A solidão do PCP e do BE na negociação do orçamento

Enquanto o governo do PS negoceia com os partidos à sua esquerda, é curioso assinalar que entre o PCP e o BE, tudo se passa como se lhes fosse aparentemente indiferente o que cada um deles coloca à mesa com o governo.

Salta à vista desarmada que, estando estes dois partidos muito mais próximos nas questões nevrálgicas das negociações, continuam de costas voltadas a sentar-se com o governo do PS como se cada um levasse uma imensa solidão, desprezando o peso negocial que teriam se entre eles houvesse uma clara posição comum nas questões laborais, SNS, Segurança Social, entre outras.

Parece que nas negociações, para além de naturalmente marcarem as suas posições, pretendem sair-se bem e deixar o outro amarrado ao ónus da viabilização ou ao da queda de um governo que não é claramente o que a direita gostaria de ter.

Ou seja, se PCP e BE nesta sede fizessem uma aproximação sobre os pontos em que têm a mesma posição não davam ao governo a possibilidade de escolher à la carte os pontos em que pode ceder a cada um, deixando eventualmente um dos parceiros de fora a votar contra na perspetiva de colher supostamente benefícios à frente em caso de queda do governo. Ou mesmo os dois, sem que esteja claro o que esteve exatamente em causa.

O governo é minoritário e daí ter de aceitar que não há ultimatos. E o PCP e o BE em conjunto deveriam fazer notar ao PS que para continuar a ser governo tem de ceder algo, querendo manter a marca original de ser o que é com a viabilização orçamental dos dois partidos de esquerda mais relevantes. Essa posição em nada alterava a identidade de um e do outro.

Na hora das decisões o PS, o PCP, o BE, o PAN e os Verdes assumem a enorme responsabilidade de apresentar um orçamento e um conjunto de medidas que marquem a diferença de uma governação da direita ou centro-direita.

Provavelmente saíram todos castigados se tendo esta grande maioria na AR não fossem capazes de encontrar saídas para o impasse.

O PS que se lembre bem do passado e sobretudo do que aconteceu há dias em Lisboa e não só.

O PCP e o BE, sem perder a face, que nunca se esqueçam que foram precisos muitos anos para mostrar que era preciso que o eleitorado compreendesse a importância de votar em ambos impedindo a maioria absoluta do PS e assim poder condicionar o governo, como acontece neste momento.

Aqui chegados haja cabeça fria e inteligência para defender o futuro onde estes partidos possam continuar a escrever melhores dias. Se assim não for, a direita assistirá à luta entre eles pela responsabilização do sucedido. Quando voltarão a governar ou a poder influenciar diretamente a governação?

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3 pensamentos sobre “A solidão do PCP e do BE na negociação do orçamento

  1. António Melo

    O comentário é livre, mas não sei se remexer em velhas feridas em momento de alta fragilidade negocial é o melhor caminho para se chegar a uma solução de unidade à esquerda.

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    1. António Melo

      Seja qual for o resultado da votação do OE22, na minha opinião ficou provado que uma plataforma das esquerdas unidas era possível e que ela isolava os partidos da direita. Tenho para mim que pela primeira vez as grandes tendências da esquerda, a saber a da social-democracia ou capitalismo democrático, a do marxismo-leninismo, a do marxismo de leitura trotskista e/ou maoísta, a ecologista, conseguiram estabelecer uma frente comum. Para algumas vozes seis anos de experiência foram suficientes para deixar a claro as suas insuficiências. Para mim, revelaram uma capacidade de diálogo que abre perspetivas a uma revolução social de tipo gramsciana. Oponho-me, pois, aos que põem em primeira linha as “insuficiências” e operam politicamente para reavivar as velhas feridas históricas que permitiram o advento do nazi-fascismo.
      Bom domingo

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