Eram tantos, tantos os papagaios nas mãos dos meninos de Cartagena de Las Indias que o céu se fez mais colorido cheio dos ziguezagues das novas aves sem asas, mas com longos rabos.
O mar em baixo deleitava-se com tanto sarrabisco.
O vento por apelo dos papagaios soprou mais forte e os meninos mal tinham mãos para segurar os fios que levavam os papagaios para o mais alto no céu de Cartagena.
Os papagaios acharam que era chegada a hora de brincarem com os seus donos.
Fizeram força para levarem os meninos para o céu.
Com toda a força um rapaz foi levantado para ir pelo céu. Agarrado ao fio os pés levantaram voo. A mãe deu um grande grito e assustou o papagaio que o deixou de novo no chão.
Coisa semelhante aconteceu em Capelins, concelho de Alandroal, contou a quem quis ouvir o Varandim, homem de muitos contares.
Andava ele pela aldeia e deu conta que no grande plátano estavam a poisar nuvens de pássaros, tantos que nem um dia inteiro bastava para os contar.
O Varandim viu essa nuvem de pássaros, ao entardecer, ir poisar no plátano e quedou-se a ver aquele serviço. Eram tantos e tantos que cobriam a luz do sol do lado onde poisavam – Ora cá está, é a dormida da passarada, disse ele!
Contou o Varandim que no dia seguinte pouco antes dos pássaros abalarem para irem dormir untou a árvore de visgo para os apanhar e fazer um petisco para quem o quisesse saborear. Segundo as contas dele poderia vir quem viesse que daria para todos.
Quando chegou a hora vieram quantidades e quantidades e quantidades de pássaros que mal poisavam se sentiam presos. O Varandim já imaginava as frigideiras que iriam ser precisas.
Só que os pássaros não se resignavam a ficar presos e tanto bateram as asas para se desprenderem que a certa altura tantos milhares de asas todas à uma arrancaram e lá foram eles todos pelo ar com a árvore no ar e o Varandim a correr, a correr; até que a árvore caiu das milhares e milhares de patas dos passaritos que se safaram das goelas do Varandim e de seus amigos comilões.