Quo Vadis Paula Teixeira da Cruz?

Primeiro foi com os advogados. Houve quem pensasse que o problema era o Marinho.
Depois foi com o Sindicato dos Oficiais de Justiça. Houve quem julgasse que seria uma questão reivindicativa…

Finalmente chegou a vez dos magistrados. Aguardavam a aprovação do seu Estatuto. A Ministra veio dizer que o problema era de verbas. Os magistrados disseram que não. Tiveram de lhe virar as costas.

O governo age contra todos os agentes da justiça sem a menor contemplação. Utilizando o estafado argumento do necessário empobrecimento dos portugueses tenta fazer passar a ideia que os magistrados egoisticamente se querem eximir a esse sacrifício que sobrecarrega os portugueses.

É fácil ver que a Ministra quer dar a ideia junto da população que os magistrados o que querem é ganhar mais, quando a verdade é outra: ganham menos devido aos cortes e o problema não é só dinheiro, mas também outros aspetos da sua atividade profissional, desde logo o seu Estatuto.

O governo neo liberal das privatizações a torto e a direito certamente olha para a Justiça como um vasto terreno onde os investidores podem refestelar-se e banhar-se em lucros gordurosos que o Estado não pode ter porque os “donos de tudo isto” querem mais do que “isto”, esmifrando a população.

Nesse quadro é preciso domesticar os juízes e lançar campanhas contra os juízes e tribunais.

Contra os advogados, num país desesperançado e descrente no que quer que seja, é mais fácil. No fundo, o Portugal conservador, desconfia de uma profissão em que o seu praticante depende apenas de si. O Portugal submisso que estende a mão precisa de alguém que o proteja, de um encosto…

Os juízos têm um poder que ninguém tem. Há o respeitinho que é muito bonito e o poder vive também desse respeitinho.

O Portugal conservador olha para o senhor juiz e verga a cerviz; pode ser que o senhor juiz repare e se não reparar também nada perde e pode ganhar a deferência; quase toda a gente gosta de ser olhada de uma maneira reverenciada…
Este governo, porém, quer mandar em tudo. Tomou o freio nos dentes, deu corda ao aos sapatos, como diz o Ministro da Economia, para ir o mais longe possível no ataque ao Estado Social.

O governo criou um tal choque com toda a sociedade que exige para se impor a submissão.

O neo liberalismo passa pela disseminação de uma mensagem segundo a qual há forças financeiras tão poderosas e que regulam o mundo que nada se pode fazer contra elas.

A mensagem do governo é que não para, nem diante dos magistrados, mesmo dos que serão chamados a julgar os crimes de muitos expoentes deste status quo.
Paula Teixeira da Cruz que era advogada antes de ser Ministra sabe, não pode deixar de o saber, que se a sua causa de domesticar a magistratura e de dar passos de gigante na privatização da Justiça tiver êxito o Estado de Direito Democrático, tal como está configurado, sofrerá danos inimagináveis desfigurando-o em prejuízo da cidadania.

Será que o choque do governo com a Justiça galgará as barreiras do Estado de Direito e o desfigurará?

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