No martirizado Afeganistão, o governo que negoceia no Dubai com os taliban, no dia 10 de março, proibiu as meninas de mais de 12 anos cantarem nos coros para públicos mistos.
A justificação do decreto governamental foi a de evitar que se distraiam e poderem concentrar-se nos estudos. Os rapazes podem cantar porque pelos vistos não se distraem, estarão imunes. São rapazes, pertencem a um estatuto superior, podem cantar.
No tempo dos talibans as mulheres tinham de caminhar sem fazer qualquer barulho para não distrairem os homens (que não se distraíam se cantassem) e podiam perder a cabeça se olhassem para um mulher calçada. Pobres talibans.
Em 2021 os mais conservadores dos conservadores temem a voz das raparigas a caminho da adolescência e proibem que cantem não vão elas habiturem-se e exteriorizar o que lhes vai na alma, o que é um perigo. A alma é para obedecer aos homens e não aos sentimentos que cada uma tenha.
De todo o modo apesar do poder totalitário a revolta das raparigas foi tão profunda que o governo revogou o decreto. A mão do legislador continua ativa. O regresso dos talibans está à porta. Nesse tempo a musica estava proibida. O decreto revogado seria um ato de boas-vindas?
Que diferença entre este mundo misógeno e o do grande poeta Ommar Khayyam, o iraniano vizinho do Afeganistão, que no século onze tanto glorificou o amor e as mulheres no Robaiyat…
Um pouco de pão
um pouco de água fresca
a sombra de uma árvore
e os teus olhos
Nenhum sultão é mais feliz do que eu sou.
Nenhum mendigo mais triste
E a procissão ainda vai no adro…
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