O espírito vingativo cega – o que era maioria absoluta pode ficar menos que relativa.

Costa, ao contrário do que se podia imaginar, foi tomado por uma súbita atração pelo abismo. O PS tem governado nos últimos seis anos com a convergência dos partidos de esquerda. Ao longo destes anos devido à política seguida granjeou e reforçou de modo substancial a base de apoio eleitoral. As coisas correram bem e o PS saiu mais forte.

Precisando da convergência com outros partidos à sua esquerda é lógico que os diversos interesses sejam tidos em conta. Não passa pela cabeça de ninguém que assim não seja.

O chumbo do orçamento levou a eleições antecipadas “para virar a página”. Pelos vistos as páginas são as mesmas, as do orçamento chumbado.

Costa optou por fazer da campanha eleitoral uma espécie de vingança contra o PCP e o BE. Está no seu direito. Só que crucificar PCP e BE e pedir maioria absoluta pode ser um tiro nos pés. E se o essencial da estratégia for (como tem sido) apresentar o orçamento chumbado por todos os partidos, salvo o PAN, então Costa qual Némesis assume-se como colocando-se contra tudo e todos, salvo o partido de Inês Corte Real. Nem parece ser de António Costa.

Não está a resultar porque era óbvio que o PS não iria conseguir passar a mensagem de que é o único partido com propostas razoáveis e ainda porque Rio percebeu muito bem esta fragilidade de Costa e contra-atacou.

Enquanto Costa zurze no PCP e no BE, Rio diz-se disponível para dar ao CDS a pasta da Defesa e à IL um cargo ministerial. Ora o peso à direita do CDS e da IL é bem menor que o peso à esquerda do BE e do PCP.

Isso significa que o PS tem uma gula desmedida e o PSD apresenta-se com outra razoabilidade no que toca a acordos. E se Costa fala de estabilidade contra os parceiros, Rio premeia os parceiros.

O PS quer tudo. O PSD, mesmo quando o CDS faz prova de vida, atribuir-lhe-ia, caso vencesse, a pasta da Defesa, bem importante.

Se Costa não mudar o azimute pode ser que o pecado da gula e o espírito vingativo o deixe fora do governo com todas as consequências.

Ainda vai a tempo de valorizar o que fez com os seus parceiros, se não ficar amarrado ao orçamento chumbado, ao tempo passado, abrindo um tempo novo de que tanto falou há seis anos.

Por muito que Costa ache que o orçamento devia ter passado, não pode fazer das eleições um ajuste de contas com os seus parceiros, desbaratando todo o capital político que ele e as esquerdas granjearam nestes seis anos. O espírito de vingança nunca deu resultado. Atente-se nas sondagens. Mude para não mudarmos todos para o tempo velho das direitas no poder.

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