Há nos media portugueses um vendaval ideológico cujo objetivo é colocar os partidos da direita no governo. Fazem-no porque têm uma maioria absoluta de opiniões nos jornais e nas televisões. No setor público do Estado em vez de fazer diferente, garantindo uma verdadeira pluralidade, papagueiam a dominante.
De manhã à noite, incansavelmente, chafurdam na sua especialidade, a politiquice elevada ao grau absoluto.
O ataque sem tréguas ao governo, aproveitando as incapacidades e as vulnerabilidades da sua própria política de orientação neoliberal, não tem como contraponto uma outra alternativa. Escondem o objetivo deste jogo para juntar o máximo possível de confluências e derrubar o governo. Marcelo Rebelo de Sousa não resiste e cada dia que passa cumpre o seu desígnio de se ver livre da maioria absoluta do PS.
Um exemplo atual – a visita de Lula. PS e PSD têm a mesma posição sobre o conflito na Ucrânia. De que se havia de lembrar o PSD no seu esplendor a pedir meças ao Chega, de que o PS se devia demarcar da posição de Lula. Só a impunidade mediática lhes permite tal exercício. Por um breve instante imaginemos a ida de Marcelo ao Brasil e tendo em conta as diferentes posições sobre a Ucrânia alguém consegue conceber aberturas de telejornais brasileiros a questionar a posição de Portugal e a confrontar o governo brasileiro sobre a posição portuguesa?
A direita perdeu o sentido de Estado e o de um relacionamento estratégico de Portugal com o Brasil, seja qual for o governo de cá ou de lá. Por motivos óbvios, basta atentar ao número de portugueses no Brasil e de brasileiros cá.
Não se pode fugir a esta questão a que PSD e grande parte da direita foge: o Brasil não é estratégico para Portugal, e os outros países de língua oficial portuguesa? O seu apego a Bruxelas e à NATO não lhes permite ver mais além?
Depois há uma questão cuja simplicidade foi exposta por Lula: condenando a invasão, que fazer a seguir, negociar ou continuar a guerra?
Combater até derrotar a Rússia, segundo os EUA/U.E. e a que preço? Já nos prometeram a derrota por via das sanções. Estão a afetar a Rússia, mas a mudar o paradigma da moeda de transações, e não será por aqui que a derrota chegará porque o mundo não anda a toque caixa do Ocidente. E quanto está a ser afetada a Europa por causa das sanções?
A irrealidade e o grau de manipulação chegam a este ponto – Todos os dias os russos perdem a guerra por falta disto ou daquilo, até de botas e misseis, mas quem não tem munições é a NATO ou se tem, diz que não tem.
Há uma questão a que todos têm de responder e à qual não se pode fugir: para salvar a face da NATO é preciso chegar à guerra nuclear?
O deslumbramento pelas posições atlantistas de continuar a guerra até à vitória militar da Ucrânia impede o espírito de abertura para uma negociação que pare a guerra.
A visita de Lula a Portugal para grande parte da direita foi mais um palco de luta contra o governo e um acrescento à defesa do militarismo ocidental que pelos vistos ouvir falar de paz é o mesmo que o diabo ouvir falar da cruz.
O vendaval vai continuar a ter efeitos muito perversos, mas o que já viveram algumas décadas sabem de experiência feita que a irrealidade bate sempre de frente com a realidade. Para além da corrida aos armamentos e marchar, marchar contra a Rússia, o que vai decidir vão ser as condições de vida dos povos da Europa que nunca viveram tão mal desde a segunda guerra mundial. Inventar realidades só na ficção, na política vale apenas para a ocasião.
Excelente análise e advertência clara sobre o abismo nuclear a que a persistência na guerra pode conduzir a humanidade. Há uma interrogação que me preocupa – o que pensam os defensores do ambiente e os adversários das alterações climáticas deste dispêndio de meios bélicos?
António Melo
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