Num país, como Portugal, com séculos de tradição judaico-cristã, onde a culpa social e individual é uma cruz, Passos Coelho, saído desse território nevoeirento, proclamou do alto do poder a punição dos portugueses devido à sua vida desregrada, acima das suas possibilidades.
O país deve a Passos Coelho a primeira versão dos chamados países “frugais” segundo a qual a Holanda das montras de prostituição em Amesterdão se destinam a desvairados habitantes do Sul que só pensam em sexo e copos. O país deve-lhe essa ideia de alguns predicadores luteranos e calvinistas e do nosso velho amigo Schäuble.
O país deve a Passos o chicote que ele usou e abusou para aumentar impostos e levar centenas de milhares de jovens a saírem da sua zona de conforto e a emigrarem.
Qual sacerdote Maia ou alto dignitário do Santo Ofício, Passos interpretou a importância do sacrifício para atingir a felicidade.
O país deve-lhe a maldade suprema de ser castigado por ter aceitado fazer o que os governantes lhe pediram para fazer. Aliás, derrotou Sócrates por alegar não aceitar tanta austeridade e quando ganhou as eleições, com cara gélida de pai tirano proclamou a pobreza generalizada como meta.
O país deve a Passos a ideia que a Escola Pública e a SNS eram assuntos para desinvestir, pois os rankings apontam para a excelência do privado. Manter sim, mas a pensar em serem base de apoio ao negócio.
Deve-lhe as privatizações ao desbarato para que os mesmos de sempre comprassem por uma bagatela importantes setores da economia – CTT, TAP, ANA.
O país deve-lhe aquele rosto sem sorrir, compenetrado, a que Assis chama – serviço, dedicação – desatento às consequências sociais da sua política.
O país deve-lhe a sua ideia de competitividade, fazer de Portugal um dos mais competitivos, com salários baixos e zero de impostos para os empreendedores do costume.
Veja-se o caso dos vistos gold. O país deve-lhe essa vontade firme de fazer do país um enorme condomínio privado para certas famílias de luxo.
O país deve-lhe a peregrina ideia que sem a sua austeridade e empobrecimento, havia de chegar o Diabo e o Inferno, vá lá saber-se porquê…sempre o chicote na melhor interpretação freudiana da moral judaico-cristã.
O país deve a Passos o culto da indiferença perante os mais desfavorecidos. O timoneiro queria que os ricos se tornassem mais ricos e que a riqueza escorresse da pirâmide para a plebe.
Este era o pensamento de Passos Coelho, seguindo a mais pura escola neoliberal, levando o PSD para a direita pura e dura.
A este projeto político-ideológico Francisco Assis qualifica de determinação e serviço. Sem mais. É ele que está à frente do Conselho Económico e Social.