Os eurodeputados que no aeroporto de Caracas não tiveram autorização para entrar no país pelas autoridades constituídas, antes de viajarem, tendo em conta a sua experiência política e a dos respetivos partidos, tinham consciência que podiam enfrentar aquele desfecho.
Apesar disso foram e transformaram a viagem frustrada numa ação de propaganda, à qual se associou Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Os eurodeputados decidiram entretanto que voltariam, no dia 23 deste mês, acompanhando a ajuda humanitária que os EUA e Guaidó querem fazer entrar pela fronteira da Colômbia, não obstante a total oposição do Presidente Nicolás Maduro.
Trata-se, com efeito, de uma decisão arriscada, pois se as autoridades venezuelanas não permitirem a entrada da declarada ajuda, o que voltará a suceder é que os eurodeputados com ou sem Rangel não cumprimentarão Juan Guaidó.
Presumindo que saberão dessa possibilidade (não é preciso um coeficiente de inteligência elevado) cabe perguntar qual é o interesse desta viagem. Mostrar à Europa e ao mundo quem manda na Venezuela? Já se sabia… De novo surge o objetivo propagandístico, insistindo os senhores eurodeputados na desgraça que é o regime de Maduro por os não ter deixado ir ter um encontro com o autoproclamado Presidente Guaidó.
Os eurodeputados cuidarão que poderão responsabilizar o governo pelo facto dos camiões ao chegarem à fronteira venezuelana serem impedidos de entrar pelas forças do exército venezuelano e ganhar apoio na população por lhe ser negada a tal ajudal?
E, dentro dessa ordem de ideias, não restará aos donos da ajuda outra via que não seja a de imporem manu militari a entrada no território para salvar os venezuelanos que sofrem com a ineficácia do governo e com as duras sanções de Trump? E assim juntar à desgraça a pior de todas que é a guerra.
Dito de outro modo, estarão os eurodeputados e o Presidente dos EUA, empenhados em tentar demonstrar que o impedimento da entrada da tal ajuda humanitária é a gota de água para poderem intervir militarmente na Venezuela, à margem de todo o direito internacional?
Analisando a bondade da iniciativa por outro prisma: é aceitável que Trump congele bens venezuelanos e ameace com sanções todos os bancos e empresas que negoceiem com o regime, sabendo que desse modo impede o governo de socorrer a população? O homem do slogan America First e do muro a todo o custo converteu-se num generoso internacionalista? Quem acredita para além de Assunção Cristas?
É de admirar que poucas vozes se levantem a questionar, à luz do direito internacional, como podem os EUA, sem o aval da ONU, lançar uma guerra à Venezuela, provavelmente para se apoderar do petróleo, ouro e gás natural, tal como o fizeram no Iraque com todos os horrores que ainda hoje estão bem vivos no país, na região e no mundo.
A guerra está vedada à luz da Carta das Nações Unidas. E bem. Só situações absolutamente excecionais o poderiam justificar.
Mas essas situações não são as que decorrem da cabeça de Trump, mas das instâncias internacionais encarregados de darem o seu veredito. Trump pode arvorar-se em dar ordens aos generais venezuelanos para os intimidar, mas isso decorre da sua “filosofia” imperial que entende que a Venezuela só poderá agir como os EUA decidirem, de acordo com a velha doutrina Monroe.
É este o ponto em que se encontra a Venezuela. A viagem não passa de um condimento que Trump utilizará ou não para levar a cabo o seu plano de (se puder) de passar a ter em Caracas quem lhe telefone a saber o que há de fazer.
In Público online de 21/02/2019
Nao entendo como um democrata pode apoiar um regime ditatorial como o de Maduro, sendo do conhecimento geral que as eleicoes nao foram livres. Penso que os Estados democraticos devem utilizar pressao politica e economica para ajudar Guaidar no seu esforco para conseguir eleicoes livres para a Presidencia. Nao se pode escamotear a importancia estrategica da Venezuela no mar das Caraibas, com as suas enormes reservas de petroleo. Segundo as noticias, Cuba tem varias centenas de agentes cubanos na Venezuela, tratando da seguranca de Maduro. Recordo durante a Guerra do Ultramar o papel dos militares cubanos ajudando o PAIGC contra as nossas tropas e tambem em Angola. Varios milhoes de venezuelanos e de cubanos tem fugido da Venezuela e de Cuba em busca de uma vida melhor.
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Segundo as notícias as coisas não são bem assim e do que eu escrevi concluir que apoio um regime ditatorial onde há eleições e manifestações… O que sublinhei foi a hipocrisia de impor sanções à Venezuela, impedi-la de socorrer a população e depois enviar-lhe ajuda ou eventuais misseis…acontece que a guerra é proibida , salvo no caso da ocupação de um país como era o caso da Guiné Bissau. O PAIGC levantou-se contra o ocupante e teve a ajuda dos cubanos. Os ocupantes eram os colonialstas portugueses que impunham a guerra e uma ditadura em Portugal. Defendo uma solução política negociada e rejeito uma intervenção militar.
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Concordo com Domingos Lopes, do Público, quando escreve e cito a parte final do seu artigo de 22 de Fevereiro de 2019: “Analisando a bondade da iniciativa por outro prisma: é aceitável que Trump congele bens venezuelanos e ameace com sanções todos os bancos e empresas que negoceiem com o regime, sabendo que desse modo impede o governo de socorrer a população? O homem do slogan America First e do muro a todo o custo converteu-se num generoso internacionalista? Quem acredita para além de Assunção Cristas?
É de admirar que poucas vozes se levantem a questionar, à luz do direito internacional, como podem os EUA, sem o aval da ONU, lançar uma guerra à Venezuela, provavelmente para se apoderar do petróleo, ouro e gás natural, tal como o fizeram no Iraque com todos os horrores que ainda hoje estão bem vivos no país, na região e no mundo.”
O ataque à Venezuela para se apoderarem do petróleo faz de Tramp e seus pobres seguidores uns autênticos abutres…
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