Ainda as Eleições – Estrondosamente Real

Passos Coelho, à frente do PSD, guinou à direita e seguiu à bolina empurrado pelo vento neoliberal no rumo neoliberal .

O PSD assumiu a opção de tornar os ricos mais ricos para tornar o país mais competitivo por via do empobrecimento geral da população.

Como comandante da coligação com o CDS nem se apercebeu que, em certa medida, ultrapassou pela direita o CDS.

O CDS não precisava de assumir os temas mais caros à direita porque o PSD o fazia. Passos jogou tudo no falhanço da governação do PS e perdeu tudo; teve de ir falar com o diabo que se instalou no seio do seu partido.

A votação do PSD em Lisboa é o resultado de aquele partido não ter tido quase nada a propor nem como programa, nem em termos de candidaturas. Foi uma trapalhada. O CDS só teve que colher no terreno do PSD devido à incapacidade até ao último suspiro de Passos Coelho de se adaptar à realidade.

É caso para dizer como faria o pio Cavaco que Passos bem piou mas esbarrou estrondosamente na realidade. Nunca foi capaz de ter rins para mudar. Cegueira? Autismo? Espírito aventureiro?

Esse esbarranço na realidade saída do acordo do PS com PCP e BE levou o PSD para a situação que se encontra.

O partido ainda não saiu do estado comatoso e perfila-se Rui Rio, um político com trabalho feito no Porto, que desde que saiu da câmara daquela cidade hesitou sempre entre o que afirmou ser os deveres profissionais e o combate político. Finalmente decidiu.

Só que a sua decisão veio trazer do passado do PPD o eterno jovem Pedro Santana Lopes. De novo na ribalta. A ver o que vale para um partido que se fechou nos corredores do poder e perdeu a sua ligação mais profunda às bases porque estas se ligaram ao conjunto de interesses que os poderes locais, legislativo e executivo conferem aos seus “donos”.

O PSD que segundo Teresa de Sousa tem futuro ( ela lá saberá porquê) está em maus lençóis a curto/médio prazo porque António Costa já reafirmou a sua rejeição do bloco central.

Só por mero suicídio o PS que cresceu encostando-se à esquerda e resolvendo problemas económicos e sociais, iria, nesta fase da vida política, retroceder e encostar-se à direita. Sublinha-se, só por suicídio.

Na Europa o único partido socialista/social-democrata em alta é o PS português, daí constituir uma verdadeira aberração política guinar para a direita, pretendendo fazer o que já fez e deu em crise no PS.

No que concerne ao CDS a sua máquina não é tão pesada como a do PSD e apresenta maior agilidade, como foi caso de Lisboa.

Assunção Cristas percebeu o erro estratégico de Passos e lançou-se para um combate municipal que podia ter dimensão nacional, enquanto o PSD ficou prisioneiro da sua estratégia nacional e desvalorizou a sua estratégia eleitoral em grandes cidades com dimensão nacional.

O PCP enfrentou o efeito mobilizador do eleitorado de esquerda que o PS alcança quando sai da sua ligação à política de direita.

É a velha discussão que se travou no interior do partido aquando da coligação com PS em Lisboa com Jorge Sampaio e João Soares.

Uma convergência ou coligação com o PS por parte do PCP para resolver problemas nacionais ou regionais ou municipais exige dos comunistas uma atitude totalmente diferente daquela que têm tido quando o PS é o adversário puro e duro.

Aí o partido está treinado e experimentado. O que o partido não está é capacitado de uma forma cabal e global é para se apresentar de uma forma a fazer a diferença com o PS quando este converge com o PCP.

Aqui é que reside o busílis. O problema não é a convergência. O problema é a capacidade de mostrar porque apesar dessa convergência é importante votar no PCP porque é nele que se encontra a resposta para resolver problemas tanto no plano local, como no plano nacional.

A velha discussão em torno do branqueamento do PS sempre que este se aproxima do PCP e este daquele é uma discussão sectária e estéril. A aproximação entre os dois partidos não é feita para resolver problemas partidários, mas para dar resposta a problemas que a direita não é capaz de resolver. Isto porque nem o PS, nem o PCP são capazes de resolver sozinhos, independentemente da expressão eleitoral de cada um. Claro que um PCP forte condiciona mais o PS que um PCP menos forte.

Portanto o PCP não se deve queixar dos outros, mas apenas de si próprio. Não há anticomunismo que pare à entrada de Loures, ou de Évora, ou de Vila Viçosa e que se infiltre em Almada, Beja ou Alandroal.

A coragem e a autocrítica são apanágio de partidos revolucionários. O atirar as culpas para os outros é próprio de quem pretende sobreviver.

Maria Luís Instala CGTP na Autoeuropa com Consentimento de António Costa

Maria Luís Albuquerque tornou-se numa mulher famosa. Há quem diga que se se candidatasse à Câmara de Lisboa teria melhor provento que o previsível resultado de Teresa Leal.

A sua fama veio da capacidade de aceitar que Portas lhe passasse a perna e ficasse  à sua frente na hierarquia governamental. Ajudou a revogar a irrevogável decisão de Portas.

Ficou também famosa por ter o país a sofrer cortes e mais cortes e simultaneamente gabar-se de ter os cofres cheios.

E por ter passado a ser quadro da administração da Arrows.

Mas o melhor estava para vir e chegou após a revolta de dirigentes do CDS contra o pronome aquela utilizado por aquele que é Primeiro-Ministro e o pio de Cavaco. Nem sempre todos podem piar ao mesmo tempo.

A Vice-Presidente do PSD, que ainda não se refez de não ser Ministra das Finanças, veio acusar  António Costa de ter permitido a CGTP instalar-se na Autoeuropa. Instalar-se. Sim, antigamente era infiltrar-se. As infiltrações passaram para os prédios e para os jogadores rápidos tipo Ronaldo que desse modo chegam à grande área adversária.

Para uma administradora da Arrows a palavra adequada é instalar-se, do género chega o Arménio Carlos todo lampeiro e leva um grande sofá que sai de um camião da empresa de mudanças a “A Instaladora” e instala-se com uns tantos sindicalistas.

Ora aqui é que bate o ponto. O António Costa não fez nada. Bem tentou. Telefonou ao Secretário-Geral da UGT a  ver se podia lá instalar a UGT e a resposta dever ter sido negativa por falta de recursos humanos ou logística ligada aos transportes.

Não teve outro remédio. Não tinha material para instalar os seus. O Chora chorava e a situação era a que era.

Maria Luís, mulher de armas, não se ficou. Antes que o mês de setembro entrasse não quis deixar aqueles do CDS que se revoltaram contra António Costa por causa do aquela Ministra da Agricultura (pronome demonstrativo, dado ninguém saber quem era aquela) e aquele  mavioso pio de Cavaco sozinhos. Resolveu instalar a CGTP na Autoeuropa por delicadeza daquele que é Primeiro-ministro.

O que vale é que setembro está à porta. Talvez melhore. Ou não. Há eleições em outubro.

As Televisões a Arder

As televisões estão a arder por dentro, cheias de fogos e as horas das grandes chamas, neste verão onde tudo parece arder, atingem o pico por volta das oito horas, ao fim da tarde.

Os fogos, que há anos incendeiam zonas do país, instalaram-se nas televisões e nos media em geral.

Basta carregar no on e o fumo invade-nos carregado de desgraças contadas na primeira voz, o que faz supor que o que acontece nas televisões (tantos fogos) sucede em Mação ou Sabugal ou Gavião ou onde ardem florestas deixadas ao abandono por gente que não aguentou o abandono e deixou abandonados pais, avós e vizinhos, numa solidão sem nome.

Apressurados os repórteres vão de microfone em punho pedir a opinião de idosos que não abandonaram as suas casas com medo de serem comidas pelas chamas.

Eles, os abandonados, queixam-se de ninguém os ajudar e sozinhos terem de fazer frente ao fogo, criando a ideia subliminar que poderia haver um bombeiro para cada casa …e naturalmente os repórteres cheios de atualidade dão voz aos injustiçadas da terra queimada, como se fosse novidade, nesta estação, haver incêndios em Portugal, na Califórnia ou na Austrália quando as temperaturas sobem acima dos quarenta graus.

E a compaixão dura o tempo da emissão e os abandonados regressam a suas casas ameaçadas e ali ficarão todas as suas vidas sós, salvo se houver fogos e os repórteres lhes forem perguntar se os bombeiros apareceram para os ajudar. Assim. Como se o país tivesse um bombeiro por casa ou por cada idoso.

Além disso o fogo, desde Prometeu, foi sempre algo mágico e aterrador para o homem.

As televisões procuram o desespero e o medo estampado nos rostos e olhos de quem enfrenta a desgraça. E os fogos que fazem o país arder instalam-se nas televisões e ardemos duas, três e mais vezes.

Este agosto, tirando Trump, Kim Jong Un e o Daesh, as notícias são os fogos. E a queda de uma árvore, como se as árvores não caíssem e os fogos fossem obra de quem os quer impedir.

O que é um fogo comparado com o aumento das pensões, resultado de tanta luta? Sim, este mês os idosos em vez de empobreceram mais um bocado, como prometiam Passos/Portas /Cristas, viram aumentados os seus rendimentos.

Neste mês de desgraças, há muito previstas, consome-nos o fogo que se repete ano após ano, mas que tem de ser notícia e incendiar as televisões, todas à uma.

O espantoso é que esta democratização da desgraça só dura o tempo da própria desgraça. Esfuma-se. Mesmo os que sentem a compaixão pelos concidadãos logo que a notícia do fogo acaba, esquecem a desgraça e passam à notícia seguinte. O automatismo está bem oleado. Apesar da desgraça. O que importa é a emoção. O resto é a solidão dos idosos. Num país desertificado no seu interior.

Uma Terrível Realidade

O Diretor-Geral da Reinserção Social e Serviços Prisionais, segundo noticiou o Público do dia 31/07/2017, deu conta que há estabelecimentos prisionais onde faltam enfermeiros para assegurar a medicação dos presos.

A notícia bate-nos de tal modo à porta que nos transmite um sentimento de atordoamento.

O Estado, ao prender cidadãos que cometeram crimes, tem de lhes assegurar o tratamento dos cuidados de saúde básicos, como seja o de garantir que têm a medicação necessária, já que, por motivos óbvios,  a medicação está a cargo das autoridades prisionais.

Num Estado de Direito Democrático não pode ser o próprio Estado a falhar no que concerne a este mais elementar direito de saúde primária.

A notícia daquele periódico parece ter passado despercebida, visto não ter provocado qualquer tomada de posição quer das autoridades governamentais, quer dos partidos com assento parlamentar, do que é sabido.

Vindo a notícia do próprio Diretor-Geral dos Serviços Prisionais, a notícia em si mesma é de aterrorizar, e deixa-nos perplexos a falta de impacto.

Num Estado moderno os presos não são atirados às galés para serem lançados ao fundo do mar, antes cidadãos que o Estado visa reinserir na sociedade.

A reinserção social dos presos passará seguramente por serem tratados como homens, mulheres e jovens a quem não deve faltar a assistência médica e medicamentosa mínimas, de acordo com padrões de dignidade humana.

Diz Celso Manata, o Diretor, que faltam médicos e enfermeiros e que o seu recrutamento aguarda pela autorização do Ministro das Finanças.

O Sr. Dr. Mário Centeno não pode ter os olhos e o coração em Bruxelas, pois dali se chegam elogios não o devem deixar de ter em conta que é o Ministro responsável pelas verbas que cada ministério necessita para tratar os portugueses com o mínimo de dignidade.

No interior das prisões em Portugal estão cidadãs e cidadãos cuja saúde o Estado chamou a si tratar e, portanto, se não há médicos e enfermeiros há que contratá-los, como não pode deixar de ser, face à urgência da situação e às necessidades vitais daqueles seres humanos.

Não é ao Sr. Dr.Centeno que cabe determinar o que o ministério da Justiça pode gastar em termos de assegurar o mínimo dos mínimos. Se o fizer do modo que está a fazer está a cometer uma séria violação da responsabilidade que tem.

Por muito elogiosos que sejam as palavras do Sr. Scäuble acerca das qualidades contabilísticas do nosso Ministro, em nenhum momento, elas podem assemelhar-se a serenatas maviosas que façam esquecer que o ministro é Ministro da República de Portugal, onde os presos são seres humanos que devem ter gente qualificada para assegurar a assistência médica mínima.

Os que estão presos, sairão um dia. Espera-se que pelo menos o tratamento da saúde seja um factor de reinserção social.

O Caso da Universidade Independente e de Outros Megaprocessos

Têm-se vindo a avolumar os casos em que o Ministério Público e os diversos Orgãos de Polícia Criminal (OPC) anunciam aos quatro cantos da Lusitânia e ao mundo investigações e acusações de grande sucesso no combate à criminalidade.

Com magno estardalhaço, os media aferroam-se aos casos e os arguidos aparecem ligados à prática de crimes muito graves. E as fugas de informação do que que está em segredo de justiça enchem noticiários e páginas de jornais.

Nesses dias de quentes notícias, os portugueses vão dando palpites acerca dos novos arguidos. Sendo poderosos, é uma espécie de ajuste de contas antecipado e a sentença só pode ser a condenação. Sendo políticos, é a pouca vergonha por serem todos iguais e só pensarem em encher os seus bolsos e os dos amigos. Sendo polícias, é a indignação por já nem se poder acreditar na polícia, isto está podre, em quem se vai poder confiar, perguntam os cidadãos.

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Quem é o Pai do Tetra? Rui Vitória que se Cuide de Passos Coelho!

O PSD entrou de modo definitivo num processo psicopático que se assemelha à interiorização profunda na sua alma de que a realidade é aquela que o homem do pin de Portugal inventou e não a que a todos rodeia. É um pouco como o aquele que tem a obsessão de enriquecer a pontos de viver como se fosse já rico e passou a gastar à larga, em nome da riqueza que um dia teria, acabando falido.

O PSD açoitou os portugueses com o empobrecimento ralhando-lhes todos os dias, tirando-lhes rendimentos para os entregar aos bancos, apesar dos cofres a abarrotar como declarava a dirigente da Arrow .

O país cresceria, segundo Passos e Portas, se empobrecesse. Juraram-no ao Senhor Scäuble e ao cavalheiro holandês mal-educado e copiador de trabalhos feitos por outros…

O lado mais triste, fechado e temeroso do país temeu diante do pequeno gauleiter da província portuguesa da Europa da chancelerina Merkel e muitos aninharam-se convencidos de que o medo era melhor que a coragem.

Por isso quando Cavaco encarnou esse lado de Portugal nem queria acreditar que Costa, Jerónimo e Catarina fossem capazes de corajosamente exibir o outro Portugal que desafiava a pobreza e apostava na dignidade.

Pois bem, apesar do tempo que já leva o governo e de o diabo se ter instalado na Avenida Buenos Aires onde se situa a sede do PSD, a verdade é que o país está a crescer e bem-disposto em contraste com o lado carrancudo do homem que anunciava o aparecimento do mafarrico que, como se sabe costuma, aparecer em cuecas que era o estado que Passos achava que o país devia ficar para depois ser competitivo como algumas ilhas do Pacífico onde não há os mais elementares direitos sociais que fazem mal aos mercados…como o alho ao chifrudo.

Mas a lata do PSD não para de surpreender os mais avisados e experimentados políticos. Este crescimento de 2.8% do país no primeiro trimestre resulta da política do governo do PSD, segundo a deputada daquele partido, Inês Domingos…

Passos passa os dias a barafustar contra este governo por desmantelar as malfeitorias do seu governo e apesar disso vem agora clamar louros por uma política bem diferente da sua.

Pobre Inês a quem deram a triste e inglória tarefa de aparecer a contrariar o ponto cardeal de onde surge o sol… É preciso latosa, mas não só. Do partido de Sá Carneiro e Magalhães Mota sempre se poderia esperar mais. Pelo menos a coerência que cativou tantos e tantos portugueses.

Passos vendeu esses princípios ao diabo para ver se comprava uma crise que o belzebu não foi capaz de gerar, não obstante os seus múltiplos recursos. Encarregou a deputada Inês de vir reclamar os louros pelos resultados alcançados com uma política bem diferente daquela que o PSD levou a cabo. Entretanto para os lados do Caldas Cristas congratulava-se com os resultados. Passos anda perdido.

Que se cuide Rui Vitória. O tetra deve ter resultado da política do governo de Passos.

Nova Estação de Metro em Figueiró dos Vinhos

Assunção Cristas depois daquele “desarrincanço “ sobre as cunhas dos sindicatos criou agora uma espécie de pós verdade.

Contrabalançando a fase antiga da história com a nova fase pós moderna resolveu tentar a síntese entre o velho pensamento -o  que importa é que falem de mim –  e o novo-  o que importa é o facto em si -.

Nesta ordem de ideias, inspirada nos fake news que perseguem Trump , Cristas atirou para o ar vinte ideias subterrâneas. É obra. A ideia de Cristas é mandar fazer em Lisboa vinte novas estações de metro.

Não são vinte uma, são vinte, um número redondinho, como os túneis dos metros…Isto na véspera da chegada do Papa Francisco porque se fosse depois da vinda talvez chegasse às trinta e três estações que foi a idade com que crucificaram Cristo.

Outra hipótese não tão despicienda quanto possa parecer era a de mandar fazer vinte estações do metro em Lisboa, dez no Porto, cinco em Braga e Setúbal, quatro em Coimbra, três em Loures, duas em Almada e Sintra e uma em Figueiró dos Vinhos.

É de gente assim que se precisa. E mais. Despesismo não é com ela. Aprendeu no governo de Passos Coelho a cortar na despesa.

Em breve proporá uns quatro novos aeroportos e um TGV… Pá frente Assunção.

Cristas e a Cunha

O CDS foi historicamente um partido de simulações. Dos poucos momentos que não simulou foi na votação da Constituição aprovada na Assembleia Constituinte em que o CDS votou contra. Foi o único.

Simulou um acordo com o PS logo após a queda do primeiro governo constitucional do PS. Obrigado a largar o acordo, pôs-se ao fresco. Andou anos a simular entre Lucas Pires, Adriano Moreira, Manuel Monteiro até ficar nas mãos de Paulo Portas, o simulador em quem Manuel Monteiro levianamente acreditou.

O CDS simula entre a chamada democracia-cristã e a vocação para o poder, sendo esta a dominante. O ponto de simulação máximo encontra-se algures nas feiras onde Paulo Portas, de boné na tola, foi capaz de quase tudo e de mais um copito para que os velhos caíssem na esparrela dos prometidos aumentos das reformas.

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Jorge Jesus na PGR?

Nos termos das alíneas b) e e) do artigo 12ª do Estatuto do MP  à Procuradora Geral da República cabe dirigir, coordenar e fiscalizar a atividade do MP e fiscalizar superiormente a ação dos órgãos de polícia criminal.

É de presumir atenta a experiência comum de direção que esta se exerça com diligência, o que significa que face aos acontecimentos e processos que abalam o país a PGR dirija, coordene e fiscalize o que se passa.

Num caso como o da Operação Marquês por maioria de razão se exigirá à PGR que os seus poderes não sejam surpreendidos por eventuais incapacidades dos órgãos de que é responsável máxima.

A Operação Marquês é daquelas que em linguagem popular se dirá fia fino, exigindo que não haja espantos em termos de saber o que cada um está a fazer e como está a fazer.

É o que se espera de quem tem que assumir os poderes do artigo 12 do Estatuto do MP.

Imaginemos que numa dada Operação o Procurador responsável pelo processo não faz o que tem que fazer; é evidente que a PGR tem de intervir. O mesmo é válido para os responsáveis do OPC.

Os órgãos de polícia criminal são auxiliares do titular da ação penal que é o Ministério Público.

Sendo o MP o titular da ação penal e tendo a sua direção tal significa que o andamento da investigação e do processo é da responsabilidade dos procuradores a quem foi atribuído essa responsabilidade e, em última instância, à Procuradora Geral da República.

Não passa pela cabeça de ninguém que os responsáveis pelo inquérito não tenham uma noção mais ou menos atempada e adequada do trabalho que o OPC está a realizar tanto mais quanto está sob a sua direção.

Uma direção minimamente cuidada do andamento das diligências e das respostas do OPC implicam a tomada de decisões atinentes a que os agentes do OPC respondam às questões que o MP considera absolutamente necessárias.

Mas no caso em que o país segue espantado a Operação Marquês cria algum espanto que a PGR não saiba atempadamente o que faz ou fez ou vai fazer, em linhas gerais, o procurador titular do processo ou como se comportam os OPCês.

Uma direção lúcida exige do dirigente máximo a responsabilidade máxima. Só Jorge Jesus é que ficou célebre por crucificar o jogador Palhinha porque as coisas não lhe correram bem e o Porto ganhar.

Os generais só vencem se os seus oficiais e soldados venceram. Se eles perderem ele também perde.

Justiça Precisa-se

A justiça é uma instituição cujo bom funcionamento assegura a paz e a coesão sociais. Ela é uma das pedras angulares numa sociedade que se funde no primado da lei e num Estado de direito democrático.

A realização da justiça está entregue aos tribunais e os juízes, em Portugal, como órgãos de soberania, aplicam as leis, em nome do povo.

A soberania reside no povo e é transferida para o parlamento por via de eleições. É o povo quem decide as suas escolhas eleitorais.

Os juízes obtêm a consagração como órgão de soberania por via do artigo 202 nº1 da Constituição da República…”Os tribunais são os órgãos de soberania para administrar a justiça em nome do povo…”

Por isso se diz que o poder judicial é independente dos poderes executivo e legislativo.

Mas para que haja verdadeira independência os magistrados devem, no plano material, ter uma remuneração que lhes permita assegurar essa independência. Uma retribuição digna é condição sem a qual a independência afraca.

Sem juízes que tenham uma vida digna, a independência do poder judicial não está tão segura.

Os juízes por via da sua Associação sindical têm manifestado uma genuína vontade de que esta componente da sua carreira esteja assegurada, pois os cortes do anterior governo foram uma machadada na vida da classe, aliás como na vida de todos os portugueses.

Os cortes inesperados e drásticos nos vencimentos dos magistrados e dos funcionários judiciais constituíram cada um deles ao seu nível uma afronta ao setor. Como a todos os funcionários públicos.

Na verdade, a política de austeridade contra os funcionários do Estado teve como objetivo atacar as suas funções sociais e levar a que elas sejam entregues a privados, remetendo a cidadãos para a procura de apoios nas instituições privadas cujo único móbil é o lucro.

Encarar a justiça pelo ângulo do lucro é um verdadeiro atentado aos mais elementares direitos dos cidadãos. A justiça é um investimento do Estado para assegurar que os portugueses se sentem protegidos, seguros e de verem solucionados os seus conflitos através da via mais avançada e moderna que é a do recurso aos tribunais.

O famigerado Mapa Judiciário implantado pelo anterior governo ia exatamente na direção de afastar a justiça da vida dos portugueses. E assim poupar.

Fechar tribunais sob o pretexto de pouca afluência aos mesmos significa que o Estado declara que aquelas populações não têm o direito a que a justiça se realize nas mesmas condições que a que realiza noutras comarcas.

Se Portugal tem o seu território a partir dos cinquenta quilómetros da costa em estado de abandono, salvo os centros urbanos, esta medida criava mais abandono onde quase só existia abandono.

Se hoje alguém doente precisa de certos meios de diagnóstico tem de andar setenta ou mais quilómetros para o realizar (mesmo que não tenha transporte ou não haja transporte), acontecia o mesmo com a justiça. Na nova Comarca de Évora havia quem tivesse de pernoitar em Évora para assegurar a sua presença no tribunal dada a falta de transportes. O mesmo sucedendo em Vila real, Bragança e outros centros populacionais com populações a dezenas de quilómetros e sem transportes que permitam ida e volta no mesmo dia e atempadamente.

Foram estes critérios economicistas impostos pela troica e aceites pelo governo de Passos e Portas que levaram a esta situação. Porém, forçoso é constatar que nos países da troica nada disto é praticado e as populações têm a justiça nas suas comarcas e a preços bem diferentes.

A correção que o governo de António Costa está a fazer devolvendo os tribunais às populações por vontade própria e dos seus parceiros de acordo governamental vai no bom caminho, sendo naturalmente preciso que no início do novo ano os tribunais fechados reabram e as populações a eles possam aceder, como qualquer cidadão de Portugal.

II

Vários governos, incluindo do PS, têm vindo a privatizar áreas da administração da justiça o que deixa a justiça mais longe dos cidadãos.

As justificações vão todas na mesma linha: excesso de pendência e número reduzido de magistrados e de funcionários judicias. As lógicas governamentais alegam junto de uma população enfraquecida na cidadania e nos vencimentos que a passagem de setores do Estado para a os privados levará à poupança de umas centenas de milhares de euros.

Esta argumentação esconde que passando para a mão dos privados são eles que determinam os preços a pagar pela realização da justiça deixando de fora os que não tiverem rendimentos para acederem ao que os “mercados” consideram ser-lhe o mais adequado à obtenção de lucro.

Basta para ter ideia da disfunção de funcionamento da justiça que as grandes superfícies e as instituições financeiras inundam os tribunais e expulsam os cidadãos na medida em para estes litigantes os preços já têm incluídos os gastos com as cobranças incumpridas.

Esta sobrecarga por parte das empresas de telecomunicações, grandes superfícies e financeiras junta-se o brutal encarecimento das custas judiciais e da privatização da ação executiva que deixou, nesta área, tudo paralisado.

Que importa a uma empresa que uma dívida de algumas dezenas de euros leve dois ou três ou muitos mais anos a ser cobrada…estão sempre a cair juros a uma taxa mais elevada que a dos bancos…

Há em linguagem simples e não assumida uma negação do acesso à justiça aos cidadãos com rendimentos baixos ou mesmo remediados através dos mecanismos supra referidos.

O Estado desvincula-se de certos serviços e entrega-os a instituições privadas deixando-os à mercê da sua ganância. São exemplos disso a privatização da ação executiva, a passagem dos inventários para os Notários, a abertura de tribunais arbitrais cujos honorários e custas a pagar são elevadíssimos, pois os árbitros têm vencimentos chorudos.

Têm sido divulgadas as condições sobrelotadas das cadeias portuguesas com todo o rol de doenças contagiosas que tal acarreta. Pois bem: um governo que se preze e respeite a finalidade das penas que são sempre a reinserção social e não a punição pela punição deve assegurar aos presos um conjunto mínimo de condições que lhes assegurem o respeito pela sua condição humana.

A própria Ministra da Justiça se mostra incomodada com a situação ou pelo menos é o que ressalta das suas declarações a este propósito. A justiça em si mesma para ser moderna e recuperadora dos cidadãos que cometeram crimes deve-lhes assegurar esse mínimo dos mínimos.

É preciso estar muito atento a este problema e ter os olhos postos no que tem estado a suceder em Manaus, no Brasil.

Quando a justiça falhar ou quando a crise a atinja de tal modo que a sua credibilidade se esvaia que nos restará para podermos viver em paz social? Quem serão os mais prejudicados pela falta de meios para se defenderem?

Nos EUA há prisões privadas e geridas por privados fora de qualquer controle a não ser penitenciário. As penas são duríssimas e concorrem com o Irão e a Arábia Saudita em execuções. Ainda há um Estado nos EUA cuja pena capital é executada por um pelotão de fuzilamento, sempre é mais avançado que por sabre como na casa da monarquia saudita.

Reparemos: apesar desta violência a criminalidade não baixa. A banalização da morte leva a que os criminosos a banalizem e a enfrentam, como provam as estatísticas.

Os países que aboliram a pena de morte são aqueles cuja a criminalidade é mais baixa e que têm maior nível de vida e de desenvolvimento educacional são os que têm uma taxa de criminalidade mais baixa.

Por isso a extrema-direita e os populistas de todos os matizes querem enfrentar certos problemas socias reprimindo e penalizando com penas muito mais duras.

É fácil dizer: matem os criminosos. Haverá sempre quem pense que essa é a solução. Se voltassem as fogueiras da Inquisição quantos não iriam ver a morte em direto? Quantos programas televisivos não rebentariam as shares de audiências?

Nos EUA discute-se se, em certos Estados, os jornalistas podem assistir à morte em direto para a retransmitirem. Seja permitida a crueldade para estes defensores desta “liberdade” – OK e o cheiro da carne esturricada na cadeira elétrica…

Vivemos um tempo estranho. Por um lado, as tecnologias levam-nos a um mundo único e maravilhoso…só que o homem é mais do que tecnologia, é alma, é alegria, solidão, solidariedade, compaixão e quantas vezes egoísmo.

Sem justiça pode viver-se ou sobreviver-se.

Com justiça pode viver-se em paz e consigo próprio e com todos os cidadãos e o mundo.

Sem justiça o que nos fica na alma é fel.

Todos pertencemos à extraordinária família dos humanos, mesmo tendo em conta que os humanos sem controle das instituições são o diabo à solta; daí a imperiosa necessidade da justiça para todos. E a submissão ao Estado de direito democrático.