É preciso pensar e repensar o futuro da Ucrânia, da Europa e do mundo

Está o mundo pronto para tirar os turcos do Chipre e de parte do Curdistão, os sauditas do Iémen, Israel da Palestina, os EUA de Guantánamo, Marrocos do Sahara Ocidental?

Ao leme da Rússia o novo czar invadiu a Ucrânia desencadeando a guerra com toda a procissão de horrores transmitidos em doses cavalares pelos media, sobretudo pelas televisões. Não há perdão para esta violenta violação do direito internacional e da soberania ucraniana.

 O desrespeito pelos acordos após a implosão da URSS de que a NATO não avançaria para os países do Pacto de Varsóvia, as contínuas ingerências na Ucrânia, a existência de forças neofascistas com poder crescente no poder daquele país, a perseguição aos partidos de esquerda e às populações de origem russa nunca podiam constituir justificação para a guerra eufemisticamente designada “operação especial”, tal é o medo da palavra e do seu significado por parte de Putin.

No discurso que justificou a guerra está presente um nacionalismo de grande potência que tresanda a imperialismo tout court.

Putin e a sua clique conseguiram que os EUA reforçassem o seu comando da Europa, e que combatam a Rússia por via da Ucrânia armando-a tanto quanto podem.

Depois desta guerra as forças militaristas ganham peso e força em detrimento das forças pacifistas e progressistas.

É preciso ter coragem e dizer que foi Putin que deu aos EUA este novo impulso e que pelo facto de os EUA serem a principal potência imperialista daí não pode resultar na luta entre estes dois imperialismos qualquer virtude do neoimperialismo russo. Recordemos a forma humilhante como Biden capitaneou a retirada das tropas do país do Afeganistão, a sua queda nas sondagens, a sua impopularidade e vejamos como hoje se move e “submete” os países da NATO à trela do seu carro de guerra.

A própria linguagem entre russos e norte-americanos é bem reveladora da mente das direções que dominam neste momento a Europa.

Parece claro que os EUA estão disponíveis para combater a Rússia à custa das vidas ucranianas. Se fosse ucraniano certamente combateria o invasor, mas o mais importante nos perigos da situação e fazer parar a guerra, abrir outro tipo de negociações, saber lucidamente o que constituem as cedências aceitáveis.

O que explicará o facto dos dirigentes europeus se deixarem envolver nesta absurda e sórdida guerra bem sabendo que se houver uma escalada no grau militar do confronto o continente ficará reduzido a um monte de cinzas nucleares. Quem nos pode garantir que é apenas retórica russa? A bomba atómica já foi usada por quem reivindica ser o leadership mundial e nem sequer fazia sentido, pois o Japão estava de gatas; a bomba atómica é hoje um brinquedo quanto aos seus efeitos em relação às armas nucleares.

Mais do que nunca falta a voz da diplomacia popular- a opinião pública- intervir para desequilibrar a balança e exigir o fim da guerra e negociações que reflitam os diversos interesses. Estamos à espera da vitória de um dos lados? Para que tal suceda o grau de confrontação vai continuar a escalar e depois é difícil parar. A Ucrânia invadida pede mais armas; a Rússia sem conseguir alcançar os seus objetivos ameaçar com mais ataques e os países que se envolvam; tudo na Europa.

Como podem os dirigentes europeus fazerem de surdos e não responderem ao apelo do Papa Francisco para parar esta guerra. Quem os impede de terem voz própria, a voz do continente mais avançado em termos políticos, socias e culturais.

É esta paranoia bélica que desejamos para a Europa e o mundo? Sei que a cada minuto, as vítimas ucranianas ganharam e continuam a ter um estatuto que as vítimas palestinianas, iraquianas, jugoslavas, afegãs, líbias, sírias e iemenitas nunca tiveram nem têm. Há vítimas preferenciais. Doi tanto a destruição do Iraque como a da Ucrânia ou de qualquer outra, a qual jamais poderia deixar de ter a mais veemente condenação.

No cortejo do belicismo atual o que os dirigentes europeus têm a propor é mais armas e mais armas e mais armas? O facto da Rússia ter começado esta guerra não significa que a resposta seja escalar o conflito; claro que não se pode aceitar que o prevaricador seja premiado, mas está o mundo pronto para tirar os turcos do Chipre e de parte do Curdistão, os sauditas do Iémen, Israel da Palestina, os EUA de Guantánamo, Marrocos do Sahara Ocidental? Estará? E acaso é só pela guerra que se consegue tal objetivo?

Pensemos bem para onde estamos a caminhar, mas há desafios que avisadamente o deixam de ser, pois se o passo nuclear for dado, o grau de destruição da Humanidade seria de tal ordem que os vencedores jazeriam ao lado dos vencidos.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s