Pode um progressista cego ver a realidade (II)

 

Uma habilidade em termos de debate é, como se sabe, escrever que o oponente escreveu algo que não escreveu. Em nenhuma parte do meu texto, publicado neste jornal , no passado dia 29 de fevereiro,  « Pode um progressista cego ver a realidade?» escrevi que qualquer crítica a Putin era própria de um russofóbico. Nem tal me passa pela cabeça; só mesmo a Rui Tavares no seu texto de 2 de abril.

O que eu escrevi e está impresso«…Nos últimos dias levantou-se uma histeria internacional no sentido de saber quem expulsa mais diplomatas russos dos seus países a propósito da tentativa de envenenamento de um espião russo que espiava também para os serviços secretos de sua Majestade ou ao contrário…»

No vigésimo primeiro parágrafo, o penúltimo, escrevi…« O que se não entende é a histeria russófoba. A cegueira não deixa ver o mundo e as suas contradições..»

O texto tem vinte e dois parágrafos e não quatorze como escreve Rui Tavares. E não mencionei no corpo do texto o nome de Rui Tavares porque, para mim, o que conta são as ideias, e essas estão lá para rebater a histeria e não o cidadão e historiador Rui Tavares. Por que carga de água havia de citar o historiador se o que eu pretendia era chamar a atenção para uma certa questão?

Voltando ao tema é inegável que há na situação atual uma volumosa carga informativa sobre o caso do alegado envenenamento de um espião russo ao serviço do Reino Unido e de sua filha. Ben Johnson, o descabelado M.N.E. inglês, comparou Putin a Hitler e os jogos olímpicos de Moscovo aos de Berlim de 1936 em plena ascensão do nazismo. Johnson não é ignorante e sabe que foi a Alemanha nazi que invadiu a URSS.

No seguimento do envenenamento de Londres um certo número de países ditos ocidentais, mas alguns deles, bem situados na Europa de Leste, abriram um concurso para ver quem expulsava mais diplomatas russos.

Em Portugal foram muitos os que ergueram a sua voz para que Portugal alinhasse nesse concurso. Há uma azia na alma de muita gente que clama pelo alinhamento de Portugal com os que entraram no concurso.

Tudo por causa do envenenamento de um espião que está em fase de investigação e o que está a ser investigado não permite ainda conclusões. Trata-se da mais elementar regra de prudência – não tirar conclusões enquanto se investiga.

Neste contexto, agir como se já tivesse havido conclusões sobre o caso, e para dar maior credibilidade à tese de Theresa May, expulsar dezenas  de diplomatas russos, é um caso de russofobia. Veja-se a invasão do Iraque, contra o direito internacional, sem que uma única dessas almas condoídas tenha clamado pela expulsão de diplomatas dos EUA e do Reino Unido. Recorda-se que algumas delas se notabilizaram aplaudindo a invasão e qualificaram a queda de Bagdad como se fosse o 25 de abril de lá…

Por isso a prudência aconselharia que se esperasse e, caso se confirmasse, que se estudassem as respostas adequadas e proporcionais àquela violação da soberania inglesa.

Rui Tavares, no seu texto de opinião do dia vinte e oito de março, resolveu inverter os termos do problema e colocar a questão deste modo: pode um progressista apoiar um tirano como Putin?

Como me pareceu que as coisas não deviam ser colocados daquele modo, defendi no meu texto que na ordem internacional todos as violações do direito internacional e dos direitos humanos devem ser condenadas. Os direitos humanos são comandos que devem ser observados em todas as latitudes, sublinho, em todas.

Ora a defesa da argumentação usada por Rui Tavares parece ser esta: ou defendem Putin ou atacam-no como eu e o Ben Johnson fazemos…

Porém pode-se pensar pela própria cabeça e defender, se for caso de defender, e atacar, se for o caso. Ou esperar para saber exatamente o que se passou e aí exercer a crítica, se a ela houver lugar.

Rui Tavares escreveu …« Não há regra do direito internacional a que Putin jure fidelidade que não tenha sido por ele espezinhada… Tudo isto já era verdade antes do caso do atentado com armas químicas, em solo britânico, contra um espião russo e sua filha…»

Não é adequado, neste mundo atual, dizer-se que não há uma única regra do direito internacional (sem mencionar qual) que Putin jure fidelidade e que não espezinhe… Que dizer de semelhante afirmação? Pela minha parte seja quem for, ocidental, oriental, russo, francês, americano, brasileiro, mongol, espanhol, catalão que mereça ser apoiado apoiarei. E criticarei, se for o caso. Um debate sério exige argumentação séria. In casu, quando houver conclusões, tiraremos as devidas ilações. Antes é a histeria russofóbica como se pode ver por todo o lado. E a denúncia de tal histeria não significa qualquer apoio a Putin, antes o apoio a uma ordem internacional justa e equilibrada baseada em certezas e não em rumores e inclinações.

PODE UM PROGRESSISTA CEGO VER A REALIDADE (II)

Uma habilidade em termos de debate é, como se sabe, escrever que o oponente escreveu algo que não escreveu. Em nenhuma parte do meu texto, publicado neste jornal , no passado dia 29 de fevereiro,  « Pode um progressista cego ver a realidade?» escrevi que qualquer crítica a Putin era própria de um russofóbico. Nem tal me passa pela cabeça; só mesmo a Rui Tavares no seu texto de 2 de abril.

O que eu escrevi e está impresso«…Nos últimos dias levantou-se uma histeria internacional no sentido de saber quem expulsa mais diplomatas russos dos seus países a propósito da tentativa de envenenamento de um espião russo que espiava também para os serviços secretos de sua Majestade ou ao contrário…»

No vigésimo primeiro parágrafo, o penúltimo, escrevi…« O que se não entende é a histeria russófoba. A cegueira não deixa ver o mundo e as suas contradições..»

O texto tem vinte e dois parágrafos e não quatorze como escreve Rui Tavares. E não mencionei no corpo do texto o nome de Rui Tavares porque, para mim, o que conta são as ideias, e essas estão lá para rebater a histeria e não o cidadão e historiador Rui Tavares. Por que carga de água havia de citar o historiador se o que eu pretendia era chamar a atenção para uma certa questão?

Voltando ao tema é inegável que há na situação atual uma volumosa carga informativa sobre o caso do alegado envenenamento de um espião russo ao serviço do Reino Unido e de sua filha. Ben Johnson, o descabelado M.N.E. inglês, comparou Putin a Hitler e os jogos olímpicos de Moscovo aos de Berlim de 1936 em plena ascensão do nazismo. Johnson não é ignorante e sabe que foi a Alemanha nazi que invadiu a URSS.

No seguimento do envenenamento de Londres um certo número de países ditos ocidentais, mas alguns deles, bem situados na Europa de Leste, abriram um concurso para ver quem expulsava mais diplomatas russos.

Em Portugal foram muitos os que ergueram a sua voz para que Portugal alinhasse nesse concurso. Há uma azia na alma de muita gente que clama pelo alinhamento de Portugal com os que entraram no concurso.

Tudo por causa do envenenamento de um espião que está em fase de investigação e o que está a ser investigado não permite ainda conclusões. Trata-se da mais elementar regra de prudência – não tirar conclusões enquanto se investiga.

Neste contexto, agir como se já tivesse havido conclusões sobre o caso, e para dar maior credibilidade à tese de Theresa May, expulsar dezenas  de diplomatas russos, é um caso de russofobia. Veja-se a invasão do Iraque, contra o direito internacional, sem que uma única dessas almas condoídas tenha clamado pela expulsão de diplomatas dos EUA e do Reino Unido. Recorda-se que algumas delas se notabilizaram aplaudindo a invasão e qualificaram a queda de Bagdad como se fosse o 25 de abril de lá…

Por isso a prudência aconselharia que se esperasse e, caso se confirmasse, que se estudassem as respostas adequadas e proporcionais àquela violação da soberania inglesa.

Rui Tavares, no seu texto de opinião do dia vinte e oito de março, resolveu inverter os termos do problema e colocar a questão deste modo: pode um progressista apoiar um tirano como Putin?

Como me pareceu que as coisas não deviam ser colocados daquele modo, defendi no meu texto que na ordem internacional todos as violações do direito internacional e dos direitos humanos devem ser condenadas. Os direitos humanos são comandos que devem ser observados em todas as latitudes, sublinho, em todas.

Ora a defesa da argumentação usada por Rui Tavares parece ser esta: ou defendem Putin ou atacam-no como eu e o Ben Johnson fazemos…

Porém pode-se pensar pela própria cabeça e defender, se for caso de defender, e atacar, se for o caso. Ou esperar para saber exatamente o que se passou e aí exercer a crítica, se a ela houver lugar.

Rui Tavares escreveu …« Não há regra do direito internacional a que Putin jure fidelidade que não tenha sido por ele espezinhada… Tudo isto já era verdade antes do caso do atentado com armas químicas, em solo britânico, contra um espião russo e sua filha…»

Não é adequado, neste mundo atual, dizer-se que não há uma única regra do direito internacional (sem mencionar qual) que Putin jure fidelidade e que não espezinhe… Que dizer de semelhante afirmação? Pela minha parte seja quem for, ocidental, oriental, russo, francês, americano, brasileiro, mongol, espanhol, catalão que mereça ser apoiado apoiarei. E criticarei, se for o caso. Um debate sério exige argumentação séria. In casu, quando houver conclusões, tiraremos as devidas ilações. Antes é a histeria russofóbica como se pode ver por todo o lado. E a denúncia de tal histeria não significa qualquer apoio a Putin, antes o apoio a uma ordem internacional justa e equilibrada baseada em certezas e não em rumores e inclinações.

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