No reino da morte- crucificar e desmembrar

 

 

Murtara Qureiris é um jovem de dezoito anos preso na Arábia Saudita desde os treze por se ter manifestado contra o governo quando tinha apenas dez.

O Ministério Público pede a morte por crucificação seguida de desmembramento. Para tanto a máquina de crucificar e esquartejar está pronta para espetar os pregos com a força bastante nas mãos e nos pés de Murtara Qureiris para que possa morrer. E pronta ainda com todos os instrumentos para o serrar e desmembrar, cortando o corpo do jovem deixando-o provavelmente irreconhecível, tal o ódio do poder ao jovem que aos dez anos de cima de uma bicicleta pediu respeito pelos direitos humanos. Esteve quatro anos preso sem qualquer contacto com um advogado.

Tudo para que no país das decapitações e das crucificações o exemplo mostre que ninguém ouse de cima de uma bicicleta, ao lado de outros meninos, pedir direitos humanos.

Se pedir (tanto mais grave se for chiita) fica claro o que o espera: a cruz e a serra. Habituado a esquartejar, como fez a Kashoghi, o poder em Riad, de tanto medo pelo que podem fazer os cidadãos daquele país, desde os meninos, às mulheres e aos homens, exibe com toda a ferocidade a sua máscara de modernidade: os pregos, a cruz e a serra.

Os responsáveis sauditas sabem que os dirigentes ocidentais precisam de lhes vender armamentos na casa dos milhares de milhões de dólares. E, por isso, agem de acordo com os seus códigos de conduta primitivos – crucificando. Ainda se situam no Tempo Antigo em que só existia a  autoridade do Rei ou do Imperador.

Na Arábia Saudita do “modernista” Salman a lei continua a ser a da atrocidade contra todos os que ousem, mesmo meninos, de cima de uma bicicleta, pedir (se é que saibam o que é) direitos humanos.

Este é o poder do país que anda de braço dado com Trump, Theresa May, Emanuel Macron, Vladimir Putin e outros que tais.

Quando o Ocidente se coloca ao lado da Arábia Saudita na invasão do Iémen para crucificar e desmembrar aquele antigo país, berço da civilização árabe e muçulmana, está a dar força aos que têm o poder de dar as ordens para que as crucificações, os esquartejamentos e os desmembramentos continuem. E não só no território saudita. Até no consulado saudita na Turquia.

O mundo quase paralisou quando uma criança caiu a um poço por obra da desgraça e do azar.

Agora diante do mundo, um jovem de dezoito anos pode ser crucificado e desmembrado por um governo amigo de muitos governantes deste mundo. Acaso, sabendo que tal pode acontecer, vai o mundo continuar calado a atravessar as passadeiras da indiferença, fazendo de conta que não tem quaisquer sentimentos de generosidade e solidariedade?

In Público online

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