que criou esta crise? Foi, mas apesar disso eles mandam nas instituições da UE e nos chefes de governo de toda a EU.

Os mandões da EU passaram a tratar os países como se fossem devedores e a relação que pretendem estabelecer é a de não há outra linha de ação a não ser a definida pela Alemanha. Quem não aceitar o rigor alemão para os outros países irá à bancarrota, pois os mercados farão os juros dispararem e impedirem por essa via de ter acesso ao quer que seja.

Esta é a base da cooperação que a Alemanha, a França, a Holanda, a Finlândia e outros querem aplicar – ou aceitas ou aceitas – ; se não aceitas- rua!.

O anúncio na segunda feira do Sr Moscovici que irá fazer ver na próxima quinta-feira a António Costa e a Centeno para impor cortes é uma afronta a todo o povo português e aos partidos que aprovaram este Orçamento, a todos os patriotas.

Espera-se de todos os patriotas que o sejam. Os que esfregam as mãos de contentes porque a sua força não está em Portugal mas na capacidade dos credores esmifrarem os portugueses que se lembrem que a vida de uma nação está muito para além de um Tratado, de um diktat ou de uma relação comercial.

Portugal pode vir a ter problemas muito sérios e graves. Pode ficar durante algum tempo à mercê de alguns agiotas burocratas sem alma; lá poder pode. Mas não será para sempre. Alguém há de dizer que não. E vai dizer. Esta UE não serve. Ou de outro modo serve para os grandes imporem aos pequenos as suas ordens e a alguns portugueses feitos com esses donos de tudo isto viverem dos sacrifício e da desonra imposta a uma pátria com mais de novecentos anos.

Mas isso será uma parte da História. A outra que está por fazer e está nas mãos dos portugueses mais cedo ou mais tarde será outra. Ai daqueles cuja força política provem dos agiotas. Ai o destino!