Uma comissão independente criada pelos bispos católicos veio corajosamente trazer a público que mais de 216.000 crianças (80% rapazes entre os 10 e 13 anos) foram abusados por elementos do clero francês.
Sobe para 330.000 se se considerar os leigos que trabalhavam nas instituições da Igreja católica.
Os números dão conta que entre 2900 e 3200 membros da Igreja terão abusado de crianças e não deixam margem para dúvidas acerca da imensidão dos crimes que foram silenciados até há pouco tempo. Imaginemos o que está para trás em que a impunidade era quase total…
É quase por humanismo que surge o dever de desconfiar dos pregadores de virtudes quase desumanas, pois sabe-se do que os seres humanos são capazes tanto no terreno do mais sublime, como no do mais ignóbil.
De quem escolhe a devoção a uma causa que a si própria se encara como sendo a de se dedicar ao próximo como a si mesmo não se espera semelhante ignomínia.
O que se pedia a quem se vestia de beatitude era dedicação ao próximo e não servir-se de crianças indefesas e provenientes de estratos sociais desfavorecidos, acrescentando prepotência à total falta de vergonha.
A Igreja Católica tem agora pela frente um grande desafio que é de modo simples: Como podem os homens que são padres serem homens sem o serem?
Até que ponto as relações sexuais podem continuar a ser encaradas pela Igreja católica como algo pecaminoso e exija aos seus membros o impossível, como reza a História da Igreja? As notícias que vêm do outro lado dos Pireneus já chegaram a Portugal. Cabe a pergunta ao vento que passa – foi só em França que aconteceram estes crimes? A coragem não é capaz de passar a cordilheira? O vento cala a desgraça?