A Dra Maria Luís de quem muito pouco se tinha ouvido falar, e que Passos Coelho descobriu, entrou na política com aquele ar triunfal e lampeiro de quem finalmente passou a pertencer ao Olimpo do poder.
A Sra Dra tem aquele ar meio-madalena-meio-atrevido de quem sabe ao que anda a fazer na vida e conhece o destino traçado no estágio governamental em direção a outros voos.
A ex-ministra das Finanças está a recolher a sementeira de experiência que colheu à frente das Finanças de Portugal (que ainda não é bem um conglomerado de empresas) e não passou despercebido à Arrow Global. Foi o que esclareceu o big boss da Arrow. Ela é uma mais- valia, disse ele.
O Sr Professor Vitor Gaspar não tinha aquele ar lampeiro; era mais reservado, fazia as coisas baixinho, pela calada. Um exemplo: nunca se saberá se tinha os cofres cheios como proclamou a Sra Dra …Se tivesse era como se não tivesse, dito de outro modo – se tivesse esperaria que o Primeiro dissesse o que se faria com tanta fazenda. A M. Luís é que dizia ao Dr Passos quando anunciava a boa nova.
A Sra Dra não era para meias tintas: os cofres estavam a abarrotar, cheias de cotulo, já lá não cabia um tostão…e até o Dr Portas se rendia à capacidade de encher cofres da Sra Dra.
Claro que para os cofres se encherem, de acordo com o princípio dos vasos comunicantes, alguém teria de ficar sem o vil metal, depois de Passos declarar o empobrecimento generalizado sacando parte do rendimento excessivo dos portugueses.
Havia que desnatar a parte do muito que os portugueses tinham para o entregar direitinho aos credores internacionais que faziam Cavaco Silva dormir mal porque para ele havia que pagar até ao último tostãozinho. E para repor os buracos astronómicos que os bancos foram criando ao serviço da sua nobilíssima atividade de confundir especulação com serviço de crédito. Com os bancos e com os credores não se brinca e muito menos se deve irritá-los… Um mercado irritado é bem pior que sabe-se o quê…Um tsunami. Talvez. Os mortos devido à miséria e fome assim o dizem.
Foi no consulado da Sra Ministra que foi concedido ao Banif as centenas de milhões de euros dos contribuintes portugueses fazendo chegar ao banco dinheirinho fresco dos cofres de cotulo para o Banif o espatifar em tudo o que se metia…
Claro que lhe foi fácil chegar a acordo com uma empresa benemérita como é a Arrow Global e vender-lhe uma quantidade de crédito mal parado por uma bagatela recuperando a bagatela e dando à filantrópica Global uma soma a sério, tipo uma pipa de massa.
Naturalmente que uma generosidade deste calibre não passou despercebida à Arrow que a foi recrutar para os seus quadros com vencimento superior ao de deputada, cem mil euros anuais, bem abaixo das suas possibilidades.
O que são cem mil euros por participar em meia dúzia de reuniões comparados os quinhentos euros por trinta dias de salário, cento e sessenta horas de trabalho…nada. O mundo é para quem nele sabe subir…como se pode subir com quinhentos euros? Não se pode, só descer aos infernos da vida.
A Sra Dra mantem-se no seu lugar da AR na medida em que não lhe passa pela cabeça que os seus patrões da Arrow lhe exijam em fidelidade ao empregador, pois é certo e sabido que a Sra Ministra sabe que na Assembleia da República não tem esse problema porque o Dr Ferro nunca lhe apresentou o patrão e não o fará, daí só ter um a quem pode eventualmente ter dever de lealdade.
A Sra Dra é uma cidadã tão acima de qualquer suspeita que não compreende a atitude algo invejosa do seu correligionário Marques Mendes que a criticou no quadradinho da SIC.
Nem compreende o azedume de Manuela Ferreira Leite que sem qualquer sentido de fura-vidas achou que a Dra M. Luís não era possuidora de bom senso, quando ela sempre considerou que o bom senso lhe impunha o dever de receber mais de cem mil euros por ano sem cortes, tendo em conta que aquele dinheiro embora indiretamente tenha proveniência do setor público (considerando o que a Arrow ganhou no Banif) a verdade é que o dinheirito não virá do Estado, mas sim da City.
A Dra Ferreira ainda esperou quase um ano para ir para a administração do Santander… uma questão de meses para aquilatar do bom senso.
No fundo, bem no fundo, a Dra M. Luís não fez mais que investir no cargo governamental e de acordo com o empreendedorismo apregoado por Cavaco e Passos Coelho rentabilizá-lo no serviço privado.
A ela, ao Prof Vitor Gaspar, na esteira dos grandes patriotas Catroga, Mexia, Ferreira do Amaral, Murteira Nabo, e tantos outros excelentes gestores, o que interessava era não deixar escapar a oportunidade e, por isso, estavam à hora certa, no local certo, á espera do carteiro – felizmente a carta chegou. E temos administradora. Voilá.