O velho conflito que opunha árabes a Israel, palestinianos representados pela OLP a Israel, está a ser substituído por confrontações político-militares nunca vistas. Estão a emergir novos tipos de conflito, que se projetam dentro dos países árabes, inclusive entre os palestinianos.
A luta pela independência nacional dos palestinianos perdeu dimensão devido aos conflitos internos entre os setores laicos da burguesia nacional agrupados na OLP e corrente religiosa radicalista organizada em torno do Hamas.
Por outro lado, no plano regional, o surgimento de movimentos fundamentalistas, (Irmãos Muçulmanos no Egipto, Ennahada na Tunísia, Aliança de Forças Nacionais na Líbia, Al Qaeda, Estado Islâmico) retirou impacte ao conflito israel/palestiniano e acentuou divisões graves entre os países árabes.
Inesperadamente as chamadas revoluções árabes, na sequência de movimentações populares, guindaram ao poder toda uma série de movimentos islamitas.
Em todo o M. Oriente o único país com um governo laico onde conviviam com relativa urbanidade as diferentes religiões era a Síria.
Foi contra este regime que um conjunto de países ocidentais, árabes e a Turquia desencadearam uma violentíssima campanha político-militar para derrubar o regime.
A fronteira da Turquia com a Síria transformou-se num enorme vazadouro de armas.
Os países do Golfo com os seus biliões empanturraram os movimentos armados sunitas de armas e dólares.
Os apelos ao recrutamento de jovens ocidentais tornaram-se correntes. A “Jihad”, guerra santa, incendiou o coração de centenas de milhares de deserdados do mundo árabe e dos subúrbios de grandes cidades ocidentais.
O cheiro a pólvora e a sangue de “infiéis” funcionou como uma espécie de estupefaciente para largos setores de uma nova espécie de jovens lúmpen. Para esta camada social a democracia transformou-se na responsável pelo status quo em que vivem. Se a essa particularidade tivermos em conta que os islamistas consideram a democracia como uma heresia ficamos com o cocktail perfeito.
Desenraizados na Europa e na América, não vão combater por um país, por um ideal político, mas sim por um Califado, certamente desconhecendo totalmente o que foram os Califados e os califas. Combater por quem lhes dá poder, incluindo o de matar… Sentir esse pode de entrar numa engrenagem tão poderosa a pontos de poder matar, torturar, crucificar, degolar é algo novo na história, inclusive dos movimentos terroristas.
Os movimentos terroristas e esquerdistas nos séculos passados atacavam o poder, os seus dignatários, e não os que tinham uma religião diferente e os mais desfavorecidos.
Por outro lado, não era possível aos “Jiadistas” ocuparem cidades e grandes extensões da Síria e do Iraque se não tivessem tropas e dinheiro em abundância para lhes pagar.
Tomam o poder, confiscam bens, assassinam, aterrorizam em nome de uma certa interpretação do Islão que choca com os seus próprios conteúdos.
Naturalmente que enfraquecem os regimes dos países onde se instalam. Levam para o seu interior um novo tipo de conflito que não visa, pelo menos não o assumem, a tomada do poder nesse país, mas sim organizar novas fronteiras com base no Califado, o que é absolutamente arrepiante.
Armados pelos EUA, França, G. Bretanha, (no início do conflito militar com o regime sírio) e com os biliões dos “democratas” da Arábia Saudita, Qatar e Kuwait, estes “jiadistas” sentem-se suficientemente fortes em armamento e dinheiro para enfrentarem os EUA e a Grã Bretanha, executando covardemente cidadãos daqueles países.
A sua estratégia é envolver os EUA na guerra que travam, atraí-los ao terreno, desgastá-los e prepararem-se para uma guerra mais longa que atravesse outras fronteiras e possa tornar o mundo árabe um conflito entre sunitas e minorias muçulmanas (chiitas, aluitas e outros).
Por detrás deste conflito espreitam vizinhos não árabes e cujos governos representam outros islamismos: Erdogan do partido Islâmico na Turquia, e o Irão chiita governado por um poder clerical.
A luta contra o subdesenvolvimento, pela emancipação nacional e social sucumbe face a conflitos fluidos em que o religioso encobre os objetivos obscurantistas e de verdadeiro retrocesso civilizacional.
O envolvimento dos EUA e da “nova”coligação é uma espécie de repetição da coligação contra o Afeganistão dos Talibans de Ossama Bin Laden. O que daí resultou? Um país destruído e a necessidade ao cabo destes anos todos de negociar com os talibans … Triste é olhar o socialista Hollande a fazer o que Chirac nunca aceitou.
Os EUA vão atacar os combatentes que armaram? E atacando-os irão também atacar o regime sírio, dando força à Al Qaeda, de onde sairam estes jihadistas treinados na Turquia e na Jordânia?
Enquanto os árabes se ocuparem a matar-se uns aos outros, com o alto patrocínio ocidental, bem pode Israel esfregar as mãos e continuar a bantustização da Palestina, impedindo a criação de Estado Palestiniano independente, conforme decisões das Nações Unidas.
Os islamistas continuarão na senda de eliminar a democracia, os direitos humanos e instalar regimes ditatoriais, perseguindo minorias; instalando o caos.
Para enfrentar o caos onde há petróleo e gás natural só os impérios estão em condições…mesmo que os tenham treinado e armado.