O escândalo em torno da figura acanalhada de Joe Berardo parece que indignou muitos dos nossos dirigentes. Porém, o caso não pode ser visto como algo de anormal na República portuguesa.
A sociedade portuguesa tem conhecimento do elevado grau de envolvimento de altos dirigentes políticos, de banqueiros e de empresários de relevo em processos de corrupção e em crimes relacionados com a indevida apropriação de bens públicos.
Atente-se nalgumas dessas figuras bem encadernadas que arranjaram à martelada um curso superior, pois de outro modo não o alcançariam. Eram todos dos mesmos partidos ou dos mesmos interesses – tratar da vidinha, hoje eu, amanhã tu, e cá te espero.
Há uma espécie de casta que gira entre os partidos chamados do arco do governo, bancos e empresas e cuja missão é enriquecer de qualquer modo.
Muitos dos que hoje se assanham contra Berardo curvaram a espinha para o admirar, o self-made-man made in South Africa de origem madeirense, o empresário que atropelava o inglês e o português, mas era um vivaço e empenhado em mergulhar o país num mar de cultura…Um exemplo.
Tal como Berardo a nata de outros tantos da mesma igualha e até de dirigentes desportivos (pelo menos um) do alto do seu esplendor foi deitando a mão a tudo o que podia abocanhar para subirem mais alto neste nosso reino mais ou menos apodrecido.
Os escândalos rebentam a todo o momento. Já envolvem figuras como um ex-Primeiro-Ministro, ex-Ministros e ex- Secretários de Estado, o ex-dono do maior banco, banqueiros que saíram da política para a banca, altos quadros partidários, empresários de grande relevo, caloteiros que ostentam a sua riqueza e no dia seguinte se declaram insolventes; gente do mais famoso que há e que passou a vida a ser projetada pelos media que realçavam as suas capacidades de gestão. Receberam as Ordens de tudo e mais alguma coisa.
Estes grandes figurões não foram só ao pote do dinheiro. Também foram ao pote das medalhas. O novo-riquismo tem necessidade de se legitimar dada a velocidade com que muitas dessas figuras passaram de simples empregado/funcionário a altíssimos quadros partidários ou gestores ou dirigentes desportivos ou até a banqueiros. As condecorações eram psicologicamente uma espécie de carta de apresentação das qualidades.
Os donos disto tudo precisavam e precisam de ter os seus políticos e levá-los para a boa vida. Eram precisas parcerias com o dinheiro público. Era preciso privatizar. Era preciso entregar as riquezas do país aos magnatas chineses, norte-americanos, franceses, alemães, a quem quer que fosse. O que contava era tornar os mais ricos ainda mais ricos. E receber os respetivos agradecimentos. C’est la vie.
São muitos os homens que foram condecorados e têm o nome na lama. E para a lama arrastaram as instituições. Que respeito pode merecer uma condecoração? São casos a mais. Quando se fala em combater o populismo que se está disposto a fazer para que o povo português acredite que o crime de colarinho branco e de altas figuras é para ser combatido e punido? Ou continuará a servir de arma de arremesso de luta partidária, ora revelo eu, ora revelas tu…
Face a este vendaval de gente sem escrúpulos, faltam sair à liça as mulheres e os homens escrupulosos, dedicados à causa pública, que querem servir as instituições e a República. É de crer que seja possível à esquerda e à direita encontrar mulheres e homens capazes de limparem as manchas da corrupção. As nódoas expandem-se, se não as cortarem.
Reflexão oportuna e correcta. As práticas dos ditos “senhores” do poder são inadmissíveis, são escandalosas e desacreditam a política que deveria ser uma actividade nobre e, por isso, expurgada desta gente canalha.
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