Uma característica das sociedades modernas é o ataque à vida política e naturalmente aos políticos. A política e os políticos são apresentados na opinião pública como face visível da corrupção. A sua contaminação já chegou ao poder judicial, também ele debaixo de fogo.
Cabe perguntar o que sucedeu para que a confiança na organização política atual tenha sido alvo de tantos ataques e se possa constatar uma descrença evidente. Porém, há uma outra pergunta que é decisivo fazer-se para responder à anterior.
A política trata da vida da pólis (cidade em grego), ou seja, trata do modo de organizar e tornar a vida viável segundo um conjunto de princípios adotados pelos representantes do povo, o soberano numa democracia.
E então a pergunta é esta, sem a política (decidida pelos escolhidos pelo povo) como seria a vida em sociedade?
Se não houvesse Estado para fazer cumprir as leis como se relacionariam os cidadãos?
Quem asseguraria o acesso à Educação, à Saúde, à Justiça, aos bens comuns e privados? Quem? Quem faria as leis que regulam as diversas áreas sociais? Ou a vida em sociedade deve ser determinada pelo choque de todos contra todos ou para evitar essa barbárie se deve entregar o poder a um conjunto de capatazes que tiranicamente imporiam o seu governo ou se deve organizar a sociedade a partir das opções soberanas dos povos que elegem aqueles que lhes parecem ser os mais capazes de defender os interesses desses mesmos povos.
Repare-se ou a tirania ou uma tirania travestida de democracia ou a democracia pura e simples, o governo a quem o povo dá a maioria.
Claro que aqueles a quem o povo entregou o voto fizeram muitas vezes promessas que não cumprem, e que vão em sentido oposto ao prometido e outros até se serviram da política para enriquecerem criando sérios prejuízos aos cidadãos que vão arcar com esses danos materiais. Mas a democracia não é uma receita milagrosa, é um regime de humanos para humanos.
Só que convém sublinhar a traço grosso que é sempre aos povos que cabe retificar as escolhas e, em vez de escolher os políticos corruptos, poderá sempre escolher outros que não o são.
O problema também passa pelo facto de muitos dos que atacam a corrupção, estarem prontos para votarem em corruptos, alguns já condenados, deixando “cair” o seu “combate” à corrupção e aos políticos que “se querem governar” à custa do Zé povinho.
A complexidade do fenómeno é mais séria e densa e certamente os estudiosos dedicar-lhe-ão livros.
Há, porém, um certo oportunismo social que consiste em alinhar com os valores dominantes (mesmo os referentes à corrupção) a ver o que sucede em vez de corajosamente enfrentar a praga.
Entre a coragem e a submissão opta-se, mesmo que sem grande fé, por esses valores que se afirma detestar.
No fundo quando chega a hora da verdade entre o ramerrame da vidinha e a coragem ganha a vidinha.
Esta é uma das razões que explica a existência do centrão, a chamada política dos interesses, da qual poucos dizem gostar, mas que obtém maiorias.
A corrupção é um mal, mas deriva da condição humana. Sem o empenho corajoso de todos ela vai medrar e esse desafio é para todo o sempre. Exige coragem e não apenas lamentações. Coragem para a combater, mesmo quando se fica isolado.
Os políticos sérios e honrados são essenciais para o combate aos corruptos políticos ou não. Sem eles não haverá uma política transparente e de proteção dos bens públicos.