Vítimas Inocentes

 As vítimas inocentes dos atentados hediondos dos terroristas criminosos do Daesh em Paris, em Nice, em Bruxelas, em Berlim  e em Londres fizeram estremecer a opinião pública mundial.

Monarcas, Presidentes da República, Primeiros-Ministros, autoridades religiosas tomaram posições fortes de condenação de semelhantes barbaridades.

Todos sentimos repulsa pela morte de gente cujo crime era ir buscar o filho ou comemorar o aniversário de casamento ou festejar o encontro de namorados ou passear àquela hora naquela ponte sobre o Tamisa.

Como se pode matar por matar, ainda por cima no coração de Londres, ao pé do Parlamento… o que explica (se é que há explicação) a conduta do homem nascido no condado de Kent? Era um louco, um terrorista?

Os mortos de Londres levam-me a outros mortos, a dezenas de milhares de mortos.

Em 2003, em 16 de março, há quatorze anos, José Manuel Durão Barroso recebia nos Açores o inglês Tony Blair, o norte-americano George W. Bush e o espanhol Aznar.

Foi ali que se iniciou o “momento zero” que conduziu à guerra e à invasão do Iraque contra o direito internacional e à margem da ONU.

A guerra provocou a morte de centenas de milhares de mortos (os números vão de 150.000 a 1.000.000). Dezenas e dezenas de milhares de inocentes.

Guerra é guerra, dirão alguns.

Mas aquela guerra fundou-se numa brutal mentira e foi em nome de uma mentira que se criou o terreno para uma guerra ilegal, injusta, suja e que levou o Médio Oriente ao ponto em que se encontra.

Não têm perdão os terroristas que a frio matam com um carro ou camião ou com faca ou a tiro.

E têm perdão os mais poderosos que do alto dos seus aviões ordenaram a matança dos iraquianos e dos afegãos?

É nesta a angústia que o mundo está mergulhado.

Como podem os mortos, a quem lhes foi roubada a vida de modo infame, serem considerados todos iguais?

Se não dermos conta que um iemenita ou um sírio ou um marroquino é um ser humano como um inglês ou um francês ou um romeno talvez não consigamos compreender que o mundo se tornará num local absolutamente explosivo onde o outro é de outro mundo e entre nós e os outros só poderá haver a barreira da morte.

Homenageemos os “nossos” mortos, sem esquecer todos os mortos que morreram inocentemente, os que iam do seu trabalho para casa em Faluja ou em Londres ou em Nice, ou em Berlim ou em Bagdad. Em todo o lado. Se queremos um mundo mais humano e justo.

Kim Jong Un Acredita numa Vitória Nuclear sobre os EUA?

O último teste nuclear da Coreia do Norte (09/09/2016) confirma a persistência daquele país em atar os dirigentes norte-coreanos à corrida ao armamento nuclear.

Escrevemos aqui no Chocalho em 07/01/2016, a propósito do ensaio nuclear da altura, que há mais países que detêm a arma nuclear para além dos cinco do Conselho de Segurança. Israel, India, Paquistão detêm a arma nuclear e não lhes foi imposta qualquer sanção e até hoje também não assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

Este Tratado tem na sua filosofia original a ideia do desarmamento nuclear quer na vertente vertical, quer horizontal, ou seja, desarmar os que já possuíam as armas, e nunca aceitar que outros viessem a ter.

O que está a suceder vai em sentido contrário. Os detentores das armas nucleares aumentam os seus arsenais ou substituem os existentes por outros muito mais sofisticados podendo com menos armas aumentar a sua capacidade destruidora.

Por outro lado há países que à margem do Tratado se equiparam com essas armas. Repare-se que nem os EUA, nem a China, nem a Rússia, nem a França, nem a Grã- Bretanha ergueram um simples dedo para condenar Israel por possuir a arma nuclear.

O Paquistão e a India estão também eles ao abrigo de sanções e campanhas por terem estas armas.

A Coreia do Norte, que se encontra numa situação delicada do ponto de vista económico e que teme os quarenta mil militares dos EUA na Coreia do Sul, vem apostando na possibilidade de vir a ter ou já possuir a arma nuclear, argumentando que por essa via poder ser considerada um interlocutor de peso na Península.

Trata-se de uma argumentação falaciosa na medida em que o uso de armas nucleares está fora de hipótese, salvo num cenário que levasse ao desaparecimento da Coreia por inteiro.

A Coreia do Sul, na sequência do ensaio, prometeu destruir a parte Norte, deixando-a em ruínas. O Norte prometeu o mesmo em relação ao Sul. É um jogo perigosíssimo que por maus cálculos ou até por eventual erro entre os contendores poderá levar o mundo à beira da catástrofe.

Os dirigentes norte-coreanos melhor andariam em trabalhar para a reunificação do país, artificialmente dividido, melhorando as condições de vida do povo e levando propostas de paz que criassem condições para um diálogo que fizesse descer a tensão.

OS EUA têm armas nucleares no Sul e quatro dezenas de milhares de soldados no terreno. Acredita o líder coreano que o conflito com o Sul e os EUA se resolverá por via nuclear? Só um louco acredita…

A retórica militarista destina-se a consumo interno para justificar o estado de pobreza daquele país e simultaneamente conseguir por via negocial obter  concessões económicas que ajudem a melhorar a situação no terreno. A Coreia do Norte sabe que a Coreia do Sul tem um nível de vida muito mais elevado; tentando fazer eventualmente da arma nuclear uma base para aceder a outras vantagens económicas.

Por outro lado a mensagem intimida a elite do regime e amarra-a ao carro da corrida às armas por parte do dirigente máximo, Kim Jong Un.

Ele tem o partido e as forças armadas na mão. Os que se opuseram foram eliminados.

Melhor seria trilhar outro caminho – o da unidade nacional forjada nos cidadãos com direitos e não súbditos de uma monarquia.

Blair – Desprezível

O relatório Chilcot sobre o papel de Tony Blair na invasão do Iraque é elucidativo  do desvario de dirigentes como George W. Bush, Tony Blair, Aznar e os sargentos-ajudantes Barroso e Portas.

Esta comandita logrou levar a cabo destruição do Iraque, semeando choque e pavor, arrastando para o caos o Médio-Oriente, o mundo árabe e o muçulmano.

Só mentes perversamente doentias e passíveis de responsabilidade criminal o fariam, tal o grau e a intensidade do dolo na preparação e na execução da guerra.

A guerra ceifou a vida a pelo menos cento e cinquenta mil iraquianos, segundo o relatório John Chilcot. Transformou o Iraque num inferno.

Criou condições para o aparecimento do jiadismo e a organização bárbara do Estado Islâmico.

Sem a guerra, o mundo árabe enfrentaria sérios problemas que se arrastam há décadas, mas não viveria esta desordem sem fim à vista que vai consumindo vidas por ações terroristas que continuam a ameaçar tudo e todos.

A vida no Iraque, no mundo árabe e muçulmano, é hoje bem pior de ser vivida que antes da invasão.

O mundo é muito mais inseguro.

Além de que a fundamentação para a guerra não passava de uma mentira repetida até á exaustão. Portas viu as armas de destruição massiva, regressado, então, dos EUA. Barroso, outro que tal, abriu os Açores à infâmia, hospedando os aventureiros do belicismo, envergonhando o país de Abril.

Espanta que Blair venha agora dizer que o mundo é mais seguro. O sentido de honra deste cavalheiro é próprio daqueles seres desprezíveis que abundam nas obras de Shakespear. Blair e Cª povoarão as páginas da História como seres desavergonhados ao serviço dos fabulosos lucros do mundo do petróleo.

Que ninguém se esqueça: A guerra violou a Carta das Nações Unidas, sendo ilegal. Barroso e Portas portaram-se como sargentos-ajudantes do trio dos fora da lei: Bush, Blair e Aznar. Envergonhando Portugal.

Os Nossos Mortos de Bruxelas e os Deles de Lahore

Os nossos mortos valem a nossa revolta e o nosso choro. Os mortos inocentes de Bruxelas que iam apanhar os aviões ou o metropolitano morreram às mãos da barbárie.

E o mundo parece ter parado com as explosões das bombas que os suicidas detonaram. O mundo ocidental ergueu-se como um só a condenar os atentados e a dar conta do que é preciso fazer evitar mais atentados.

Cameron, Hollande, Putin, Obama, Rajoy, Junker, Costa, Marcelo , todos à uma, levantaram-se para manifestar a sua indignação pelos mortos de Bruxelas.

Foram crianças, idosos, jovens e homens (cerca de trinta e dois, incluindo os terroristas que também são seres humanos) que pereceram apenas porque naquele dia, àquela hora iam fazer o que tinham de fazer.

Tudo aconteceu ao raiar do dia 22 de Março na capital das instituições europeias às mãos de jovens belgas, alegadamente convertidos ao Islão.

A dor dominou esta Europa que acabava de se fechar para recambiar os refugiados e desterrá-los para a Turquia e desta para a origem.

Na manhã de domingo de Páscoa lá longe, em Lahore, no Paquistão uma bomba matou setenta e duas pessoas vinte e tal crianças) todas festejando a Páscoa.

Segundo Paulo de Tarso, mais conhecido no mundo cristão por São Paulo, na Epístola aos Gálatas dizia …” não há judeus, nem gregos, porque sois um em Cristo…” Mas isso foi há mais de dois mil anos.

E agora há mortos e mortos. Os nossos e os deles.

Há os mortos que põem o mundo totalmente alvoraçado. E há os mortos que merecem uma notícia de roda pé, mesmo sendo irmãos em Cristo.

Segundo São Paulo os homens são todos um em Cristo. Porém para este mundo cristão não é bem assim.

Bruxelas é o quartel da NATO e sede da União Europeia.

Lahore é uma cidade do Paquistão muçulmano e os mortos de Lahore não têm o mesmo estatuto.

São mortos longínquos, ainda se fossem dos EUA ou do Canadá…

Há uma espécie de “ os nossos mortos” e há os deles.

Se um palestiniano for morto, à queima-roupa, por um judeu é normal.

Se um bombardeamento dos aliados dos EUA acertar em cheio num hospital e morrerem dezenas de afegãos é um dano colateral.

A emoção e a dor não é a mesma porque eles não são “ os nossos mortos “ . São os deles.

Há mesmo muitos cristãos que invocam Cristo para o que lhes serve, esquecendo as palavras de Paulo de Tarso.

Mortos. Mortos de primeira e mortos que nem vale a pena lembrar, como os de Lahore, ou do Afeganistão ou da Palestina… Não são “nossos”. São deles.

Ensaio Nuclear na Coreia do Norte Contra Quem?

O ensaio nuclear (bomba de hidrogénio?) da Coreia do Norte é um novo passo do líder coreano, neto do “grande líder” e filho do “querido líder”, para aprisionar os militares ao regime envolvendo-os nesta corrida ao armamento nuclear num país onde as raízes matam a fome aos camponeses famintos.

Com mais este passo no caminho da loucura absolutista Kim Zong Un pretende apresentar-se como um grande senhor da guerra, bem sabendo que nunca será com bombas atómicas que logrará a reunificação daquele milenar país dividido artificialmente depois da guerra da Coreia.

Kim Zong Un sabe que quanto mais longe for nos seus gestos de separação da Coreia do sul mais se resguarda de qualquer alteração ao sistema de poder dinástico.

Um país que se diz socialista nunca em circunstância alguma alardearia como pergaminho a capacidade de iniciar uma guerra com os vizinhos. Pelo contrário faria das propostas de paz e reunificação o estandarte distintivo do país por comparação com o sul repleto de dezenas de milhares de soldados dos EUA. Foram estas as melhores tradições do Vietnam e de outros países cuja orientação reclamada era a do socialismo.

Um pequeno país cheio de enormes problemas agravados por catástrofes naturais que infernizam a vida da população precisa de concentrar os seus meios no melhoramento da vida do povo e no seu desenvolvimento, o que não é a marca do novo líder que parece acreditar que quantos mais ensaios nucleares fizer mais força julga que terá; vã ilusão…

Os ensaios não vão esconder nem a natureza do regime, nem o temor por todos quantos rodeiam o líder, incluindo os mais próximos.

Aprisionando os outros dirigentes ao carro da retórica belicista o líder da Coreia do norte acredita que resolve a imensidão das contradições internas. Engana-se. Está a aumentar a revolta. É da história.

Há no mundo atual outros senhores da guerra que se chocam com os ensaios nucleares da Coreia do norte, mas não os incomoda a política de Israel que ocupa contra Resoluções do próprio Conselho de Segurança da ONU territórios palestinianos e que detém a arma nuclear. Sinais do mundo onde os poderosos desenham a legalidade a seu jeito.

Pode a Morte Vencer a Vida?

As guerras têm como objetivo matar a maior quantidade de pessoas ou destruir o máximo possível do outro.

Quando  alguém mata há vidas que se vão e algo que morre dentro de quem mata. Destrava-se o travão que há em todos os seres humanos para não matar. E morre a coragem de não matar. Passa a viver dentro do que foi educado para não matar a pulsão sem controlo para matar. Quando se perde esse travão a morte passa a vencer a vida.

Todas as balas, bombas e obuses que os EUA despejaram no Iraque quando o invadiram para derrubar Saddam Hussein mataram muitas dezenas de milhares de pessoas, sendo que a esmagadora maioria delas nada tinha a ver com Saddam. Estavam em suas casas, na rua, no café, no talho, na mesquita, algures. E do alto do céu, como chuva, chegou a morte.

Outras vezes chegou das armas de quem assaltava as casas à procura de inimigos que eram quase todos e quase ninguém.

Segundo algumas fontes mais de meio milhão de mortos; segundo fontes próximas do Reino Unido e EUA cento e quinze mil mortos.

São muitas dezenas de milhares de pessoas que foram mortas por serem iraquianas. Muitos por serem soldados de Hussein, outro(a)s por serem iraquiano(a)s. George W. Bush festejou o enforcamento de Saddam Hussein que era também um ser humano e um crente como ele.

De tanto matarem os americanos e os ingleses tornaram a morte em Bagdad , em Faluja, em Tikrit, em Bassorá, uma coisa normal. O cheiro a morte tornou-se uma espécie de respiração.

Os iraquianos e os muçulmanos também morreram com aqueles mortos e de entre muitos dos que não morreram a cegueira tomou conta das suas vidas a pontos de elas deixarem de ter valor ou passarem apenas a ter o valor de um instrumento para chegarem ao paraíso se matassem os que são da mesma raça dos que mataram antes.

Afinal o ditador era ditador como tantos outros que há no mundo e que vão à Casa Branca cheio de honras; alguns, vizinhos de Bagdad e de Damasco. E nem sequer tinha as armas que juraram que tinham e que foram vistas por gente “insuspeita”…

Seguiram-se outras carnificinas umas diárias na Palestina; outras a conta-gotas, derrubando e assassinando Kadafi e no Iemen enchendo o país de mortos com as armas do Ocidente nas mãos dos sauditas.

Uma vez mais a morte a ser a rainha da vida. Sempre os aviões carregados de metralha a deixar todo o espaço para os abutres que se apoderavam e levavam a cabo a razia que vem do mais antigo da maldade humana.

Antes destas desgraças não haveria felicidade, mas havia uma esperança que a vida pudesse mudar entre eles todos- iraquianos, líbios, sírios, iemenitas, tunisinos…

O certo é que tanta morte puxou a morte para cima da vida e a vida transformou-se num corrupio de mortes, um pouco por todo o lado.

Os fanáticos da morte, os que se diziam superiores em civilização, desencantaram a morte e foram de encontro a esse desígnio de todos os que desprezam a vida.

Os mortos de Kandahar, de Belém, de Gaza, de Faluja, de Alepo, de Bagdad, de Cabul, de Sitre, de Tripoli, de Tunis, de Aden, de Raca, de Palmira, são de gente como toda a gente que é gente. Um cemitério sem fim de mortes.

O judeu que matou Isac Rabin era branco. E os franceses que mataram no Bataclan eram cidadãos da República francesa. E o norueguês que não se cansou de matar jovens numa ilha daquele país era tão europeu como foi Hitler.

Os massacres de Paris são pura e simplesmente horríveis por terem assassinado gente que desfrutava a vida no Stade de France, no Bataclan ou num restaurante.

Como todos os inocentes de Faluja, de Bagadad, de Gaza, de Tunis, de Damasco, de Tripoli, de Aden…. E parece que não.

Os que ordenaram os ataques e as invasões não choraram por aqueles seres humanos mortos que iam a passar quando caiu o obus e a bomba ou quando rezavam na mesquita, ou quando se divertiam a beber o chá de menta, ou quando viram as portas de suas casas arrombadas e mortos os familiares suspeitos de não quererem os americanos e os ingleses a ocupar a sua terra como não quereriam os ingleses e os americanos.

Há mortos e mortos, tal não impede que os mortos inocentes não reclamem do mais fundo dos vivos a normalidade de matar como os que mataram. A Humanidade está a habituar-se a matar, quando a guerra já foi proibida na Carta da ONU.

Matar tem de ser a coisa mais horrível; só em legítima defesa. Só diante da agressão iminente. Só. E não porque naquela terra há riqueza e um pretexto.

Imaginamos a dor dos franceses. Deve ser terrível. Seguramente. Em Tunis estava uma compatriota nossa que foi traiçoeiramente assassinada e em Paris também.

Nas cidades do Iraque, do Iemen, da Líbia, da Palestina, da Tunísia, de Israel, da Síria há dezenas de milhares de pessoas inocentes mortas. Que ninguém esqueça as de Paris, Copenhaga, Bruxelas, Londres, Nova Iorque e as de todo o mundo muçulmano. Diante de deus, seja ele qual for,  essas pessoas são todas irmãs e aos olhos da Humanidade são todas iguais, mesmo que não pareça. Que o travão trave a mais terrível pulsão dos humanos. Que a morte não vença a vida.