A Arte dos Compromissos Necessários

O PCP participou no 1º governo provisório e tinha no seu programa a implantação da ditadura do proletariado. Há alguém, no seu perfeito juízo, que tenha acreditado que o PCP quando foi para o governo ia com a intenção de instaurar a ditadura do proletariado?

O PCP participou com o PS e o PPD num governo cuja missão foi criar condições para democratizar o país e realizar eleições para uma Assembleia Constituinte que por acaso constava do programa do PCP.

Os ministros e secretários de estado no seu desempenho foram inexcedíveis e mostraram a capacidade do PCP para assinar compromissos e respeitá-los.

O PCP sempre se pronunciou contra a NATO e apesar disso participou nos governos provisórios.

Uma coisa é o programa de um partido, outra é a necessidade de negociar um governo cujo objetivo não é cumprir o programa desse partido, mas sim encontrar acordos que viabilizem a ação governativa dos parceiros do acordo.

A arte da política não é o que fez a coligação PSD/CDS que mal se apanhou com a maioria absoluta governou sem freio impondo a austeridade à rédea solta, o que sempre negou que faria.

A estabilidade é um meio para atingir uma boa governação. E essa estabilidade, resultante de uma maioria absoluta que os eleitores recusaram, pode ser um péssimo meio, pois permitirá a quem a tem fazer mais ou menos o que quer, mesmo o confronto com o Tribunal Constitucional como foi o caso do governo.

Os programas do PCP e do BE são diferentes dos do PS; ainda bem. O PS bem pediu a maioria absoluta, mas não lha deram. Os eleitores deram um milhão de votos ao BE e PCP e fizeram-no por eles terem o programa que tinham.

Os três pronunciaram-se  contra a política de austeridade da coligação; é, pois, normal que tentem negociar uma saída para assegurar um governo com uma política diferente e que estanque o empobrecimento do país.

Claro que o PS tem uma política que poderá estar mais próxima do PSD, mas por motivos que têm a ver com a política na sua dimensão bela e cruel está nesta fase a negociar de modo mais fiável com o PCP e o BE.

António Costa sabe que há o tal caminho das pedras que falou Catarina e Jerónimo insistiu no sábado que só não governo se o PS não quiser.

Os compromissos foram tratados por vários políticos entre eles Vladimir Iliche Ulianov, o célebre Lenine, e Álvaro Cunhal no livro Radicalismo pequeno burguês de fachada socialista. Ambos alertaram e denunciaram as tendências de alguns puristas que do alto do seu palavreado fustigavam os compromissos. Veja-se por onde andam agora alguns desses puristas. Um até foi parar a Presidente da U.E.

A vida de cada um é um compromisso entre as células. A vida social também o é.

A estabilidade pode ser um bem em primeiro lugar para as pessoas, ao contrário de alguns que vêm nela um bem para as empresas e mercados e dizendo-se personalistas cristãos. Quem está primeiro? As empresas foram criadas para as pessoas e que se saiba ainda não apareceu filosofia ou religião a proclamar que as pessoas nasceram das e para as empresas, antes se concorda que quem as criou foram gentes deste mundo.

A estabilidade resultante de um acordo pode ter mais virtudes que defeitos na medida que não dá a uma só força todo o poder, obrigando a uma negociação que assegure interesses diferentes, protegendo-se assim um interesse muito mais vasto da sociedade.

E ainda vale a pena perguntar à coligação: a estabilidade assegura-se com demissões irrevogáveis?

Os comentador@s cheios de autoridade democrática que permanecem dia e noite nos canais televisivos e radiofónicos nunca ousaram perguntarem a si próprios com alguma modestia se os eleitores (um milhão) que votou no BE e no PCP não sabiam em quem votavam?

Como sabiam não lhes passa a@s senhor@s pela cabeça que isso tem de ter algum efeito prático que é o de ter em conta essa aspiração dos seus compatriotas?

A direita teve mais votos que o PS, mas não teve mais votos que o PS, BE e PCP juntos, ou não é verdade?

Nenhuma pirueta por mais sofisticada que seja pode esconder esta realidade. Ela entra pelos olhos dentro. O PSD teve mais votos e depois? Se Cavaco indigitar Passos ele não passa se o PS não o deixar. Estas são as regras da democracia parlamentar, ou não são?

Haja tento o que parece não haver nas cabeças completamente formatadas de tanto fossarem na redoma em que vivem e acabarem por acreditar que só há aquele mundo. Adaptem-se. Leiam o Darwin.

2 pensamentos sobre “A Arte dos Compromissos Necessários

  1. Miguel Assis Raimundo

    Domingos, um bom texto. Independentemente de concordar ou não com todos os pontos, sobretudo é de valorizar a prosa sensata, equilibrada e dialogante, que faz grande contraste com o que se lê por aí. De facto ainda é cedo para sentenças peremptórias e sobranceiras, quando falta definir tanta coisa. Um abraço. Miguel Assis Raimundo

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  2. paquito da palma

    OS ERROS DOS OUTROS NAO JUSTIFICAM OS NOSSOS…MAS SERÀ QUE OS PARTIDOS PS PSD CDS..EXCOMUNGARAM TODOS OS PARTIDOS DE ESQUERDA ?
    ALGO DE ERRADO TERÀ PASSADO,,,FALA-SE DE POLITICA E POLITICOS…NO TEMPO DO GONÇALVISMO DOS COMUNISTAS QUE COMIAM MENINOS..ETC..MAS DO GRANDE GAMANÇO APÒS O 25 DE ABRIL FEITO POR MUITOS NINGUEM FALA….OS MEUS PARABENS PELA BELA FORMA DE EXPOR AS HISTÒRIAS..UM POUCO EXTENÇAS MAS BEM ESCRITAS…SEMPRE INVEJEI QUEM TEM O DOM DE ESCREVER BEM…MAS POR FALAR MAIS DO QUE ESCREVO..PERCO-ME…VOU LER UM POR UM OS ARTIGOS AQUI POSTADOS …UM ABRAÇAO PAQUITO DA PALMA

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