Em 2015, os entendimentos à esquerda permitiram reverter medidas socialmente
injustas e economicamente contraproducentes impostas pela troika e pelo governo de
direita. Mostraram também que foi possível fazer convergências à esquerda em torno
de objetivos concretos, mesmo no quadro de constrangimentos europeus que
continuam a limitar o alcance das mudanças. A longevidade da solução política então
encontrada superou todas as expectativas iniciais.
Os signatários desta carta, que apoiaram desde a primeira hora as convergências à
esquerda, entendem que a devolução do voto aos cidadãos, no atual contexto, não
tem de ser um drama. Pode e deve ser uma oportunidade de clarificação sobre o
projeto de desenvolvimento para o país.
Apesar de não termos militância partidária, entendemos que os progressos políticos
verificados desde 2015, mesmo quando insuficientes, não teriam sido possíveis sem o
empenho do BE, do PCP e do PEV, no quadro de uma maioria parlamentar de esquerda
com o PS. Sem prejuízo do balanço diferenciado que fazemos das razões que levaram à
interrupção da legislatura, sabemos que a concretização de uma agenda
socioeconómica mais ambiciosa é uma tarefa que o PS, sozinho, não poderá cumprir.
Defendemos um Serviço Nacional de Saúde público e universal, que valorize os seus
profissionais, travando assim a crise que a pandemia acelerou. Defendemos os direitos
do trabalho, revertendo as leis laborais do tempo da troika, recusando que a evolução
da economia nacional seja baseada nos baixos salários e na precariedade. Defendemos
uma política de habitação pública que responda à especulação que expulsa jovens,
pobres e a classe média dos centros das cidades e promove a segregação social e
racial. Defendemos a escola e a universidade públicas, assim como a produção cultural
e o respeito pelos seus profissionais. Defendemos a preservação do planeta,
recusando encarar a urgência climática como uma oportunidade de negócios.
Sabemos, porque quase meio século de democracia nos ensinou, que isto só é possível
se garantirmos e reforçarmos a diversidade e pluralidade do campo da esquerda.
Sabemos, porque 2015 nos ensinou, que todos os deputados que elegemos contam e
que o próximo governo será formado pela conjugação da vontade das diversas forças
parlamentares, independentemente de qual venha a ser o partido mais votado. E
sabemos que a reedição, formal ou informal, do bloco central só pode ser evitada se as
esquerdas parlamentares saírem reforçadas.
O nosso apelo é que o dia 30 de janeiro sirva para promover uma maioria plural de esquerda. A
mesma pluralidade que impediu o aprofundamento do retrocesso social que a troika e o governo
de direita quiseram impor. A mesma pluralidade que permitiu avançar com medidas para a
justiça social e económica neste país. Seja qual for o futuro, só essa pluralidade pode construir o
diálogo, a alternativa e a resistência. Sem ela, a esquerda derrota-se. Com pluralidade, a agenda
de esquerda para um desenvolvimento mais justo e sustentável de Portugal sairá reforçada.
3 de Janeiro de 2022.
Os 100 subscritores:
Abílio Hernandez (professor universitário); Alberto Melo (professor); Álvaro Siza Vieira (arquiteto); Américo
Monteiro Oliveira (membro da CE CGTP-IN); Ana Benavente (socióloga); Ana Cordeiro Santos (investigadora); Ana
Costa (professora universitária); Ana Drago (socióloga); Ana Ferreira (investigadora); Ana Luísa Amaral (poetisa); Ana
Petronilho (investigadora); André Carmo (professor universitário e sindicalista); António Pinho Vargas (compositor);
Artur Cristóvão (professor universitário); Bárbara Bulhosa (editora); Bernardino Aranda (livreiro); Boaventura Sousa
Santos (professor universitário); Carlos Seixas (programador); Carlos Vargas (jornalista); Carmo Afonso (advogada);
Constança Cunha e Sá (jornalista); Cláudio Torres (arqueólogo); Daniel Oliveira (jornalista); Diogo Martins
(economista); Domingos Lopes (advogado); Elisabete Moreira (professora); Fátima Sá (professora universitária);
Fernanda Rodrigues (assistente social); Fernando Nunes da Silva (professor universitário); Fernando Paulouro das
Neves (jornalista e escritor); Francisco Bethencourt (professor universitário); Gabriela Moita (psicóloga); Gonçalo
Leite Velho (professor ensino superior); Guadalupe Simões (enfermeira e sindicalista); Henrique Barros (médico de
saúde pública); Henrique Sousa (investigador social); Isabel do Carmo (médica); Isabel Lindim (jornalista); Ivan Dias
(produtor); Joana Craveiro (encenadora e dramaturga); João Fazenda (ilustrador); João Leal (professor universitário);
João Leal Amado (professor universitário); João M. Almeida (quadro superior); João Rodrigues (professor
universitário); José António Bandeirinha (professor universitário); José Aranda da Silva (ex-bastonário da Ordem dos
Farmacêuticos); José Carlos Martins (enfermeiro e membro da CE CGTP-IN); José Feliciano Costa (professor e
sindicalista); José Luís Peixoto (escritor); José Maria Silva (dirigente associativo); José Neves (professor universitário);
José Reis (professor universitário); José Vítor Malheiros (consultor); Lúcia Amante (professora universitária); Luís
Miguel Correia (realizador); Magda Henriques (programadora cultural e professora); Manuel Correia Fernandes
(arquiteto); Manuel João Ramos (professor universitário); Manuel Lisboa (sociólogo); Manuel Morais (agente
principal unidade especial de polícia e antropólogo); Manuel San-Payo (artista plástico); Manuela Barreto Nunes
(bibliotecária); Manuela Mendonça (professora e sindicalista); Manuela Ribeiro Sanches (professora universitária);
Manuela Silva (médica); Margarida Santos (investigadora social); Maria Augusta Sousa (enfermeira); Maria Irene
Ramalho (professora universitária); Maria José Espinheira (administrativa ); Mário de Carvalho (escritor); Mário
Laginha (músico); Marta Delgado Martins (advogada); Marta Lança (jornalista e tradutora); Miguel Gonçalves
Mendes (realizador); Miguel Real (escritor); Nuno Serra (geógrafo); Nuno Teles (professor universitário); Patrícia
Bastos (professora universitária); Paula Cabeçadas (ativista política); Paulo Pedroso (sociólogo); Pedro Abrunhosa
(músico); Pedro Estêvão (sindicalista e investigador); Pedro Messias (sindicalista e bancário); Pedro Vieira (escritor);
Pilar del Rio (jornalista); Ricardo Paes Mamede (professor universitário); Rogério Moreira (gestor); Rui Bebiano
(professor universitário); Rui Graça Feijó (investigador); Sérgio Antunes (arquiteto); Sérgio Tréfaut (realizador);
Tatiana Salem Levy (escritora); Teresa Beleza (professora universitária); Teresa Dias Coelho (artista plástica); Teresa
Villaverde (cineasta); Tiago Rodrigues (encenador); Ulisses Garrido (sindicalista); Victor Louro (engenheiro
silvicultor); Vitorino Salomé (músico)