Conferência na Associação 25 de Abril

NO 40º ANIVERSÁRIO DA CONSTITUIÇÃO

LIBERDADE E JUSTIÇA!

A CRP garante aos portugueses no art.9º os direitos liberdades fundamentais, princípios basilares do Estado de direito democrático.

O art.2º declara que a República portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.

Os artigos 24 a 47 elencam os direitos e liberdades de natureza pessoal que usufruem os cidadãos portugueses.

Os artigos 48 a 52 enumeram os direitos, liberdades e garantias de participação política.

Os artigos 53 a 57 enumeram os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores; os artigos 58 a 62 os direitos e deveres económicos; os artigos 63 a 72, os direitos e deveres sociais.

Estes são os direitos, liberdades e garantias que os portugueses gozam.

Para os poder gozar têm a justiça para impedir os obstáculos à sua não realização.

Por isso o artigo 202, nº1 estatui …” Os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo.”

Esta ligação íntima como se pode constatar entre os direitos, liberdades individuais e os direitos sociais, económicos e culturais dos cidadãos é um elemento estratégico na lei fundamental do país.

Trata-se na verdade de um diploma que assegura a modernidade no sentido de afirmar o mais avançado que há nas sociedades, neste domínio.

Todas as constituições têm uma matriz ideológica; não há, ao contrário do que afirmam certos dirigentes do PSD e do CDS constituições sem ideologia.

Há seguramente algumas que consagram princípios liberais, social- democratas ou outros mais avançados do ponto de vista de uma democracia que abraça não só os direitos individuais como os sociais, económicos e culturais.

A direita quer um Estado mínimo, mas um Estado mínimo é o Estado liberto de deveres para com a comunidade e carregado de bónus para que o capital financeiro possa prosperar.

Um Estado que assegurasse aos donos dos colégios verbas para o exercício do ensino privado enquanto menosprezava a escola pública.

Claro que não têm a coragem de acabar com a escola; retiram-lhe a qualidade e deixam os mais desfavorecidos ainda mais pobres.

O mesmo se passa com a saúde, com os transportes, com a própria justiça de que aqui tratamos.

Para empobrecer os portugueses foi necessário empobrecer a Constituição; ela foi o baluarte contra os monstruosos cortes que o governo de Passos/Portas pretendia levar a cabo e alguns levou.

A Constituição enumera os grandes princípios e são os governos quem os tem que respeitar; ora já se sabe que é muito importante a natureza politico-ideológica de quem tem as rédeas do governo.

Não foi por acaso que o CDS votou contra esta Constituição e que no PSD, se pudessem, voltavam a revê-la para a tornar cada vez mais liberal e retrógrada quanto aos direitos económicos, sociais e culturais e à participação dos cidadãos na vida política.

Vale a pena abrir um parêntese para encararmos a CRP como sendo uma síntese do que mais avançado se tem legislado no mundo.

Ela incorpora as ideias de Iluminismo, da Rev. Francesa, das burguesias então revolucionárias, e as ideias de justiça social das revoluções apontadas ao socialismo.

Ela garante o exercício dos direitos e liberdades individuais e ao mesmo tempo integra os direitos da terceira e quarta geração.

É avançada porque considera que sem as liberdades individuais a sociedade fica amputada do seu oxigénio, e sem os direitos económicos, sociais e culturais a liberdade e a democracia ficarão mais vazias de conteúdo e definharão.

Incorporar o que de melhor cada revolução trouxe à humanidade é tornar inseparável o que pode ser separado, isto é, casar as liberdades com os direitos sociais, económicos e culturais, sem divórcio.

Com esta Constituição o povo português tem o caminho aberto para qualquer via de progresso que queira perfilhar.

A própria Constituição acontece na antecâmara da emergência de um novo mundo, a saída do mundo bipolar, para o mundo unipolar de curta duração dada a fase que atravessamos de crescente afirmação da multipolaridade.

Ela tem mantido ao longo destes quarenta anos em que o mundo tanto mudou toda a vitalidade e capacidade de manter a atualidade, o que confirma ser a verdadeira chave mestra do Portugal democrático.

 

II

Já vimos como à luz da CRP a liberdade e os direitos individuais são inseparáveis dos direitos económicos, sociais e culturais.

Cabe agora perguntar-nos respirando a liberdade como vamos de Justiça?

E vamos mal. Naturalmente que sem liberdade a justiça é coxa, mas mesmo desfrutando de liberdade podemos afiançar que a justiça vai muito mal.

Nos últimos quatro anos o governo do PSD/CDS veio agravar de um modo brutal o acesso à justiça, desde logo encerrando vinte e um tribunais, submetendo-se ao diktat da troika, o que levou que no interior de Portugal muitos concidadãos para participarem numa audiência tivessem que ir de véspera, pois quem não tivesse transporte próprio não tinha maneira de chegar no dia da diligência ou audiência.

Em certo tipo de situações a população para ir a tribunal tinha de andar mais de sessenta quilómetros.

Num país com tão grandes assimetrias entre litoral e interior, de tal ordem que um destes dias Portugal cai no mar tendo em conta o peso dos milhões de portugueses à beira mar, esta medida de fechar tribunais é um sinal claro de abandono do interior, num país já de si tão estreito.

Felizmente que o novo governo deu um sinal positivo para pelo menos reabrir alguns, faltando saber se para funcionar ou se para não se sabe bem para quê.

Mas para além disto há outras maneiras de impedir o acesso à justiça.

Uma delas é simples: encarecem as custas. Numa ação cujo valor seja 2.000€ paga de taxa de justiça 102€, cujo valor seja 8.000€ paga 204€, cujo valor seja 16.000€ paga 306€; a partir de 275.000€ até ao infinito a taxa de justiça a pagar é sempre 1.632€ e o restante a final.

Quem tiver uma ação no valor de 8.000€ ou 16.000€ tem de pensar na taxa de justiça 204 ou 306 € a pagar, mais honorários de advogados, mais despesas de deslocação e a possibilidade sempre presente de não correr bem, deve pensar se vale a pena; tanto mais quanto o devedor pode não ter com que pagar e a privatização das execuções das sentenças ser uma enormidade por este tipo de valores, pois para além das taxas de justiça tem de pagar ao agente ou solicitador de execução que não conhece e provavelmente nunca conhecerá… Isto se se recordam implementado pela Dr.ª Celeste Cardona, ministra da justiça do CDS, no governo de Durão Barroso, hoje sabe-se lá em que cargo… E a justificação foi a corrupção e as pendências; agora as coisas estão muito piores, encravadas nas pendências, quase não mexe, tudo bloqueado e quanto a corrupção as críticas saltam todas as semanas com este novo sistema.

O Estado demitiu-se de assegurar a efetivação da justiça.

Para que se compreenda as consequências da política de empobrecimento na vida comunitária, em termos de justiça, pensemos no que aconteceu ao incumprimento das prestações das famílias referente à habitação e à perda de alojamento; à perda do emprego e às possibilidades de uma vida com um mínimo de decência.

Neste período aumentou a criminalidade devido à falta de capacidade para muitos terem uma vida minimamente decente.

A fim de se ter uma ideia dos reflexos olhemos para a população prisional: entre 2010 e 2015 os reclusos passaram de 11.613 para 14.222, o que significa um aumento de 22.50%.

O Estado ao longo destes quatro anos do governo Passos/Portas ao atacar os mais desfavorecidos e a população em geral para proteger o regabofe do sistema financeiro (atolado em escândalos e corrupção) criou este estado de coisas.

Vale a pena reter a importância da CRP e do TC pelo simples facto que o governo resvalou para a ilegalidade, como atrás vimos.

Mas não há apoio judiciário? Sim, há, mas para quem não tiver um pardieiro e viver no extremo limiar de pobreza, para além das mil e uma exigências para ver se o desgraçado desiste do pedido.

Governamentalizaram o pedido de apoio judiciário, deixando a decisão ser de uma entidade independente que era o juiz, para passar a ser a segurança social que depende do governo e que naturalmente só conceder-se não tiver outra hipótese.

A pendência em cível é assustadora. Bate recordes.

Para se ter uma ideia no Reino Unido ou País de Gales uma ação cujo valor seja inferior a 10.000 Libras demora sete meses e acima desse valor um ano; na Alemanha quatro e oito meses; na França cinco e nove meses. Em Portugal anos, dois, três, quatro, sim acontece com frequência.

Recordo o livro do José Gil “Portugal Hoje, o medo de existir” e digo-vos que não estou a enveredar por aquele tipo de critica que fazem muitos dos nossos concidadãos que no fundo se colocam de fora desta “merda de país”.

Não. Estou aqui. Sei olhar e ver. Estou nos tribunais. Vejo o que me rodeia e tento mudar e não desisto, mas a verdade é esta: a justiça está má.

A privatização da nossa vida em comunidade olha a justiça e baba-se com as possibilidades. O Estado desiste. D. João II mandou enforcar os que em Bragança não queriam os juízes de fora; os senhores feudais queriam ser os donos da Justiça, se se abandonar os concidadãos os poderes reais das vilas do interior a justiça morre.

Dizem que há prejuízo; mas a justiça porventura foi feita para dar lucro? O facto de um pais realizar justiça é já por si um lucro incalculável porque fortalece a coesão social, torna a sociedade estável e faz com que os cidadãos confiem no país em que vivem.

Se não houver justiça ou se a houver mas for deficiente nasce a desconfiança e todos desconfiarão de todos porque os cidadãos são tratados de modo diferente ou não sentem que a justiça se realize e esse facto funciona como elemento desagregador da sociedade.

Não havendo coesão social em torno de objetivos que levem ao desenvolvimento social naturalmente que a crise não nos larga e com ela a dependência em termos económicos.

Se olhássemos em volta e víssemos que havia justiça todos se sentiriam pacificados, descansados porque viveriam numa sociedade de iguais e onde a justiça era aplicada a todos de igual modo.

Creio que estas circunstâncias contribuíram para levar os cidadãos a puxarem para o mesmo lado, ou seja, para bem da comunidade.

A justiça funcionando com respeito e em observância atempada dos princípios estabelecidos pela lei é um elemento fundamental para que reine a paz social, e sem paz social não há progresso.

Não estou a defender que a paz social não encerra conflitos, encerra e ainda bem.

Mas a resolução dos conflitos através da justiça é o modo como o Estado de direito democrático impõe o seu rigor e a sua imparcialidade.

Passos – o Conhecido Irritante

O PPD/PSD e o CDS/PP tanto insistiram que a sua governação era um caminho sem alternativa que vivem num enorme desamparo à espera que Bruxelas lhes dê um apoio na luta pelo retorno à austeridade e consequente empobrecimento.

Foram quatro anos de sucessivos apegos ao programa de empobrecimento e privatizações que não imaginam o país caminhar sereno no retorno à normalidade vivencial.

Passos e Portas com Assunção Cristas escolheram um caminho – entregar a riqueza nacional aos tubarões internacionais, garantir mão-de-obra barata e esperar que a pobreza dos portugueses se transformasse em enorme riqueza para os investidores.

Neste quadro os investidores internacionais e um ou outro indígena acorreria com os seus negócio criando emprego com baixos salários e sem direitos.

Passos garantiu fazer de Portugal o país mais competitivo do mundo; veja-se o devaneio ideológico do Senhor Doutor…à frente da China e das Ilhas Marshall.

A força do PSD/PPD e CDS/PP estava na troika e nalguns setores da burguesia compradora.

Tinha de ser assim em direção ao empobrecimento porque os mercados e a UE e o FMI o impunham. Tinha de ser. E não se pode dizer que fossem tolos de todo. O português, embora irreverente, é , em última instância, mais propenso a um certo individualismo que a uma ação conjunta que envolva a comunidade. Prefere ultrapassar o carro do Ministro e o compatriota antes de um sinal vermelho que confiar no companheiro de trabalho. E aguentou quatro anos; outros teriam aguentado menos.

Enfrentar Bruxelas exige muita força e perícia. E o resultado não era totalmente líquido. Mas Passos foi longe de mais. A maioria da população apesar de escaldada de promessas incumpridas deu corpo a outra maioria.

Passos começou a perder-se no labirinto da chantagem para impedir que se formasse o governo do PS com o apoio que tem. Vinha aí o fim do mundo. Tudo tinha sido em vão.

Apostaram, com o apoio de Cavaco, tudo na ideia que o PS não podia fazer acordos com os partidos à esquerda.

Portas saiu da cena partidária, mas abriram-lhe a porta televisiva. Qualquer dirigente máximo dos partidos de direita, quando abandona o cargo, tem lugar cativo nas televisões, vira arúspice como Marques Mendes.

Fazendo balanço dos seis meses de governo Passos classificou-se a si próprio como conhecido irritante realista; há momentos de lucidez na vida de todos os humanos.

Alega que enfrenta a realidade como contraponto a Costa. Ele enfrentou a realidade para a mudar para pior do ponto de vista da maioria da população. Enfrentou-a para favorecer os interesses do capital financeiro e infernizar a vida dos portugueses.

Costa também enfrenta a realidade: com os que querem dar por findo o ciclo do empobrecimento e contra os que como Passos insistem em manter essa triste rota.

Há um governo que estancou a política de empobrecimento, o povo respira melhor com o aumento do salário mínimo e a reposição dos feriados e das trinta e cinco horas, em breve.

Passos não aceita; irrita-se e proclama a sua fé no que fez, mesmo, segundo ele, que pareça irritante.

Passos está zangado e fica amargo. Quer o poder e como conhecido realista vê-lo fugir para longe. Até no PSD começa a pregar no deserto. Não foi à tomada de posse de Marcelo e declara agora que se deve levar o Presidente a sério…imagine-se.

Sobre a hipótese de Portugal sofrer sanções como resultado da sua governação encolhe-se e cala-se; deixa Assunção Cristas vir a terreiro “dar força ao PS”.

Encontrou a grande causa para quem quer diminuir as despesas do Estado – fazer o Estado pagar o ensino privado; aí já não há mercado. Deixou o laranja, virou amarelo.

É o que tem a dar ao país – uma irritação por não ser capaz de fazer o tempo voltar atrás. É pouco.

Passos esperava mais de Bruxelas, aliás os grandes “comentadeiros” agitam o espantalho da EU e da realidade, como se esta realidade fosse perene e imutável. Como se dentro da realidade não houvesse várias. Esperam que Bruxelas atue em nome do realismo dos mercados; dão eco às pressões de alguns ministros das finanças, desde logo o Senhor Dijsselbloem que por ser amigo do Sr Schäuble pensa que manda na Europa e em Portugal.Estes também pertencem à estirpe dos “realistas”.

Que a luta política leve dirigentes partidários a submeter-se a imposições desastrosas para Portugal é demasiado triste e inglório. E irritante.

Portugal e Angola: Relacionamento e Ingerências

As relações de Portugal com Angola são, no quadro de uma ampla diversificação das relações externas, um elemento chave de uma política de defesa dos interesses nacionais. Assim como as relações com os restantes países de língua oficial portuguesa.

São-no agora, como o foram desde a independência destes novos países. E face ao rumo de então, não foi nada pacífico o relacionamento com aqueles países sobretudo com Angola, levando ao caricato de Portugal ser um dos países que mais tarde reconheceu a independência daquele novo país.

Durante anos a fio PS, PSD e CDS estiveram unidos contra não só reconhecimento da independência, como mais tarde contra o desenvolvimento das relações entre os dois países.

Aqueles três partidos comprometeram-se no apoio à UNITA o que impedia o aprofundamento do relacionamento com a ex-colónia.

Por amor à verdade houve gente naqueles três partidos que se pronunciaram em sentido contrário ao das suas direções.

As relações com Angola estão muito para além dos governos por um conjunto de razões que qualquer português ou angolano compreende. Não saber ou não querer corresponder esta realidade é um péssimo serviço prestado ao país.

A machadada na UNITA com a morte de Savimbi e a reorientação de Angola criou novas possibilidades para em Portugal se reajustarem as políticas em relação àquele país.

O MPLA virou o seu azimute e abandonou muito do seu passado ideológico para se colocar hoje no campo das orientações neo liberais, o que nem, por isso, muda a importância das relações entre Portugal e Angola.

Ora não deixa de ser curioso e um pouco contra natura que o PCP ( o partido que mais lutou pelo reconhecimento pelo direito de Angola à independência e pelo desenvolvimento das relações com aquele país) apareça ao lado do PSD e CDS na Assembleia da República a propósito de um voto de reparo face às condenações dos ativistas angolanos “apanhados” a ler um livro na casa de um deles.

O partido que mais tem lutado e, em geral bem, para pôr governos na rua fazendo-os cair, não devia aceitar que fossem aplicadas penas de cadeia pesadíssimas para os angolanos oposicionistas do governo do MPLA , que nem sequer organizaram manifestações a pedir a sua queda.

Ora é preciso deixar claro que a solidariedade de homens e mulheres livres que se batem por princípios nucleares da vida em comunidade nunca poderá ser confundida com ingerência nos assuntos internos de outro país.

Quando alguém é condenado a pesadas penas de prisão por ter opinião diferente dos governantes e entender associar-se para refletir sobre essas opiniões o que se está a pôr em causa são princípios fundamentais em que devem assentar as nações.

Não é por acaso que os artigos 19º, 20º e 21º da Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhecem, como direitos inalienáveis, o direito de opinião, expressão, reunião e associação.

Ora o reparo face às penas, a reclamação pela carga das condenações, a exigência de um recurso limpo, sem ingerências do poder político é uma atitude de valor universal que não pode ser vista como ingerência, nem como solidariedade aos ativistas.

Não se pode exigir liberdade apenas para os que pensam de um certo modo; a liberdade é um bem para todos os cidadãos que a respeitam, incluindo para aqueles que pensam de maneira bem diferente dos governantes.

Ingerência nos assuntos internos de um país é que faz a cada passo o Senhor Schäuble quando pressiona o governo português a seguir as orientações de empobrecimento que ele pretende impor ao país e nem CDS, nem PSD se prestam a condenar semelhantes pressões e ingerências.

Os negócios de Portugal com Angola são muito importantes. Mas as negociatas entre gente dos dois lados para seu único proveito não são a melhor maneira de desenvolver as relações entre os dois Estados com base no respeito mútuo, na reciprocidade de vantagens e sem ingerências nos assuntos internos de cada um deles.

Quem tudo fez pelo reconhecimento da independência de Angola e pelo aprofundamento das relações entre ambos os Estados não deveria aparecer ao lado daqueles que estiveram sempre do lado de Savimbi, que tudo fizeram para que o MPLA não declarasse a independência e para impedir o aprofundamento das relações com o novo país.

Nem ao lado daqueles, no voto na AR, que fazem da pressão externa a sua própria força contra as aspirações do povo português a uma mais desafogada e com o mínimo de dignidade.

Quatro Notas sobre Congresso do PSD

1.A reforma da lei eleitoral…E a da Segurança Social. Se o PS se aproximar do PSD… Se…

Convenhamos que é quase nada. Um político que durante quatro anos foi o responsável máximo da ação governativa lembra-se agora, na oposição, destas reformas?

Quanto à reforma eleitoral só pode ter deixado o CDS desconfiado. Embora Assunção Cristas tenha elogiado a força de vontade do PSD…Uma farpa?

Quanto à da Segurança Social, Passos não larga o passado e volta para esconder o corte de seiscentos milhões atrás da palavra reforma.

2. Mas Passos Coelho “não se ficou pelas reformas”. Esmerou-se entusiasmado no ataque à reestruturação da dívida…ele que fez aumentar em mais de trinta por cento a dívida, transferindo-a dos privados para o setor público. Apresentou-se como um fogoso mandatário dos credores internacionais alegando toda a sua experiência como governante. E foi mais longe. Garantiu que tal não era possível, sem, contudo, mostrar procuração com tais poderes dos donos do dinheiro.

E a sua força foi toda para apoiar os credores, sendo ele um líder de um país devedor e ele próprio responsável com a sua política pelo aumento dessa brutal dívida…Chegou a enternecer aquela referência aos durões do FMI. O homem corajoso prega que o seu país cruze os braços e não faça nada. Apenas que ponha a cabeça no cepo…

Sempre, sempre ao lado dos donos do dinheiro. Passos Coelho nunca hesitou ao longo do seu consulado de governação e continua na mesma senda.

3.Outra nota de registo: está zangado com quase toda a gente e não entende Marcelo que não siga, como o Durão, o cherne de águas profundas, e navegue na espuma dos dias.

Ainda acordou a tempo e reconheceu que o governo afinal é mais consistente do que ele e o amargurado Cavaco inventaram para impedir a sua formação.

 

4.E dando pleno curso à sua coerência puxou para a ribalta do PSD a Sra Dra dos cofres cheios de nada.

A Sra Dra, promovida à Administração da Arrow Global, está na mira da opinião pública e dos deputados. Não se é da Administração da Arrow sem que isso não conte para a progressão no PSD; as coisas estão ligadas. Arrow e PSD ficam assim ligadinhos.

Apesar da gloriosa mentira dos cofres cheios a Sra Dra mal pegou no micro, imediatamente a seguir a Passos Coelho, a debandada foi geral. O que ia dizer estava requentado; tinha quatro anos de atraso. Até os congressistas estavam fartos daquele patuá.

Também ela está muito aborrecida com o que se está a passar em Portugal e do alto da sua inteligência fina só vê o tempo velho.

Passos e a Sra Dra estão encerrados no labirinto da estratégia do empobrecimento do país. Não são capazes de sair de lá. E não têm asas para outros voos. Gabe-se-lhes a teimosia.

 

 

 

O CDS em Reciglagem: Limpinho, Limpinho

Vivemos um tempo em que o presente se destina a fazer desaparecer o passado, incluindo o recente, a fim de criar no quotidiano uma nova mensagem cuja sustentação nada importa.

O CDS que esteve orgulhoso com o PPD/PSD no governo cuja linha era empobrecer os portugueses e durante quatro anos teve a responsabilidade direta da Agricultura e Pescas, da Economia, Segurança Social acabou de realizar o seu Congresso e eleger Cristas para substituir Portas.

Cristas foi uma importante ministra na coligação derrotada e Mota Soares o Ministro da Segurança Social, Pires de Lima na Economia e Portas Vice-Primeiro.

O CDS teve quatro longos anos para mostrar o que valia. Não mostrou nada que o diferenciasse do PSD; a única vez que o fez armou uma crise tremenda e trocou uma suposta diferença por um posto de Vice-Primeiro…De resto andaram juntinhos, juntinhos, no governo e no Prá Frente Portugal. Tudo limpinho, limpinho.

Cristas anunciou que quer uma reforma na Segurança Social…agora! É preciso lata, então que esteve a fazer no governo? A contra reforma.

Na Economia que fez para além da sobranceria na gestão das privatizações? E na Agricultura e Pescas?

O CDS esteve hibernado à sombra do PSD ou esteve a dirigir ideologicamente o PSD ou a fazer os dois papeis em simultâneo e acordou no Congresso para descartar implicitamente o passado criando um redemoinho de nada para esconder as pegadas políticas ao serviço do governo PSD/CDS.

O mais espantoso deste circo armado em Gondomar é o tratamento dos meios de comunicação social deste congresso. O “show must go on” e venha daí uma mulher com …”o passado a aplaudir o futuro…”

Alguém que tratou o PS abaixo de cão, que o ridicularizou até ao delírio, quer agora acordos com o PS na pasta que teve durante quatro anos? Vejam lá.

Que pensaria Passos Coelho de Assunção Cristas quando ouviu estas declarações? Que amigos que nós éramos…

Nova corrida, nova viagem. Foi embora o “jarrão chinês” devidamente equipado com visto e vem agora a mulher do passado com futuro, mesmo que o passado esteja em total contradição com o presente. O que conta é mesmo o poder. E para atingi-lo vale tudo. Incluindo juntar-se ao PS…para o CDS o PSD é coisa do passado se o PS quiser; se não quiser o PSD é o futuro de um partido que nunca assume que fez o que fez; só o que não fará.

Maria Luís no Sítio Certo à Hora Certa

A Dra Maria Luís de quem muito pouco se tinha ouvido falar, e que Passos Coelho descobriu, entrou na política com aquele ar triunfal e lampeiro de quem finalmente passou a pertencer ao Olimpo do poder.

A Sra Dra tem aquele ar meio-madalena-meio-atrevido de quem sabe ao que anda a fazer na vida e conhece o destino traçado no estágio governamental em direção a outros voos.

A ex-ministra das Finanças está a recolher a sementeira de experiência que colheu à frente das Finanças de Portugal (que ainda não é bem um conglomerado de empresas) e não passou despercebido à Arrow Global. Foi o que esclareceu o big boss da Arrow. Ela é uma mais- valia, disse ele.

O Sr Professor Vitor Gaspar não tinha aquele ar lampeiro; era mais reservado, fazia as coisas baixinho, pela calada. Um exemplo: nunca se saberá se tinha os cofres cheios como proclamou a Sra Dra …Se tivesse era como se não tivesse, dito de outro modo – se tivesse esperaria que o Primeiro dissesse o que se faria com tanta fazenda. A M. Luís é que dizia ao Dr Passos quando anunciava a boa nova.

A Sra Dra não era para meias tintas: os cofres estavam a abarrotar, cheias de cotulo, já lá não cabia um tostão…e até o Dr Portas se rendia à capacidade de encher cofres da Sra Dra.

Claro que para os cofres se encherem, de acordo com o princípio dos vasos comunicantes, alguém teria de ficar sem o vil metal, depois de Passos declarar o empobrecimento generalizado sacando parte do rendimento excessivo dos portugueses.

Havia que desnatar a parte do muito que os portugueses tinham para o entregar direitinho aos credores internacionais que faziam Cavaco Silva dormir mal porque para ele havia que pagar até ao último tostãozinho. E para repor os buracos astronómicos que os bancos foram criando ao serviço da sua nobilíssima atividade de confundir especulação com serviço de crédito. Com os bancos e com os credores não se brinca e muito menos se deve irritá-los… Um mercado irritado é bem pior que sabe-se o quê…Um tsunami. Talvez. Os mortos devido à miséria e fome assim o dizem.

Foi no consulado da Sra Ministra que foi concedido ao Banif as centenas de milhões de euros dos contribuintes portugueses fazendo chegar ao banco dinheirinho fresco dos cofres de cotulo para o Banif o espatifar em tudo o que se metia…

Claro que lhe foi fácil chegar a acordo com uma empresa benemérita como é a Arrow Global e vender-lhe uma quantidade de crédito mal parado por uma bagatela recuperando a bagatela e dando à filantrópica Global uma soma a sério, tipo uma pipa de massa.

Naturalmente que uma generosidade deste calibre não passou despercebida à Arrow que a foi recrutar para os seus quadros com vencimento superior ao de deputada, cem mil euros anuais, bem abaixo das suas possibilidades.

O que são cem mil euros por participar em meia dúzia de reuniões comparados os quinhentos euros por trinta dias de salário, cento e sessenta horas de trabalho…nada. O mundo é para quem nele sabe subir…como se pode subir com quinhentos euros? Não se pode, só descer aos infernos da vida.

A Sra Dra mantem-se no seu lugar da AR na medida em que não lhe passa pela cabeça que os seus patrões da Arrow lhe exijam em fidelidade ao empregador, pois é certo e sabido que a Sra Ministra sabe que na Assembleia da República não tem esse problema porque o Dr Ferro nunca lhe apresentou o patrão e não o fará, daí só ter um a quem pode eventualmente ter dever de lealdade.

A Sra Dra é uma cidadã tão acima de qualquer suspeita que não compreende a atitude algo invejosa do seu correligionário Marques Mendes que a criticou no quadradinho da SIC.

Nem compreende o azedume de Manuela Ferreira Leite que sem qualquer sentido de fura-vidas achou que a Dra M. Luís não era possuidora de bom senso, quando ela sempre considerou que o bom senso lhe impunha o dever de receber mais de cem mil euros por ano sem cortes, tendo em conta que aquele dinheiro embora indiretamente tenha proveniência do setor público (considerando o que a Arrow ganhou no Banif) a verdade é que o dinheirito não virá do Estado, mas sim da City.

A Dra Ferreira ainda esperou quase um ano para ir para a administração do Santander… uma questão de meses para aquilatar do bom senso.

No fundo, bem no fundo, a Dra M. Luís não fez mais que investir no cargo governamental e de acordo com o empreendedorismo apregoado por Cavaco e Passos Coelho rentabilizá-lo no serviço privado.

A ela, ao Prof Vitor Gaspar, na esteira dos grandes patriotas Catroga, Mexia, Ferreira do Amaral, Murteira Nabo, e tantos outros excelentes gestores, o que interessava era não deixar escapar a oportunidade e, por isso, estavam à hora certa, no local certo, á espera do carteiro – felizmente a carta chegou. E temos administradora. Voilá.

 

Tempo Novo, Tempo Velho

Costa após o acordo com o BE e o PCP que permitiu ao PS formar governo falou de um tempo novo, de enterro do tempo velho de perseguição aos rendimentos da esmagadora maioria da população; de medo face a um futuro de pobreza e de uma vida sem o mínimo de dignidade.

Mas não se pode construir um tempo novo repetindo comportamentos que são próprios do tempo velho tal como aconteceu nas últimas três eleições presidenciais.

O PS a certa altura deixou o combate pelas presidenciais correr ao deus dará. Borregou. O partido não entrou na batalha; deixou as coisas correrem como se a eleição de Marcelo não fosse uma volta ao tempo velho.

As armas que o PS tinha ficaram nas sedes do partido guardadas para não se sujarem. Sampaio da Nóvoa parece que teria o apoio que não teve.

Maria de Belém ao candidatar-se a Belém resolveu como Fernando Nobre nas últimas tornar um combate tremendamente difícil numa batalha praticamente perdida.

Aliás como Mário Soares fez nas que Cavaco ganhou pela primeira vez, avançando contra o seu amigo e camarada Manuel Alegre.

Parece que passou a fazer parte do ADN do PS assobiar para o ar e deixar a direita ganhar com a vã ilusão de que o PR não obstaculize a ação do governo.

Costa encarou as presidenciais como algo verdadeiramente anómalo: umas primárias para que na segunda volta o PS votasse n@ candidat@ que passasse…só que não passou porque o PS ficou à espera do desfecho da batalha de Alcácer Quibir…

Ora o que aconteceu foi que uma das figuras mais apodrecidas viesse do túnel do tempo velho para ser “dona” do Palácio de Belém; do velho tempo em que sempre bajulou os poderosos desde Caetano ao inefável João Jardim ao Ricardo Espírito Santo aos administradores do BANIF e tutti quanti neste país tiveram grande parte do poder nas mãos.

E pode haver neste enredo do tempo quem não queira ver, apesar do invocado tempo novo, que Marcelo venha envenenar este tempo novo para fazer regressar o velho.

Marcelo não é uma figura coerente nem em quem se possa confiar. Tem uma longa vida a comprová-lo. Não é personagem para mudar o chip. Para chegar onde chegou fez um longo percurso sempre a favor dos poderosos. Sempre. Antes e depois do vinte e cinco de Abril.

Os resultados dentro das forças que apoiam o governo não foram famosos, salvo os do BE. Porém como é bom de ver não são estes resultados que transformam a política austeritária, derrotada nas urnas há escassos três meses, numa política ao serviço do povo e da economia de desenvolvimento.

O ânimo que a vitória do candidato apoiado pela direita possa ter dado ao PSD e CDS e as dificuldades que tal resultado possa ter trazido ao PS e PCP e ao conjunto dos apoiantes do governo pode vir a ser um mau presságio.

O tempo novo que António Costa falava não se extinguiu com a vitória de Marcelo. O regresso do tempo velho a Belém que a eleição presidencial protagonizou é favorável às forças que o urdiram.

Em Belém nos últimos dez anos esteve o principal obreiro do tempo em que o governo esmifrava os mais desfavorecidos e enchia os bolsos dos banqueiros com o dinheiro dos portugueses.

O PS sai muito mal destas eleições repetindo os erros do passado; o PCP não soube aproveitar a ocasião insistindo numa política sectária que levou ao que levou.

A tirada de Jerónimo de Sousa acerca de arranjar uma engraçadinha não lembra ao diabo e dá nota do desnorte após o ato eleitoral…e a incapacidade de compreender os tempos. Veio a seguir uma desculpa esfarrapada tal a dimensão do disparate. Perder nunca é bom, mas não há quem não perca. É fundamental saber perder e tirar as conclusões certas de uma derrota. Ser derrotado daquela forma e afirmar que está tudo certo…

Bastava olhar para a votação do Tino de Rans para perceber que o eixo da atuação tem de mudar para se ser compreendido.

O PS pode ter ilusões sobre o papel do comentador eleito Presidente no que se refere à relação com o governo. Mas o tempo novo que se abriu há poucos meses não está garantido.

A turbulência faz parte das viagens; os pilotos sabem como lidar para evitar desastres. A viagem será longa e seguramente haverá muitas turbulências. O tempo novo vai exigir muita coragem e inteligência para não ser um biombo para esconder o tempo velho.

Que Marcelo com a sua astúcia e maquiavelismo não seja capaz de sabotar este tempo é que desejam todos os construtores de um tempo novo.

Ai de quem der o primeiro passo para o regresso do tempo velho, o tempo em que o governo e os banqueiros e seus amigos encontravam em Belém um pilar de apoio.

A Falta de Maria de Belém

Maria de Belém faltou ao debate com todos os candidatos e que teve lugar na RTP1. Justificou alegando que se sentia chocada com a morte do seu apoiante, o Dr Almeida Santos.

O cargo de mais alto magistrado da nação deverá ser entregue a quem, em última instância, seja o último recurso de disponibilidade para servir o país.

Quem for Presidente da República tem sobre si o peso das tristezas do país e a satisfação das alegrias de Portugal. É nas horas de dor que se mede a coragem de ser o mais alto magistrado da nação.

A estatura da pessoa que desempenhe o cargo certamente viverá à sua maneira as emoções de dor e de sacrifícios próprios e de outros, como é timbre de cada ser humano. Mas é o vértice da República que fecha o triângulo. É o último a sucumbir. É o último amparo. É a última e a primeira voz de Portugal. É o que dá o passo para defender a pátria e a nação portuguesa.

Num momento de tantas carências para os portugueses, quem for para o cargo deve manifestar disponibilidade para compreender esses sacrifícios. Não pode de cima do império da lei assegurar subvenções vitalícias ao fim de uns tantos anos de exercício de cargo político e olhar para baixo (de cima dessa lei) e não enxergar a pobreza que invade o país.

Marcelo, o Trambiqueiro

Pode o mais alto cargo da nação vir a ser ocupado por um trapalhão cujo caminho até hoje percorrido foi sempre pleno de ziguezagues de acordo com os ventos dominantes?

Marcelo Rebelo de Sousa tem todo um passado político que atesta à saciedade a sua postura farisaica. Uma roda ao vento. Um esfomeado de poder. Um homem de coluna dúbia.

Em plena ditadura fascista, nas suas cartas aos ditadores Salazar e Caetano, assumia-se como um admirador e em relação ao último como um impostor afirmando-se irmanado no combate ao Congresso da Oposição de Aveiro em 1973.

Estendia-se como serventuário diante daquelas sinistras personagens que dirigiram a opressão e a repressão do povo português. Porquê? Porque os admirava de todo o coração, como aliás escrevia. Ou então não e passava graxa aqueles cavalheiros para fins que se adivinham.

Na Faculdade de Direito ocupada pelos gorilas para lá enviados para “pacificar” as populações nunca lhe foi conhecido um ai ou um ui.

Veio a liberdade e a democracia e Marcelo saltou para o PPD/PSD onde se guindou ao mais alto poleiro. Ficou conhecido como maquiavélico e intriguista. A rivalizar com o Paulo Portas então iniciante na corrida ao poder varrendo o CDS e desenterrando as suas iniciais para o seu “novo” partido, o PP.

Zangaram-se. Marcelo abandonou a liderança do PSD, a tempo de votar contra o SN Saúde. Teve grandes disputas com o inefável Santana Lopes. Nunca chegou a realizar o sonho de ser Presidente da Câmara de Lisboa, nem o de Primeiro-Ministro.

Quanto a Presidente da Câmara nem com uns mergulhos no Tejo lá chegou.

Quanto ao sonho de ser Primeiro-Ministro ao que consta é que ficou muito chocado por não o ter sido quando outras figuras do PSD bem menores em termos intelectuais o foram. Coisas que ele não entendeu, nem entende.

Como é timbre do sistema a todos os ex – dirigentes do PSD e alguns do PS as televisões chamaram-no para debitar postas de opiniões sobre matéria à qual tinha chumbado, como seja o de ser incapaz de ser o que queria ser na Câmara de Lisboa e em S. Bento.

Estenderam a Marcelo uma passadeira vermelha para aos fins-de-semana ir fazer de conta que era um independente e falar de tudo e de queijos da serra ou de Serpa. Sobre o que sabe e o que não sabe. É esse o serviço de um “opinador”.

Pela importância que as televisões lhe foram dando, parecia que Marcelo iria dar opiniões para que se soubesse o que nunca se saberia sem a sua sabedoria. E lá se ficava a saber o que já se sabia. E a televisão basbaque cumpria assim o dever de embasbacar ainda mais o Reino deixado por Afonso Henriques.

Defendeu a austeridade, assegurou a confiança no BES e sempre pregou a favor dos de cima contra os de baixo. Diga-se em abono da verdade que o fez com uma certa simpatia. Tinha de ser, dizia o professor.

Agora precisa do voto dos de baixo e a sua capacidade de se baixar não tem limites.

Ele vai às urgências logo que soube que morreu um cidadão que os media noticiaram, e caso houvesse mais mortes relatadas pelas televisões admitiu passar a viver nas urgências. Até final dos seus dias de campanha…

Ele vai aos Açores beber minis com pescadores.

Ele foi a uma farmácia, a uma farmácia comprar medicamentos…Quem é capaz de o fazer?

Ele entra em Casas mortuárias.

Ele faz festas a bebés rechonchudos.

Ele serve cafés em confeitarias.

Ele ajuda velhinhas a atravessar a rua.

As televisões transmitiram estes gestos heróicos do candidato que não quer propaganda, só televisões a transmitir. Quem é capaz de ir para os semáforos e simpaticamente ir ajudar velhinh@s a atravessar a rua? MRS. Só ele.

Não quer uma campanha onde se discutam ideias. No ideas; apenas afeto. Abraços e mais nada. Tudo fofo. Marcelo é um fixe. Não vai para a Casa dos Segredos; quer ir para Belém.

Ele não quer debater. Ele foge dos debates. Não são fofos. Abrem a verdade. Foge do PSD e do CDS, mas que venha o apoio…. Como Cavaco, o que indigitou Passos e indicou Costa para Primeiro- Ministro.

Marcelo faz de conta que foge da direita para chegar a Belém e continuar na senda do último íncola. É diferente, mas é igual. Proclama cooperação com António Costa. Está a fazer como Judas, como fez Cavaco que jurou cooperação a Sócrates e à primeira atirou-o borda fora.

Marcelo só quer uma coisa : ser Presidente. Até promete aprovar um orçamento que não conhece.

Marcelo sabe usar as palavras. Ele é palavreiro que nas palavras esconde as ideias. É um camaleão. Ele vai à Festa do Avante porque quer ser Presidente da República. Ele vai onde está quem o veja…se houver televisões para filmar. Se for presidente vai ter uma televisão atrás dele desde que acorda até que se deita. Vai ser um show a superar o da Teresa Guilherme. Vai rebentar uma guerra de audiências.

Marcelo não cultiva como Cavaco o tabu; Marcelo é mais para o show-off. Com ele vai ser tudo luzes em Belém; tudo frenético em torno de si próprio.

Se Marcelo for para Belém vai ser uma guerra permanente com este governo ou com qualquer governo. Marcelo não vai dar o palco a mais ninguém; o homem não vai parar. Estará em permanente agitação cosmopolita desde o futebol até ao samba no Brasil passando pelas estepes da Mongólia onde irá competir com os perdidos do mundo. E irá ao fim do mundo para ser a notícia.

Querem um trambiqueiro em Belém? Votem em Marcelo.

Marcelo e Cavaco – Semelhanças e Diferenças

Sejamos claros. Os homens são iguais e são diferentes. São iguais naquele impulso de arrebatamento pelas autoridades que comandaram o país até ao 25 de Abril de 1974.

Um mais traquinas. Outro mais raposão. Um mais vistoso. Outro mais circunspecto. Um mais balseiro. Outro com o ar de que seu doutoramento em York é qualquer coisa de extraordinária. Um mais dado ao show. Outro com a tendência de que o país depende de um sinal de S. Bento (quando era 1º) ou de Belém onde faz de conta que é o presidente de todos os portugueses.

Um mais arrebatado que se lança ao rio e que bebe minis com a arraia- miúda.

Outro a armar a desportista a subir o coqueiro em S. Tomé deixando aflita a Maria, não fosse o país perder o salvador.

Um mais frenético, não para de ler, de ensinar, de corrigir, de comentar, de falar, de ir ao futebol, de estar onde é bom estar, desde que se veja.

Outro morde pela calada.

Um mais dado a congeminar, mas querendo que se saiba que domina a arte da congeminação.

Outro mais de agradar a quem tem mando cá, mas sobretudo lá, fazendo dessa submissão a sua postura altaneira.

Um mais ao sabor das modas, mais surfista.

Outro mais velhaco; coleciona amigos em lugares chave e quando depois de o servirem e se servirem à grande à alemã, deixa-os cair e sacode a caspa do casaco.

Ambos espertalhões: que ninguém se esqueça da jura de Cavaco a pés firmes à cooperação estratégica com o governo de José Sócrates quando este teve maioria absoluta; que todos se lembrem dos elogios de Marcelo ao atual governo.

Cavaco era e é um raposo da política.

Marcelo um especialista em movimentar-se na crista das ondas.

Ambos uns figurões capazes de tudo para se alcandorarem ao mais elevado cargo da República.