Os nossos mortos valem a nossa revolta e o nosso choro. Os mortos inocentes de Bruxelas que iam apanhar os aviões ou o metropolitano morreram às mãos da barbárie.
E o mundo parece ter parado com as explosões das bombas que os suicidas detonaram. O mundo ocidental ergueu-se como um só a condenar os atentados e a dar conta do que é preciso fazer evitar mais atentados.
Cameron, Hollande, Putin, Obama, Rajoy, Junker, Costa, Marcelo , todos à uma, levantaram-se para manifestar a sua indignação pelos mortos de Bruxelas.
Foram crianças, idosos, jovens e homens (cerca de trinta e dois, incluindo os terroristas que também são seres humanos) que pereceram apenas porque naquele dia, àquela hora iam fazer o que tinham de fazer.
Tudo aconteceu ao raiar do dia 22 de Março na capital das instituições europeias às mãos de jovens belgas, alegadamente convertidos ao Islão.
A dor dominou esta Europa que acabava de se fechar para recambiar os refugiados e desterrá-los para a Turquia e desta para a origem.
Na manhã de domingo de Páscoa lá longe, em Lahore, no Paquistão uma bomba matou setenta e duas pessoas vinte e tal crianças) todas festejando a Páscoa.
Segundo Paulo de Tarso, mais conhecido no mundo cristão por São Paulo, na Epístola aos Gálatas dizia …” não há judeus, nem gregos, porque sois um em Cristo…” Mas isso foi há mais de dois mil anos.
E agora há mortos e mortos. Os nossos e os deles.
Há os mortos que põem o mundo totalmente alvoraçado. E há os mortos que merecem uma notícia de roda pé, mesmo sendo irmãos em Cristo.
Segundo São Paulo os homens são todos um em Cristo. Porém para este mundo cristão não é bem assim.
Bruxelas é o quartel da NATO e sede da União Europeia.
Lahore é uma cidade do Paquistão muçulmano e os mortos de Lahore não têm o mesmo estatuto.
São mortos longínquos, ainda se fossem dos EUA ou do Canadá…
Há uma espécie de “ os nossos mortos” e há os deles.
Se um palestiniano for morto, à queima-roupa, por um judeu é normal.
Se um bombardeamento dos aliados dos EUA acertar em cheio num hospital e morrerem dezenas de afegãos é um dano colateral.
A emoção e a dor não é a mesma porque eles não são “ os nossos mortos “ . São os deles.
Há mesmo muitos cristãos que invocam Cristo para o que lhes serve, esquecendo as palavras de Paulo de Tarso.
Mortos. Mortos de primeira e mortos que nem vale a pena lembrar, como os de Lahore, ou do Afeganistão ou da Palestina… Não são “nossos”. São deles.
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