O último teste nuclear da Coreia do Norte (09/09/2016) confirma a persistência daquele país em atar os dirigentes norte-coreanos à corrida ao armamento nuclear.
Escrevemos aqui no Chocalho em 07/01/2016, a propósito do ensaio nuclear da altura, que há mais países que detêm a arma nuclear para além dos cinco do Conselho de Segurança. Israel, India, Paquistão detêm a arma nuclear e não lhes foi imposta qualquer sanção e até hoje também não assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.
Este Tratado tem na sua filosofia original a ideia do desarmamento nuclear quer na vertente vertical, quer horizontal, ou seja, desarmar os que já possuíam as armas, e nunca aceitar que outros viessem a ter.
O que está a suceder vai em sentido contrário. Os detentores das armas nucleares aumentam os seus arsenais ou substituem os existentes por outros muito mais sofisticados podendo com menos armas aumentar a sua capacidade destruidora.
Por outro lado há países que à margem do Tratado se equiparam com essas armas. Repare-se que nem os EUA, nem a China, nem a Rússia, nem a França, nem a Grã- Bretanha ergueram um simples dedo para condenar Israel por possuir a arma nuclear.
O Paquistão e a India estão também eles ao abrigo de sanções e campanhas por terem estas armas.
A Coreia do Norte, que se encontra numa situação delicada do ponto de vista económico e que teme os quarenta mil militares dos EUA na Coreia do Sul, vem apostando na possibilidade de vir a ter ou já possuir a arma nuclear, argumentando que por essa via poder ser considerada um interlocutor de peso na Península.
Trata-se de uma argumentação falaciosa na medida em que o uso de armas nucleares está fora de hipótese, salvo num cenário que levasse ao desaparecimento da Coreia por inteiro.
A Coreia do Sul, na sequência do ensaio, prometeu destruir a parte Norte, deixando-a em ruínas. O Norte prometeu o mesmo em relação ao Sul. É um jogo perigosíssimo que por maus cálculos ou até por eventual erro entre os contendores poderá levar o mundo à beira da catástrofe.
Os dirigentes norte-coreanos melhor andariam em trabalhar para a reunificação do país, artificialmente dividido, melhorando as condições de vida do povo e levando propostas de paz que criassem condições para um diálogo que fizesse descer a tensão.
OS EUA têm armas nucleares no Sul e quatro dezenas de milhares de soldados no terreno. Acredita o líder coreano que o conflito com o Sul e os EUA se resolverá por via nuclear? Só um louco acredita…
A retórica militarista destina-se a consumo interno para justificar o estado de pobreza daquele país e simultaneamente conseguir por via negocial obter concessões económicas que ajudem a melhorar a situação no terreno. A Coreia do Norte sabe que a Coreia do Sul tem um nível de vida muito mais elevado; tentando fazer eventualmente da arma nuclear uma base para aceder a outras vantagens económicas.
Por outro lado a mensagem intimida a elite do regime e amarra-a ao carro da corrida às armas por parte do dirigente máximo, Kim Jong Un.
Ele tem o partido e as forças armadas na mão. Os que se opuseram foram eliminados.
Melhor seria trilhar outro caminho – o da unidade nacional forjada nos cidadãos com direitos e não súbditos de uma monarquia.