Os compromissos são, em certo sentido, o sal e a pimenta da política. Sem eles não haveria política no sentido mais puro da palavra.
Atentemos na decisão irrevogável do único homem que em Portugal é previsível e não tem fome de poder – Paulo Portas – e na capacidade de Passos de o chamar para Vice Primeiro -Ministro. Saiu e entrou. Lá está o compromisso. Manteve-se a coligação, passou à frente de Maria de Lurdes Albuquerque e levou Pires de Lima para a economia.
Os compromissos à direita parece que são naturais. À esquerda não havia compromissos. Só críticas.
A esquerda parece ter aprendido, à custa de muitos anos, que o seu enconchamento por mais razões que cada força pudesse ter, era benéfico à direita.
O deslizamento gradual do PS para o centro e para a direita dava argumentos ao PCP e ao BE para o atacar e mantê-lo no ponto de conforto onde ele queria estar.
O PS aproveitava e queixava-se do tratamento que o PCP e o BE lhe davam. Foram anos a fio neste andamento.
O crescimento do BE e a consolidação do PCP e a conquista nesta área de quase um milhão de votos, aliada à maioria relativa do PSD e à situação interna no PS criaram condições para ultrapassar a situação vivida até às eleições.
Na verdade só haveria um governo da direita se o PS quisesse a partir do momento que PCP e o BE assumiram a disponibilidade para negociar um acordo com o PS.
À esquerda o BE e o PCP sabendo da tendência do PS para fugir para a direita souberam dificultar a manobra e criarem-lhe dificuldades em manter o tal arco e fizeram-no abrir.
Foi o que fizeram, primeiro Jerónimo, mereceu uma chapelada. Depois Catarina, outra chapelada.
Para os puristas de esquerda que exigem do PS aquilo que ele não é e para os ultra liberais do PS que exigem a conversão do PCP e do BE ao que não são, o que lhes importa não é travar o empobrecimento do país, mas convocar a diferença.
O que está em causa neste preciso momento é parar a política de empobrecimento dos portugueses e de Portugal. Criar condições para o país avançar na dinamização da economia com base em condições de uma vida decente para todos e todas.
Se as três forças ousarem alterar a política de desgraça que Passos e Portas seguiam e derem azo a que os portugueses se sintam capazes de traçarem o seu futuro em terras de Portugal e lhes derem bases para confiarem haverá razões para crer que o compromisso tenha êxito.
Não será fácil. Há muitas diferenças. O pior será cada um ficar à espera que o outro se afunde e depois conte com um resultado mais favorável. Há sérios riscos sobre uma política fundada em tais cálculos. Desde logo porque pôr fim à política neo liberal da coligação é um elemento chave. Quanto mais tempo a coligação se assenhorear do país mais o empobrece; e o empobrecimento vem acompanhado pelo enfraquecimento do próprio regime, pela fuga para a emigração e pelo desânimo nacional. Convém ter presente o desígnio de Passos fazer de Portugal o país mais competitivo do mundo, o que equivale a dizer com menos direitos e com mais baixos salários.
Sem dúvida que há questões importantes em que o PS, o PCP e o BE têm grandes diferenças, desde logo em relação ao euro, ao Tratado Orçamental, à NATO, mas do que se trata neste momento histórico é de parar a política de empobrecimento e criar condições para acumular forças para uma viragem mais funda.
Nem o PS pode pedir aos outros que abandonem a sua identidade, nem PCP e BE o podem pedir ao PS. Em cima da mesa está a tarefa de valorizar denominadores comuns mínimos e provar à população que estas três forças podem representar a esperança que de certa forma estava a perder.
Este é talvez o maior desfio para cada uma destas forças. Que a Costa, Jerónimo e Catarina não lhes falte a coragem. E cada um percebendo as diferenças, valorize o que os faz convergir. A hora é de fazer trazer à tona o que é denominador comum. As diferenças, por maiores que sejam e são, podem aguardar novos tempos.
O tempo é o único capaz de resolver os problemas de amanhã; os de hoje só com inteligência e firmeza em bases capazes de gerarem condições para que o tempo resolva os problemas vindouros em condições mais favoráveis à maioria do povo português.
Este tempo de chantagem que o governo levou a cabo pode terminar e com ele a política de miséria material e espiritual. Que cada um faça o que tem de fazer.