Uma das características da política dominante é a de dar o máximo de poder e lucro a quem já tem poder e dinheiro. Os governantes assumem essa missão. O universo em que se movem gira na órbita de apresentar soluções para que os poderosos financeiramente se possam tornar mais fortes e assim investirem e criarem riqueza. Porém, para que tal se concretize é necessário que o Estado intervenha colocando todo o seu peso a favor desta política.
O poder financeiro “captura” os políticos, garantindo-lhes uma vida desafogadíssima mal larguem a missão que os levou ao poder.
Os políticos que vivem obcecados com esta estratégia têm um guião. E a sua força é cumpri-lo. A vida dos cidadãos só conta dentro da perspetiva de alcançar na sociedade um consenso em torno da ideia que se quem já tem muito mais tiver, melhor será a sociedade.
De certo modo quanto maiores forem as desigualdades melhor será a sociedade na medida em que a riqueza escorrerá do vértice e todos beneficiarão.
A elite política educada e formatada nesta ideia-chave só tem olhos para ver onde pode ir buscar riqueza e entregá-la a quem a “sabe” gerir, retirando da esfera pública tudo o que o setor privado possa incorporar. É o tal Estado mínimo em que dentro desse mínimo o máximo fica ao serviço do poder financeiro.
Cada um que se salve, ou não sendo capaz, que trate junto de outras áreas de negócio como são as instituições de solidariedade social em que a caridade substitui a dignidade de uma vida de trabalho.
É, pois, normal que um homem como Passos Coelho se “esqueça” dessa ninharia horrível que é a obrigatoriedade de fazer descontos para ter uma reforma. Bem vistas as coisa a ele nunca lhe passou pela cabeça viver daquela reforma.
Preocupado em subir ao poder no PPD Passos Coelho o que pretendia era fazer o que veio mais tarde a fazer em nome do poder financeiro: punir os portugueses e empobrecê-los, sendo implacável para quem não pague as suas contribuições sociais à Segurança Social para que esta possa servir por enquanto de almofada à política de ataque ao Estado Social de Direito Democrático.
Passos Coelho resolveu dentro da sua filosofia de impunidade inventar o argumento que levava ao chumbo de qualquer aluno no 1º ano de Direito: não sabia que era preciso pagar.
Deu brado e mudou o registo: não o notificaram. O brado continuou – ninguém é notificado. Apesar do Ministro da SS ter saltado a terreiro a culpabilizar aos Serviços, e o da Economia vir dar conta do seu enorme orgulho no Primeiro, o certo é que o carácter surrado dos argumentos era de tal forma indigente que decidiu mudar.
Encheu o peito e vociferou: não sou perfeito. E concluiu – se se vier a descobrir mais esquecimentos análogos ou de outro género é porque a oposição o que quer é fazer política com a sua vida pessoal.
No fundo o que veio ao de cima nesta fase de deteção de lacunas nas cincunvoluções cerebrais responsáveis pela memória, foi a de que toda e qualquer falha do imperfeito cidadão resulta da natureza malsã da oposição dada a proximidade das eleições.
Estas falhas deviam ter sido apresentadas logo após a tomada de posse do governo orgulhoso do Primeiro, e assinaladas de modo irrevogável, sem direito a serem espalhadas pelos quatro cantos do luso retângulo. E concertadas entre pares. Fixe, diria o Vice, vemo-nos logo numa das feiras da agricultura muito in, ou no porta- aviões da economia…Nunca estivemos tão bem. Juntos de novo.