Aquela Manhã de Abril

Quem espera sempre alcança ou quem espera desespera?

Quanto tempo se pode esperar? E quanto tempo o tempo nos obriga a esperar?

E quem espera como espera?

Havia um tempo de espera de um outro tempo que germinava dentro do próprio tempo.

Era um tempo negro, fundo e longo.

Um tempo apunhalado pelos que o queriam só para eles…Um tempo de angústia. Preso.

Entre a cidade e o céu livre estavam as grades que o tempo via calado apodrecerem. Os gritos, porém, ficavam encostados às paredes do tempo velho e a dar notícia do tempo novo.

Havia que esperar. Esperar. Esperar. Cavando na gruta o tempo vindouro.

Era, como já se disse, o tempo do medo. Mas o tempo da coragem que matava o medo nos olhos medrava no sangue dos humanos rios.

Numa noite sem medo, em vez do manto escuro, desceu à cidade a manhã cheia de luz, a manhã que se anunciava nas faíscas ao rés dos olhos sem medo.

Foi uma manhã crepuscular que ligou a luz do dia à dos noturnos incêndios no coração de todos os homens.

E os que não esperavam deram suas mãos aos que esperavam pela manhã e que por ela viram morrer os que não resistiram à dor da espera.

Eram as marés da incontida alegria que jorravam de todos os olhares e de onde se inquietavam as esperanças reais e efabuladas pelos sonhos tão antigos de Spartacus.

Os que esperavam, em abono da verdade, não sabiam bem como ela chegaria; nem sabiam se a amada liberdade viria na rósea aurora.

Se ao menos os que sucumbiram soubessem como havia de chegar a aurora da liberdade talvez o silêncio pesado da morte desse para que o último esgar desenhasse um sorriso nos lábios arroxeados, o sorriso que nós acendemos e eles não viram…

De tanto esperar a manhã, também ela cansada de tantas trevas vencer, veio e poisou no coração da cidade. Aclamada, ninada e beijada.

Há um tempo de espera. E há um tempo de colher os frutos desse tempo de espera. Haverá sempre as sementes de Abril. E um gaio livre a voar em Maio.

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