A Quem Roubou Prometeu o Fogo?

 

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O homem apesar de ser moldado pelas circunstâncias materiais que o envolvem, encerra em si uma tremenda necessidade de espiritualidade.

O impacte de tudo quanto o rodeia tem uma enorme repercussão na forma de o reproduzir e de o suplantar.

Talvez a consciência da morte e a efemeridade da vida o obriguem a sonhar, a recriar a existência e a aspirar à imortalidade.

Quando Prometeu, de acordo com a mitologia grega, criou a raça humana e lhe concedeu o dom de raciocinar, deixou Zeus colérico.

Para se aproximar das suas criaturas roubou o fogo do Olimpo: o que levou Zeus a castigá-lo e a agrilhoá-lo no alto do monte Cáucaso por trinta mil anos (nada para um imortal) e a ser picado todos os dias por uma águia que lhe comia o fígado quase todo. Afinal Prometeu tinha fígado como os humanos.

Estas e outras estórias nos foram narradas por humanos porque a Prometeu nunca ninguém o ouviu falar. O destaque vai para Ésquilo que no século quinto A.C. que escreveu a tragédia “Prometeu agrilhoado”.

Os humanos são seres extraordinários para o bem e para o mal. Inventaram princípios religiosos que os ajudaram a viver com maior coesão, mas tão depressa os inventaram como os pisaram. E outras normas criaram.

Prometeu foi inventado? Ou foi Prometeu que inventou os humanos? Quem inventou o fogo?  Não terá sido o homem a ir levar o fogo a Prometeu, apesar de Ésquilo?

Há na Birmânia templos magníficos que encerram outro tipo de espiritualidade, a devoção a Buda.

Há os que são verdadeira arte e outros que são apenas locais de culto. No cômputo geral são dezenas de milhares.

Na Ásia, nomeadamente no Sudoeste asiático, a relação com os deuses é bem mais liberta de formalismos.

Entram nos templos, aproximam-se do altar, oferecem o que trazem e pedem o que os move.

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Entra um casal de jovens tão compenetrados do seu amor e do ramo para oferecer a Buda e dirigem-se à imagem e ali o deixam após se curvarem.

É humano pedir a quem se considera ser superior. Ás vezes esperando pelo milagre para cumprirem a promessa, outras vezes pagando antecipadamente.

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Não parece haver dúvidas que na viagem dos humanos por este mundo não lhes basta a realidade material. Precisam de mais. Precisam de inventar. Criar. Reinventar.

E imaginar o poder que não têm, saber o que não sabem. E usufruir o que a vida nem sempre oferece, mas que se imagina.

Há, também, por isso, muito encantamento e beleza que só as palavras dos poetas descobrem.

Os artistas que imaginaram o templo de Mahamuni Paya,  em Mandalay, seguramente tinham dentro de si um inflamado fervor espiritual de devoção a Buda.

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Ali diariamente milhares de pessoas, a maioria pobres, vão colocar pequeníssimas folhas de ouro na estátua de bronze de Buda e pedir para terem a sorte.

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Os homens são seres incríveis. Fazem estátuas e imagens de divindades e de ídolos. Dão -lhes e pedem–lhes  o que não têm.

2 pensamentos sobre “A Quem Roubou Prometeu o Fogo?

  1. “Logo que o Homo sapiens, com a ajuda das ferramentas que foi criando, passou a dispor do ócio indispensável à reflexão, começou a criar outro tipo de ferramentas, não já em pedra, que o auxiliariam a capturar algo bem mais arredio do que os animais que caçava – a existência para lá da sua individualidade e para lá da sua finitude. Num caso, como no outro, individualidade e finitude, a ferramenta foi o mito, que se plasmou nas literaturas orais (cf. Mircéa Eliade). Todavia, uns tantos dos nossos antepassados ter-se-ão especializado na busca dos caminhos da eternidade: projectaram-se em seres ideais, muito à sua imagem e semelhança, ergueram altares, juntaram seguidores, coreografaram ritos, viveram a comunhão, e ao seu arrebatamento chamaram religião; outros espécimes, conscientes ou não da sua incontornável finitude, terão reconduzido o que podia ter sido religião à mais modesta dimensão que é a da estatura do homem: religando-se, fizeram-se poetas, fizeram-se artistas. O ficcionista é descendente directo desta linhagem do Homo sapiens. Acontece que, mesmo quando sente interiormente o apelo do divino, ou do que julga ser o divino, ao criar um universo paralelo ao do seu deus, o artista como que se lhe iguala e por este acto o despromove a comparsa. A arte é a religião sem deus.”

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