Um homem tinha um cão. E comprava e vendia livros. O livreiro lia os livros que podia.
O homem saía à rua para levar o cão a certo sítio e segurava-o na corrente na mão esquerda.
E o livro que levava aberto na mão direita conduzia-o ao destino. As palavras dar-lhe-iam indicações, nem sempre seguras.
Os vizinhos viam o homem e o seu cão e admiravam-no por mera graça. O homem, que o livro levava, não via onde punha os pés. Ora tropeçava, ora punha os pés no que os outros cães deixavam, ora batia nas árvores e esquinas. Era o destino do homem que lia livros e levava o cão a fazer o que tinha de fazer.
Quando o chegava ao local ladrava e o homem desprendia-o da corrente.
Ficavam os dois – um a ler e o outro a fazer o que tinha para fazer.
O mal do homem que estava a ler foi chegar um cãozarrão e abocanhar o seu pequeno cão.
O homem acabou de ler o livro e não viu o cão. Encolheu os ombros, voltou ao início do livro. Chegou a noite e o homem foi para casa sem o cão.