Cavaco Fechou-se para a República

Há cento e cinco anos o povo português virou uma página memorável e das mais heróicas: acabou com o regime monárquico.

Portugal abraçou a causa republicana e juntou-se ao que na altura representava o mais avançado em relação à participação popular na eleição da figura que constitui o vértice do Estado.A revolução republicana foi saudada em toda a Europa.

Foram precisos cem anos para que o governo defensor a todo o custo dos credores internacionais acabasse o feriado de 5 de Outubro. Alegou para tanto que vivíamos acima das possibilidades e era preciso trabalhar mais. Como se não houvesse outros meios de fazer valer este desígnio.

O ataque ao 5 de Outubro foi mais uma lança cravada no edifício das instituições republicanas visando apagar a memória dos feitos populares.

Atacou um símbolo da unidade do povo português que levou à implantação da República: a comemoração popular desta grande data; era o mesmo que na França acabar com o feriado da tomada da Bastilha…

Como se não bastasse Cavaco Silva, o representante máximo da República, fechou-se para a República a sete chaves e ao que consta estará reunido com os seus íntimos a estudar como há-de fazer o que já sabia que ia fazer – dar posse a um governo que não só não tem maioria como perdeu votos e deputados a tal ponto que há quatro anos o PSD sozinho teve quase tantos votos como o PSD e o CDS nestas eleições.

O máximo representante da República preferiu ficar a cozinhar uma receita que esconde o carácter minoritário da coligação a estar presente na varanda da Câmara onde foi proclamada a República à população de Lisboa.
O homem que nunca errava, que não lia jornais, que sabe decidir com conhecimento de causa, que garantiu a saúde do BES, que deu golpes brutais na agricultura e nas pescas e afirma agora que o futuro do país está na agricultura e no mar, é exatamente o mesmo que antes das eleições já sabia o que ia fazer mas apesar de o saber alegou que não ia representar a República porque ficava em “casa” a estudar o que ia fazer.

Sempre teve fama de marrão o inquilino de Belém, mas trocar o estudo para uma “frequência” para a qual já sabia tudo e deixar de estar presente nas comemorações do 5 de Outubro é um ultraje à República.

É também uma forma de desvalorizar o regime republicano com a desculpa de que não pode perder uma ou duas horas por causa de um assunto que já tinha em mente tudo o que ia fazer.

Este homem é o político que mais tempo esteve no poder e apanhou todas as manhas da baixa política dando-se ares de figura acima de tudo e todos, querendo fazer esquecer que pelo menos os seus amigos de todos estes anos estão metidos em escândalos que um país decente já tinha esclarecido para bem da Republica.

A grandeza de Cavaco está nos ares a que se dá. Se lhe tirar os ares fica um provinciano de meia tigela convencida pela sua “entourage” que é alguém que não é.

É de todos os políticos aquele que mais se aproveitou da política dizendo banalidades a um povo cansado de tanta espera.

É bem um daqueles políticos que em linguagem bíblica se poderia designar como um santo bem pintado por fora e carunchento por dentro.

O coração de Cavaco não estava com o popular 5 de Outubro, mas com Passos e Portas e a política de prosseguir a austeridade imposta pela troika e os troikanos de cá. Ele tinha razão – precisava de saber dar a volta à coisa e untar bem untada a cozedura que por aí vem. Que Santo António Costa tenha tento e não prove o condimento.

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