Os escândalos sexuais da Igreja católica

Os escândalos que abalam a Igreja, atingindo os seus cumes, colocam diversas questões, muitas das quais abordadas na Cimeira de Roma, convocada pelo Papa Francisco.
O local de onde foi transmitida uma das intervenções do Papa apresentava uma certa frugalidade requintada, que de imediato contrastava com os sítios onde nasceu o cristianismo.
Alegando a Igreja ser casa dos pobres, os seus mais altos representantes estavam mais próximos de um luxo “exquisite” do que das condições em que vivem os pobres e remediados deste mundo.
Sabe-se historicamente a incapacidade da Igreja para lidar com o sexo e até com a igualdade de género, denotando desde São Paulo até aos nossos dias uma amarga inclinação misógina.
A Igreja Católica, apesar do esforço do Papa Francisco, ainda age como se pertencesse a um mundo à parte.
O padre, o cónego, o bispo, o arcebispo e o Papa são homens de carne e osso; nem piores, nem melhores que os outros, apesar de concederem o perdão aos crentes católicos quando lhes revelam os pecados.
Ora só há padres porque há homens. E, portanto, os padres padecem dos mesmos defeitos de fabrico que os restantes homens.
A pedofilia não é obra do diabo, embora se possa perceber o sentido que Francisco quer atribuir ao significado. Se o diabo encarna o horror, aquelas condutas são diabólicas, ainda mais vindas de quem devia praticar a virtude.
Mas a verdade é que os criminosos que violam crianças, jovens, homens e mulheres sabem que o fazem estando-lhes vedado na sua consciência que o façam. Os representantes da Igreja que cometeram esses crimes fizeram-no podendo não fazê-lo. Ninguém lhes apontou uma arma.
Os casos são suficientes para que não se diga, como fez o arcebispo de Lisboa, que são tão poucos que pela sua dimensão ronda a insignificância. Não, atingiu o próprio tesoureiro do Vaticano. O que veio a público em todos os continentes nestas revelações em curso e por terminar é bastante para se perceber a dimensão e a extensão do mal.
A Igreja ao impor o celibato afasta-se dos outros seres humanos, querendo apresentar esse comportamento como uma virtude.
A ideia de Cristo sobre o casamento não é conhecida, sendo que alguns dos seus discípulos até eram casados.
O celibato é assunto que decorre de decisões humanas e como tal sempre passiveis de serem avaliadas à luz da experiência.
Sendo o ser humano dotado de sexo e sendo este um elemento de relevância no equilíbrio de cada um, forçoso é concluir que a sua privação há de ter consequências.
Os leigos também cometem crimes de natureza sexual, incluindo pedofilia, mas sendo verdade, nem por isso se pode deixar de questionar se os padres da Igreja Católica não seriam homens mais humanos, mais próximos dos outros homens e mulheres, se pudessem casar. Uma coisa é o celibato imposto, outra é optar pelo celibato. O celibato não é, como se vê, algo que dá ao padre superioridade e que o eleva acima dos outros homens e mulheres porque não pratica sexo, o que significa que por essa ausência do chamado pecado venial se torna um ser de outra dimensão mais virtuosa.
Encarar o sexo como algo pecaminoso, embora desculpável, algo que os padres não devem assumir, ajuda, em parte, a compreender o desvio do impulso sexual para zonas onde não devia acontecer.
A ideia de que nascemos de um pecado, que foi o dos progenitores terem tido sexo, é algo que colocará sempre a Igreja virada para os tempos medievais e fechada à modernidade.
Nas imagens transmitidas da Cimeira a coragem de Francisco não chegou para mudar e trazer uma abordagem à vida sexual dos padres consentânea com o seculo XXI.
In Público online de 27/02/2019

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