O povo é melhor que os políticos, disse um homem cuja política tem preenchido toda a sua vida, juntamente com a carreira académica.
Marcelo, desde muito, muito jovem, já sonhava com a política. Foi Presidente de um partido político, o PSD; foi candidato derrotado a Primeiro-Ministro, disse na altura que tinha tido um sonho, como Luther King; foi candidato derrotado a Presidente da Câmara Municipal de Lisboa; levou anos na RTP e na TVI a falar de política; é sem dúvida um homem político. A política preenche-lhe os poros todos.
Foi o povo português que o elegeu. Tal como deu ao PSD uma maioria relativa; e ao mesmo tempo deu ao PS, BE e PCP uma maioria parlamentar.
Ora a ideia que o povo é melhor que os políticos é no mínimo estranha e bizarra para quem ocupa o mais alto cargo político em Portugal.
A ideia pode agradar aos que o ouvem; ajuda à prossecução da campanha contra os políticos, tal como o fazia noutro estilo radicalmente diferente Cavaco Silva, do alto da sua “moradia” em Belém.
Marcelo não é masoquista, ao que se saiba; envereda por um caminho perigoso ao colocar-se acima de todos os outros políticos; por que o faz?
O povo que elege as elites, identifica-se com quem elege, caso contrário não votaria em quem vota.
O povo pode estar e estará condicionado em aspetos importantes, mas ao escolher quem escolhe e não escolher outras opções, significa que aceita o que escolhe.
Ao escolher Passos, Portas sabe quem escolhia; podia até não confiar neles, mas entre esses e os outros escolheu aqueles, porque no fundo há portugueses que se identificam com aquelas ideias.
Ao escolher PS, PCP e BE dando-lhe uma maioria parlamentar é porque seguramente queria quem escolheu.
Os consensos são em torno de questões concretas e obtidos a partir de certas premissas as quais posicionam os negociadores.
Os consensos são formas de compromissos assumidos por uma maioria para fazer uma determinada política que certamente é imposta a toda a sociedade, por ser exatamente maioritária.
Daí que Marcelo ao invocar afetos na prossecução da política sabe que governar não é uma atividade que se faça a partir exclusivamente de afetos; governar gera afetos e azedumes, simpatia e antipatia, apoios e ódios.
Afetos são muitas vezes usados para enganar o povo e sacar-lhe o voto
Ao colocar o povo acima das suas próprias opções políticas, Marcelo está a jogar um jogo perigoso.
Ele nasceu político, viveu a política como poucos, é da cabeça aos pés um político e, por isso, se se coloca acima do que não é, vai seguramente desprestigiar os políticos. Cuspir no prato de sopa que se está a comer é feio. Muito feio. Será que a hiperatividade de Marcelo o está a trair?