A GUERRA NA UCRÂNIA E A NOVA ORDEM MUNDIAL EM GESTAÇÃO

Quando no final da 2ª guerra mundial os EUA bombardearam com armas atómicas Hiroshima e Nagasaki estava subjacente àquela infâmia que o verdadeiro alvo era a URSS, pois o Japão estava de gatas.

No fundo tratava-se de fazer um sério aviso àquele país acerca de quem mandava na nova ordem mundial saída do final da guerra. 

Na impiedosa e brutal invasão da Ucrânia pela Rússia o que está em causa parece ser também a criação de uma nova ordem mundial após anos de recuo daquele país no confronto com os EUA que através da NATO o foi cercando de misseis cada vez mais próximos de Moscovo e de todo o território.

Os EUA na sua linha estratégica definiram a China como inimigo a abater tinham todo o interesse em neutralizar (caso pudessem) a Rússia e ficariam seguramente em melhores condições de se “ocuparem” com a China. Longe vão os tempos da amizade EUA/China em que cada um deles se bateria contra a URSS até ao último soldado do parceiro.

A Rússia, a Ucrânia, a China, os EUA e a Europa estão ordenados no mesmo sistema mundial. Todos eles inscrevem as suas economias e os seus modos de vida no sistema mundial capitalista com as suas nuances, sobretudo na versão chinesa.

A invasão da Ucrânia também serviu para apresentar a Rússia como uma potência capaz de marcar de modo decisivo a sua zona de influência depois de ter em algumas ocasiões dado sinais inequívocos do que pretendia e do que tinha para fazer valer as suas pretensões.

Talvez os mais distraídos não tenham tido na devida conta o disparo num dos seus satélites que serviu para mostrar o seu poderio quanto às suas possibilidades em relação à defesa do sistema do escudo protetor dos EUA/NATO, o chamado AEGIS, instalado depois dos EUA se terem retirado do Tratado INF sobre eliminação de mísseis de curto e médio alcance assinado em Moscovo em 1987. 

A Rússia já tinha exibido os seus novos mísseis hipersónicos Kinhzhal que tendo em conta a sua velocidade mostravam a sua superioridade e de certo modo a inutilidade do sistema instalado na Polónia e na Roménia e que custou aos cofres daqueles países rios de dinheiro-big Money para as indústrias da morte.

Ao ter em conta esta realidade, ela de modo nenhum justifica a invasão, apenas se a refere porque essa realidade é mais complexa que a luta entre anjinhos e diabos.

 O batalhão Azov por mais fascistas que tenha não serve para o justificar a invasão. Nem as leis discriminatórias dos ucranianos de língua russa ou das esquerdas ucranianas. Por mais que a Rússia se sentisse ameaçada, a guerra nunca seria a saída. Neste capítulo não pode haver ses, nem mas.

Desta guerra, por outra banda, ressaltam algumas evidências mais ou menos seguras: a irrelevância da União Europeia em termos militares e a sua vassalagem em relação aos EUA; o novo relevo da Rússia no panorama internacional e a consolidação de uma nova ordem internacional em que China e Rússia passam a ter um papel claro de contrapeso aos EUA.

Os novos atores mundiais passam a ser EUA/NATO num polo e China/Rússia noutro. Naturalmente que as coisas não vão assentar já, mas esta parece ser a tendência. Esta guerra na Europa não tem lugar na zona máxima de rivalidade que é a área do Pacífico onde os EUA para se imporem atropelaram a França que agora submissa aceita a hegemonia dos EUA no conflito com a Rússia decorrente da invasão da Ucrânia.

Os europeus da União Europeia não têm nada a propor, como se tem visto, a não ser andar a toque de caixa dos EUA.

Em vez de correrem a comprar armas ao país que assiste à guerra e à crise europeia enriquecendo por estas duas vias, deviam assegurar neste continente um caminho de desarmamento e de segurança para todos os países sem exceção. A Europa já está saturada de armas. O que faz falta é a segurança de e entre todos os europeus, como contributo para a segurança mundial.

A nova ordem, seja ela qual for, irá no sentido da multipolaridade, mas deve ser aproveitada para encetar a diminuição dos armamentos e não no da busca incessante de armas que permitam a quem as descobrir mandar no resto do mundo. Em vez de inflação, miséria, fome e caos social, o mundo precisa que se invista para que todos os povos tenham uma vida minimamente decente e não nos fabulosos lucros do complexo militar-industrial.

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