Costa após o acordo com o BE e o PCP que permitiu ao PS formar governo falou de um tempo novo, de enterro do tempo velho de perseguição aos rendimentos da esmagadora maioria da população; de medo face a um futuro de pobreza e de uma vida sem o mínimo de dignidade.
Mas não se pode construir um tempo novo repetindo comportamentos que são próprios do tempo velho tal como aconteceu nas últimas três eleições presidenciais.
O PS a certa altura deixou o combate pelas presidenciais correr ao deus dará. Borregou. O partido não entrou na batalha; deixou as coisas correrem como se a eleição de Marcelo não fosse uma volta ao tempo velho.
As armas que o PS tinha ficaram nas sedes do partido guardadas para não se sujarem. Sampaio da Nóvoa parece que teria o apoio que não teve.
Maria de Belém ao candidatar-se a Belém resolveu como Fernando Nobre nas últimas tornar um combate tremendamente difícil numa batalha praticamente perdida.
Aliás como Mário Soares fez nas que Cavaco ganhou pela primeira vez, avançando contra o seu amigo e camarada Manuel Alegre.
Parece que passou a fazer parte do ADN do PS assobiar para o ar e deixar a direita ganhar com a vã ilusão de que o PR não obstaculize a ação do governo.
Costa encarou as presidenciais como algo verdadeiramente anómalo: umas primárias para que na segunda volta o PS votasse n@ candidat@ que passasse…só que não passou porque o PS ficou à espera do desfecho da batalha de Alcácer Quibir…
Ora o que aconteceu foi que uma das figuras mais apodrecidas viesse do túnel do tempo velho para ser “dona” do Palácio de Belém; do velho tempo em que sempre bajulou os poderosos desde Caetano ao inefável João Jardim ao Ricardo Espírito Santo aos administradores do BANIF e tutti quanti neste país tiveram grande parte do poder nas mãos.
E pode haver neste enredo do tempo quem não queira ver, apesar do invocado tempo novo, que Marcelo venha envenenar este tempo novo para fazer regressar o velho.
Marcelo não é uma figura coerente nem em quem se possa confiar. Tem uma longa vida a comprová-lo. Não é personagem para mudar o chip. Para chegar onde chegou fez um longo percurso sempre a favor dos poderosos. Sempre. Antes e depois do vinte e cinco de Abril.
Os resultados dentro das forças que apoiam o governo não foram famosos, salvo os do BE. Porém como é bom de ver não são estes resultados que transformam a política austeritária, derrotada nas urnas há escassos três meses, numa política ao serviço do povo e da economia de desenvolvimento.
O ânimo que a vitória do candidato apoiado pela direita possa ter dado ao PSD e CDS e as dificuldades que tal resultado possa ter trazido ao PS e PCP e ao conjunto dos apoiantes do governo pode vir a ser um mau presságio.
O tempo novo que António Costa falava não se extinguiu com a vitória de Marcelo. O regresso do tempo velho a Belém que a eleição presidencial protagonizou é favorável às forças que o urdiram.
Em Belém nos últimos dez anos esteve o principal obreiro do tempo em que o governo esmifrava os mais desfavorecidos e enchia os bolsos dos banqueiros com o dinheiro dos portugueses.
O PS sai muito mal destas eleições repetindo os erros do passado; o PCP não soube aproveitar a ocasião insistindo numa política sectária que levou ao que levou.
A tirada de Jerónimo de Sousa acerca de arranjar uma engraçadinha não lembra ao diabo e dá nota do desnorte após o ato eleitoral…e a incapacidade de compreender os tempos. Veio a seguir uma desculpa esfarrapada tal a dimensão do disparate. Perder nunca é bom, mas não há quem não perca. É fundamental saber perder e tirar as conclusões certas de uma derrota. Ser derrotado daquela forma e afirmar que está tudo certo…
Bastava olhar para a votação do Tino de Rans para perceber que o eixo da atuação tem de mudar para se ser compreendido.
O PS pode ter ilusões sobre o papel do comentador eleito Presidente no que se refere à relação com o governo. Mas o tempo novo que se abriu há poucos meses não está garantido.
A turbulência faz parte das viagens; os pilotos sabem como lidar para evitar desastres. A viagem será longa e seguramente haverá muitas turbulências. O tempo novo vai exigir muita coragem e inteligência para não ser um biombo para esconder o tempo velho.
Que Marcelo com a sua astúcia e maquiavelismo não seja capaz de sabotar este tempo é que desejam todos os construtores de um tempo novo.
Ai de quem der o primeiro passo para o regresso do tempo velho, o tempo em que o governo e os banqueiros e seus amigos encontravam em Belém um pilar de apoio.