Portugal, enquanto nação, tem oitocentos e setenta e três anos. A moeda única tem dezassete anos. O Banco Central Europeu tem dezassete anos e alguns meses.
Draghi, nascido em Roma em 1947, tem sessenta e nove, fez uma carreira como banqueiro; passou pela Goldman Sachs onde treinou intensamente para vir a ser o Governador do BCE, como aconselham as melhores regras dos mercados financeiros.
Draghi tinha pedrigree e os banqueiros convenceram a chancelerina que ele era o homem certo. Pelos vistos acertaram.
Quando o Senhor Mario Draghi veio à reunião do Conselho de Estado com a sua linda idade devia, no mínimo, respeitar a pátria de Afonso Henriques, de D. João I, de Gil Vicente, de Luís Vaz de Camões, de D. João II, do Infante D. Henrique, de Bartolomeu Dias, de Vasco da Gama, de D. João IV, dos Republicanos da revolução do 5 de Outubro, dos militares de Abril de 1974 e de José Saramago.
Por mais dinheiro que o onzeneiro junte à custa das desgraças dos povos e das pessoas simples como já o Mestre Gil tinha assinalado o destino deveria ser o do inferno, se houvesse justiça na Terra…
Por mais prosápia que o encarregado de zelar pelo dinheiro que se amontoa em Francoforte e escasseia em Atenas, Lisboa, Madrid e noutras capitais, a História não se apaga só porque o tem aquelas “virtudes “ de esmifrar os que não atingem estatuto dos descendentes de Bismark.
As palmadinhas da dona disto tudo e a pipa de massa que recebe anualmente não o deviam cegar a pontos de entrar no Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente da República de Portugal, e agir como procônsul da Alemanha, dado que Portugal não é nem uma freguesia da Ibéria, nem uma província do Império berlinense.
O sátrapa que veio com o poder que lhe conferiu a imperatriz da Europa não se coibiu de espalhar a mensagem dos troicanos, defensores do empobrecimento de Portugal e do enriquecimento da Alemanha, de uma vida austera para os portugueses e de uma vida à farta para os naturais do Império.
Tudo isso disse o onzeneiro, convidado de Marcelo, o irrequieto, agora em funções de Presidente da República.
É de crer que o sátrapa tenha, pelo menos referido, antes de ter pronunciado o discurso, ao mais alto magistrado da Nação portuguesa os traços gerais da comunicação e certamente a referência ao que o governo pode ou não pode fazer, sendo certo que nos termos da Constituição da República portuguesa (sim, Portugal tem uma Constituição) o governo de Portugal presta contas à Assembleia da República e, em última instância, ao Presidente da República.
Seria, portanto, de admitir que quem tem o dever de fazer cumprir a Constituição lhe lembrasse que por mais dinheiro que haja em Francoforte, Portugal ainda não é uma província do Império.
As palavras de reprovação da conduta do governo de Portugal logo foram aplaudidas por aqueles que não tendo a força para serem governo vão ao estrangeiro buscar essa força vinda do Império.
Sempre em Portugal houve quem se governasse servindo os interesses alheios aos interesses dos portugueses afirmando com todo o despudor que o futuro do país é empobrecer para se tornar competitivo e os poderosos poderem cá investir e levar a nossa riqueza para a esconder algures no Panamá ou em qualquer canto do Reino Unido ou da Holanda.
Barroso, Cristas, Passos e uns tantos embevecidos pela presença nos media aplaudiram-no.
Haverá sempre quem troque a História por uns milhões e por algum poder.
O que está em causa é mesmo o futuro. E a pergunta é: pode a nossa História, o nosso país, as nossas vidas serem tratadas deste modo? Pode alguém vir dizer-nos, em nome da Banca (que tem espatifado riqueza incalculável em benefício de umas tantas famílias e lesando países inteiros) o que podemos e não podemos fazer? Portugal é o quê? Ou já não é?
muitíssimo bem dito. e, a propósito, será interessante, deixar aqui um extracto do pósfacio de guerra junqueiro à sua própria obra “pátria”:
“(…) uma nação não é uma tenda, nem um orçamento uma bíblia. Ninguêm diz: a pátria do comerciante Araújo, do capitalista Seixas, do banqueiro Burnay. Diz-se a pátria de Herculano, de Camilo, de Antéro, de João de Deus. Da mera comunhão de estômagos não resulta uma pátria, resulta uma pia. Sócios não significa cidadãos. O burguês estúpido, perante as calamidades que nos assaltam, computa-as em libras, redu-las a dinheiro. Parece que se trata duma mercearia em decadência. Dívida flutuante, impostos, câmbios, cotações, alfândegas, cifras, dinheiro, nada mais. A ruína moral não entra na conta nem por um vintêm. Deve e há-de haver, eis o problema. Direito, Justiça, Honra, Pundonor,—palavras! Se o gigo das compras andasse farto e os negócios corressem, podiam encafuar Jesus Cristo na penitenciária e sua Mãe no aljube, que a récua burguesa, dizendo-se católica, não se moveria. O câmbio estava ao par.
Falir um banco, que desastre! Falir uma alma…—Mas que demónio é isto de falir uma alma?”
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