Putin é o Presidente da Federação Russa, país que pela sua extensão se estende desde a América do Norte, abarca toda a Europa e abraça o norte da Ásia. Só na Sibéria caberia toda a Europa.
Pelo seu contributo no domínio da literatura, música, pintura, arte em geral, política, ciência, cosmonáutica, a Rússia é um expoente mundial.
Foi no território da Rússia que teve lugar a primeira revolução socialista vitoriosa.
A Rússia, herdeira, no território, de parte da URSS, é um país com interesses próprios que poderão chocar com outros interesses de outros países, como é normal.
Rivaliza no domínio militar com os EUA, em termos de poderio militar, embora o orçamento militar dos EUA seja de cerca 700.000 milhões de dólares e o da Rússia 50.000milhões de dólares.
Como se viu na Síria, a Rússia, na defesa dos seus interesses próprios, independentemente dos interesses sírios, é capaz de intervir em todos os cantos do mundo. Ajudou os sírios a combater o Daech e a ganhar a sua base militar, tal como outros países o fazem noutras latitudes, sendo que na Síria bem gostariam os EUA de ter uma base para melhor atacar o Irão.
Diga-se, em abono da verdade, que é Israel com apoio dos EUA que ocupa os Montes Golan da Síria contra a decisão do Conselho de Segurança da ONU. Ainda em abono da verdade foi Trump quem decidiu reconhecer Jerusalém como capital de Israel contra Resoluções da ONU.
A Rússia não foi, não é, nem provavelmente será um país exemplar em termos de direito internacional, tal como o Reino Unido, a França ou os EUA…
E, como tantas outras potências militares, é um país que tem um peso no conjunto da vida internacional em termos tais que não deixam dúvidas acerca da sua capacidade militar.
Nas eleições russas participou, entre outros, o PC russo que obteve pouco mais de onze por cento dos votos.
Outros candidatos não foram admitidos a concorrer, o que não é curial, nem desejável. Porém, as eleições russas são iguais a muitas outras que existem em países aliados do ocidente, e apesar de tudo são uma expressão da vontade do povo russo. Há países que estão no coração dos EUA e do Reino Unido que consideram a democracia uma heresia.
Nos últimos dias levantou-se uma histeria internacional no sentido de saber quem expulsa mais diplomatas russos dos seus países a propósito da tentativa de envenenamento de um espião russo que espiava também para os serviços secretos de sua Majestade ou ao contrário.
Acontece que está em curso uma investigação, o que significa que ainda não há uma certeza acerca de quem foi o autor do crime.
E como é do conhecimento geral, enquanto uma investigação investigar, não há, até terminar, uma conclusão. Não havendo conclusão, não há ainda culpados.
A pressa em culpar faz lembrar as armas de destruição massiva que afinal não existiam no Iraque.
Daí que exigir que se chegue a um resultado final da investigação seja uma postura adequada a um juízo de razoabilidade, apenas porque é necessário apurar quem foi o responsável pelo envenenamento.
Ser progressista também é pensar pela sua própria cabeça e ao falar-se em armas químicas vale lembrar os terríveis crimes dos EUA no Vietnam e da ausência desta histeria coletiva para expulsar diplomatas americanos.
Se se tivesse feito como agora se está a fazer em relação aos EUA, por certo os EUA ficariam sem diplomatas no mundo inteiro.
Se se tiver em conta a guerra do Iraque levada a cabo com o monumental embuste, teríamos de expulsar de todos os postos os diplomatas dos EUA e do Reino Unido, da Espanha e de Portugal.
A cegueira, mesmo de um progressista, é sempre uma cegueira.
Andou bem o governo português ao não acompanhar esta histeria. Não porque seja brando em atacar os russos, mas porque os interesses de Portugal passam por manter relações construtivas e mutuamente vantajosas com a Rússia.
Não é necessário gostar de Putin para perceber que todos os Estados têm interesses próprios, designadamente a Grã-Bretanha, os EUA, A França e a Rússia entre outros. Basta atentar nas intervenções destes países. O que se não entende é a histeria russófoba. A cegueira não deixa ver o mundo e as suas contradições.
A legalidade internacional exige de todos os mesmos compromissos e comportamentos. Se antes de chegar à obtenção das provas de que foi a Rússia a envenenar o tal espião e a sua filha se atua como se fosse verdadeiro o que que pode vir a ser ou não ser demonstrado, semelhante comportamento é o caos nas relações internacionais. Pode um progressista aprovar este ponto de vista?