La pauvre France de Macron

Os franceses têm, ultimamente, eleito Presidentes da República com enormíssimas votações, arrependendo-se mais tarde.

Sarkozy foi copiosamente derrotado por Hollande, que por sua vez nem se recandidatou e fez com que o PS quase desaparecesse do mapa eleitoral. Entretanto, entronizaram como Presidente o homem da economia de Hollande, que saiu a tempo do governo para se lançar à conquista da França.

Bastou para tanto anunciar que ia reformar e mudar a politica e ao que parece os franceses gostam destas mise-en-scène, ou seja, têm uma certa sedução por serem enganados e poderem continuar a criticar os de cima, isto é, aqueles que elegeram para mandar nos de baixo.

A grande França que De Gaulle encarnava posicionava-se como ponte entre o Ocidente e o Leste eclipsou-se. Com Pompidou e Giscard, ainda houve uns ares de De Gaulle.

Com o socialista Miterrand começou o grande alinhamento com a NATO, os EUA e a Alemanha, sobretudo depois da guerra contra a Jugoslávia.

Chirac teve a grande dignidade de não embarcar na invasão do Iraque a toque de caixa de Bush/Blair/Aznar/ e os ajudantes de campo Barroso e Portas.

Agora com Macron no Eliseu, a França, que no terreno económico-social perde cada vez mais competitividade, vira-se para onde pensa que é grande, por ser potência nuclear, tentando mostrar à Alemanha a sua indispensabilidade como parceiro maior.

Macron, o homem dos poderosamente ricos, foi visitar o amigo Trump, outro que tal a adorar salas cheio de peças de oiro e de requintes de grande riqueza.

Macron, levado pela mão de Trump, deslumbrou-se de tanto protocolo, de tanta “importância” ao lado do Presidente do país mais rico do mundo à espera de receber Merkel, para quem Macron e Trump perdem em termos da economia dos respetivos países.

Antes da chegada de Merkel, Macron foi a correr para andar de mão dada e aos beijos ao Presidente mais impopular dos EUA e que quer apunhalar a Europa com a anulação do acordo com o Irão assinado pelos EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Rússia e Irão, além de querer impor eventuais taxas sobre produtos provenientes da U.E.

Macron ficou deslumbrado com o fausto das várias encenações trumpianas para o ouvir vacilar quanto ao modo de lidar com o Irão.

Macron levou a França a rastejar diante de um homem que não deve saber, nem sequer conhecer a história da França tão cheia de contributos para a civilização que vivemos.

Macron sempre esteve com os mais poderosos da terra, nomeadamente os Rotschild, depois foi para o governo para dar o salto, abandonar Hollande e ficar no Eliseu, imaginando-se nas Torres de Trump , onde tudo reluz e ou tremeluz.

O homem que corta os impostos aos muito ricos em França e castiga os pobres só podia dar-se muito bem com o homem que quer fazer um corte histórico de impostos aos mais ricos dos EUA. Têm ambos a mesma ambição, serem benzidos pelas poderosas mãos dos fabulosamente ricos.

Para esse fim Macron participou ao lado de Trump nos bombardeamentos à Síria, portando-se como ex-potência colonial daquele país, criando a ideia, não comprovada, de que o regime sírio teria lançado armas químicas contra a população, no preciso momento em que os “rebeldes” jiadistas que atacam a França e os franceses eram derrotados pela aliança entre os sírios e os russos.

A França que vive por estes dias cinquenta anos de comemoração das barricadas de Maio, levou a Washington, à sala oval, um Presidente a deixar cair máscara com que tapava o verdadeiro rosto de um homem igual a tantos outros que passaram pelo Eliseu para defender os muitos poderosos e atacar os povos e países de África e do Médio-Oriente. França, a grande França, transformada na pobre França de Macron.

Texto publicado no Público de 01/05/2018       

 

 

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