Esta guerra na Ucrânia que nunca devia ter acontecido convocou o velho e “adormecido” espírito militarista urbi et orbi.
Já não se fala dos graves problemas da pandemia, nem dos problemas sociais como o empobrecimento dos povos da Europa. Nem das consequências das intermináveis sanções que massacram os que vivem dos seus vencimentos na Rússia e no Ocidente. Nem da crise climática. Nem do futuro.
Fala-se de armas, de aviões, de misseis, de tanques, de helicópteros, de exércitos e de guerra.
Os EUA uma vez mais ficam longe da guerra e os europeus matam-se uns aos outros com armas sofisticadíssimas.
Putin não tem perdão pelo mal que está a fazer a todos os inocentes na Ucrânia. Zelensky convoca a NATO, critica o que considera apoio menor de alguns países e apela ao envolvimento de todos na guerra, bem sabendo que em tal situação o seu país se transformaria num inferno nuclear sem saída para a vida humana nos próximos tempos.
Nos media, o russo, é o monstro e o ucraniano, o herói. No momento atual de extremo sofrimento para o povo ucraniano vítima da invasão interessa perguntar à consciência de cada um se o caminho a seguir é o do militarismo e somar às montanhas de armas mais armas ou é o caminho da razão, do mais humano humanismo para fazer parar a guerra para negociar.
Os conflitos militares no centro da Europa podem alargar-se e envolver outros países e, nesse caso, não se sabe o que pode acontecer, mas seguramente fica aberta a porta para a guerra mundial com armas nucleares. E talvez fosse a última.
Pode haver quem faça cálculos acerca de uma guerra na Europa que de um golpe esmagasse a Rússia e deixasse o continente em ruínas e que nesse quadro lhe fosse mais fácil dominar e impor a sua hegemonia no mundo.
A verdade é que a guerra continua. As sanções prosseguem mesmo sem se conhecer o resultado do inquérito aos mortos de Bucha. A roda da guerra roda. O mundo começa a dividir-se entre os criminosos e os “nossos”, os heróis.
Cinde-se a Humanidade e há uma parte que deixa de o ser quer para Putin quer para os outros, os ocidentais elevados à categoria de bons.
As populações são nauseadas pelo clima de guerra e cegamente seguem os profissionais da loucura, aqueles que se tornam super-ricos vendendo armas e mais armas, ou seja, a morte. Sim, esta é a via da morte, aquela em que num lado ou no outro, aquele que der mais garantias quanto ao número de mortos que matar a mais que o outro, ganha rios e mares de dinheiro.
O caminho do militarismo tantas vezes repetido leva à tragédia e à destruição de um continente que em termos de conquistas sociais é de longe o mais avançado em todo o mundo.
O que faz os governos europeus perderem a sua força para se imporem e encontrarem entre si os caminhos para uma solução negociada para o conflito? Que pode ganhar a Europa ao entrar nesta louca corrida ao militarismo?
Os ucranianos são tão humanos como os russos, por muito que Putin o queira impedir de ser. E os russos, não obstante Zelensky são homens de carne e alma como os russos.
A loucura humana é de todas a pior. Quando se proíbe na Rússia a palavra guerra e quando no Ocidente se proíbe Tchecov ou Dostoievsky ou se muda o nome das bailarinas russas para ucranianos sem o consentimento de Edgar Degas, como fez a National Gallery, para onde caminhamos?
Estranha a nossa Humanidade que aceita estes governantes e que os segue mesmo quando lhes cai em cima desgraças como o aumento brutal dos combustíveis, dos cereais, dos fertilizantes, isto é, o insuportável aumento do custo de vida.
Como pode aceitar que Biden chame criminoso a Putin sem uma única vez mencionar o interminável rol de crimes cometidos por George W. Bush no Iraque?
Como pode o inenarrável Boris Johnson, incapaz de se conter sem uma party em período de rigoroso confinamento, liderar a corrida armamentista na Europa?
Tantas guerras. Tantas montanhas de cadáveres. Tanta brutalidade. E nem por isso nos levantamos contra esta louca estupidez. Que será preciso para inverter o rumo?