Realidade Versus Ideologia? E os Afetos, Senhor Presidente?

Realidade ou ideologia? Na esteira do homem que decidia “com conhecimento de causa”, o engomadinho Cavaco, o novo inquilino de Belém, o sempre omnipresente Marcelo, veio a propósito da fiscalidade sobre o imobiliário invocar o princípio de que a realidade se sobrepõe à ideologia.

Supõe tal atoarda que a realidade é algo que está para alem das ideias e dos valores, nascendo por geração espontânea e mantendo-se segura e pendurada pelos anjinhos que cuidam das arestas da dita realidade.

Esta realidade fiscal terá milhões de anjinhos a impedir que os desgraçadinhos dos bilionários com ou sem visto gold paguem o que quer que seja para o Estado….

Sempre que se trate de mudar a realidade pela ação dos homens de um modo diferente do que foi amassada por outros homens é um horror, é a ideologia!

Ou seja, esta realidade fiscal resultante de um conjunto de valores e de princípios dos quais sobressai a ideia de que os ricos não devem pagar impostos é imutável porque é a atual …

Tal como era realidade em geral os cidadãos pagarem a escola privada para os filhos dos ricos e de outros que a queiram frequentar.

Tal como era real o corte de feriados.

E por aí adiante.

A realidade é a materialidade socioeconómica e espiritual que resulta de determinadas relações de forças entre as diversas classes e camadas sociais que formam a sociedade.

A realidade que resulta do tratado de Roma e que visa apertar os países do sul no torniquete da austeridade e empobrecê-los tem subjacente a ideia de que há países com um determinado destino e outros com outro, mesmo dentro da União.

Os do sul devem empobrecer para os do centro e do norte investirem e `a custa de salários baixos enriquecer os investidores.

Esta é uma realidade, mas não é imutável nem tem atrás de si um determinismo ao qual não se pode fugir.

Quem assim o defende são os que se encontram satisfeitos com esta realidade alicerçada na ideologia que devem ser os bilionários a mandar na sociedade de modo a que os seus lucros aumentem, esmifrando os de baixo e todas as classes e camadas que não pertencem ao Olimpo daqueles poderosos.

O Sr. Presidente da República é um homem culto e certamente sabia que mesmo as pedras que fazem parte da realidade material que nos rodeia mudam. E não têm ideologia. Sofrem a influência de outros elementos que as envolvem como o vento e a água.

O mesmo se passa com os homens. A escravatura era imutável, até para Aristóteles, há milénios.

No entanto finou-se. Os homens que a instauraram acabaram com ela.

Assim será sempre e a realidade de hoje baseada nas ideias do arco da governação e de Passos, Portas, Cristas, Maria Luís e de tutti quanti há de ser mudada pela ação de outras mulheres e homens com ideias diferentes a que correspondam as aspirações sociais de outras maiorias.

Esta realidade a que o Presidente da República quer amarrar o carro da sociedade e impedi-lo de chegar a outras estações é baseada em valores retrógrados.

É feio esconder a ideologia por medo da sua brutidade.  Não é muito afetuoso. Pode dar cabo da presidência dos afetos. Veja bem Senhor Presidente.

 

 

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