Os média deram conta no dia 16 deste mês que todos os dias morrem doze portugueses com infeções hospitalares.
Por motivos diversos, alguns perfeitamente evitáveis, uma parte dos portugueses que vão aos hospitais para serem curados, saem mortos.Sublinha-se uma pequena parte, mas significativa apesar de tudo; doze mortos por dia é algo que assusta.
O problema apenas começa naquele momento para os herdeiros do falecido; a justiça portuguesa padece das mesmas bactérias e vai infetar com outras bactérias o tecido comunitário onde residimos e que é a base da nossa justiça.
Quer entre moribundo ou lúcido ou atordoado o cidadão ou seus herdeiros têm de saber provar aos senhores juízes que a infeção contraída no estabelecimento hospitalar resultou de um ato culposo do enfermeiro ou do médico.
Imaginemos que o paciente é sujeito a uma punção para lhe retirar sangue para um conjunto de análises e no ponto da punção infiltra-se uma perigosa bactéria hospitalar. Cabe ao desgraçado vítima da punção provar que quem colheu a amostra agiu com culpa e desvirtuou a leges artis, mesmo havendo uma perícia médica que conclua que foi aquele o ato que provocou a infeção bacteriana que levou o paciente às portas da morte… Chama-se a isto responsabilidade extra contratual que existe no Serviço Nacional de Saúde.
É grave que nos hospitais morra tanta gente por motivos evitáveis; porém é ainda mais grave que na chamada à responsabilização dos maus profissionais do SNS, os infratores se escondam num sistema iníquo e que privilegia a incúria e a irresponsabilidade dos profissionais de saúde que agem com culpa e obriguem os cidadãos indefesos à prova diabólica de adivinharem onde o profissional agiu com essa culpa.
Uma coisa é a bactéria que entra de modo inevitável, outro é a bactéria que resulta de condutas perfeitamente evitáveis.
Que pode dizer o cidadão A. acerca da seringa utilizada pelo senhor(a) médico(a) ou enfermeiro(a) B.? Como pode saber se a seringa estava devidamente desinfetada e se não estava de quem é responsabilidade?
Há infeções a mais nos hospitais. E nos tribunais.É preciso uma lavagem das infeções hospitalares e nas mentalidades reinantes nos tribunais e nos legisladores.