É tempo de fazer esta pergunta : que tipo de “união” é esta União Europeia? Os membros desta união são Estados, uns quase milenares, outros com séculos e ainda outros relativamente recentes, mas todos Estados representando essas mesmas nações.
Cada nação está impregnada de grandezas e misérias que constituem o magma mais profundo de cada uma delas; todas com essa carga histórica e presente que as diferenciam. Basta assistir aos jogos de futebol do Euro 2016…
Um projeto de união de países com graus muito diferentes de desenvolvimento requer um respeito profundo pela singularidade de cada qual e uma atenção especial para que os menos desenvolvidos ao entrar neste clube não sejam vistos pelos mais desenvolvidos como uma espécie de um conjunto pertencente a um outro escalão inferior.
A união não pode ser uma espécie de torniquete onde os mais fracos são espremidos a tal ponto que o futuro é ser o campo de férias dos mais ricos ou o local onde se pode pagar aos indígenas muito menos que aos da primeira divisão, como no sistema neocolonial instalado pela globalização.
Uma união, onde os mais poderosos por serem mais avançados do ponto de vista tecnológico pretendem manter esse estatuto criando normas que o consagrem, tirando partido das vantagens de um mercado que as suas empresas dominam, nunca será uma verdadeira união, mas uma cruel desunião que acabará mal.
O domínio de uma região poderá ser feito por via das armas, mas é, hoje, seguro ser mais eficaz se for feito a partir da economia, sem ser preciso dar um tiro.
Em termos de relações internacionais ninguém pode levar a mal que cada nação se defenda e queira assegurar para si e o povo respetivo um futuro digno; por isso, nunca se deverão aceitar regras que em vez de favorecerem esse desígnio, antes o impedem.
Do ponto de vista estratégico Portugal não pode pugnar por um isolacionismo que o penalize, mas deve aceitar permanecer num clube onde é remetido para uma espécie de divisão inferior?
Poderá haver (parece que há) algum português ou alguma portuguesa ( parece que sim ) que não queira que Portugal avance e crie condições para se tornar um país onde a maioria da população não tenha que ser sujeita a um tratamento de polé empobrecendo mais e mais para que países mais ricos da UE possam tirar partido da lusitana pobreza?
Portugal entrou para um sanatório com coletes de força em volta dos países contagiados pelo “pelintrismo” ou para um clube de nações iguais, embora diferenciadas por todo um conjunto de elementos históricos e atuais?
Os alemães capitaneados pela grande imperatriz e os seus vizinhos parecem não querer entender que também não vai ser pela economia que vão dominar a Europa. A razão é simples: os outros que não são alemães ou beneficiados como eles não o querem e não querendo, não querem. Pode haver temor pelo futuro, haverá, mas é próprio dos humanos fazerem o seu futuro, mais tarde ou mais cedo.
É esta arrogância que faz muita gente desconfiar desta união e que leva a que a extrema-direita manipule demagogicamente sentimentos nacionais para angariar apoios e levar a água ao seu moinho.
É absolutamente inaceitável que haja dentro desta união uma espécie de países que estão acima das regras e outros sobre quem as regras se aplicam implacavelmente. Inaceitável. Será a desunião que vingará nesse pântano de desordem.
Pululam nos média comentadores muito “assustados” pelo facto de se não forem aplicadas sanções a Portugal alegando que UE perderá a credibilidade se as não aplicar; não levantando, entretanto, um dedo para fazer valer que os Estados na UE são todos iguais e que só no Conselho de Segurança da ONU é que há Estados com poderes que outros não têm.
Não é de agora que os que perderam a dignidade dão tudo e mais qualquer coisa para que os outros que a não perderam se assemelhem nesses comportamentos vergonhosos.
No texto publicado hoje, dia 5 de Julho, por José Miguel Tavares no jornal Público apelida de disparate criminoso a reversão das medidas do governo anterior de braço dado com o Sr. Schäuble e Cª no ataque ao governo português por ter a coragem de ter estancado a política de empobrecimento dos portugueses…
O império precisa de indígenas nas satrapias que o defenda. E tem-nos. Mas encontrará seguramente quem defenda o país respetivo, tal como os alemães defendem o seu. Há exceções. Sempre houve. Em todo o lado. Já não é novidade. É a tristeza repetida da condição humana na sua vertente ignóbil e rastejante.