Coação e Violência Sexuais

Estudos recentes da UMAR trouxeram à tona da realidade factos assustadores no que se refere à violência sexual entre jovens.

De acordo com esse estudo 32,5% dos rapazes considera natural usar de algum tipo de violência para ter sexo e 14.5% das raparigas não considera violência forçar um beijo ou ter sexo.

O estudo obriga a pensar no mundo que estamos a ajudar a construir.

A violência sexual é um aspeto da violência geral: aquela em que apesar de tudo há mais diques a obstrui-la. Por isso espanta que uma percentagem tão elevada de rapazes a considere como padrão normal de comportamento para a prática de um dos comportamentos mais ternos entre humanos.

Os jovens de hoje são filhos da liberdade, desfrutam-na, respiram-na e têm consciência do que implica o consentimento sexual.

Se se pensar no que nos rodeia e tivermos em conta que o número de mulheres assassinadas pelos cônjuges ou namorados, no ano passado até Novembro de 2015, atingiu vinte e sete teremos uma ideia da maldade criminosa que existe na sociedade dos nossos dias ao nível do relacionamento amoroso. As notícias desta guerra contra as mulheres não param de chegar; uma guerra de cobardes contra mulheres indefesas.

O estudo divulgado (nos média) não nos revela as origens sociais destes jovens, o que seria porventura interessante.

É hoje aceite na comunidade que o que conta é o triunfo, o enriquecimento de qualquer modo, nem que para tanto seja necessário descer aos infernos. O que vale é o peso do dinheiro.

A violência tem uma linha em que passa a ser admitida, a linha da conduta contra os apresentados como os maus. Toda a violência lhes pode cair em cima.

Há por exemplo uma certa tendência para valorizar um acidente aéreo em termos mediáticos e desvalorizar o número de centenas de milhares de seres humanos que morrem de fome. Uma valorização das vítimas dos jiadistas e a desvalorização de centenas de milhares de vítimas dos bombardeamentos dos EUA e aliados…

Os valores dominantes são os ligados ao individualismo mais feroz. Os heróis da juventude são, entre outros, alguns artistas e desportistas ou multibilionários famosos que com as suas colossais fortunas fazem a vida que lhes der na real gana, onde não há limites e ostensivamente alardeiam essas veleidades de semi deuses neste vale de lágrimas para uma grande parte das populações.

Foi criado uma espécie de exibicionismo exposto na grande montra que são os média e a população embasbacada o babar-se com o tipo de vida que nunca usufruirá mas que adoraria ter, uma transformação de humanos ou objetos.

Estes são os valores. Naturalmente que uma sociedade deste tipo se baseia na violência latente ou aberta fundada numa desigualdade injustificável e injustificada a todos os níveis.

Os valores das artes e das profissões baseiam-se nos que são capazes de triunfar mesmo à custa de torpedear tudo e todos.

É a violência latente e ou aberta na comunidade. As raparigas e os rapazes para se “safarem” têm de fazer valer o que têm à mão …

A ideia dos valores baseados no trabalho, na honestidade, na perseverança, na honradez, são coisa de somenos importância.

Se é preciso isto ou aquilo para enriquecer faz-se, seja na televisão, seja no cinema, seja onde for necessário. A vida é hedonismo; os novos por serem novos vão ganhar aos velhos e o mundo é dos que têm força.

Quem tem força manda e quem manda vive como quer. Estes são os valores dominantes. Os que mandam, mandam. No mundo. Na Bolsa. Nos mercados. Aliás os mercados já se “irritam”. Já têm comportamento humano. Os mercados valem mais que um povo inteiro ou povos inteiros, isto é, o dinheiro vale tudo, a vida humana muito pouco.

Os de baixo que embasbacados pelo esplendor da vida dos de cima perdem-se e dariam tudo ou quase tudo por ser como aqueles que realmente têm vida, uma vidona.

A outra, a que eles vivem não é vida, não é nada, embora tenham consciência que a vida pode ser de outro modo se fizerem de outro modo em busca de dignidade que muito de entre estes deixaram de acreditar.

Este é o mundo cuja o grau de crueldade já atingiu os rapazes doa quatorze aos dezassete anos que acham natural forçar uma rapariga a ter sexo quando ter sexo naquela idade poderia ser uma partilha com maior ou menor cumplicidade, mais ou menos desajeitada, mas apesar de tudo algo desejada e consentida entre os protagonistas.

Se um jovem assume a violência para ter sexo ou um beijo ou quer que seja no domínio do afeto estará ou não marcado por esse estigma pela vida fora?

O rapaz que não olha a meios para ter sexo, o que violenta para responder aos desafios da idade, não está em condições de apreender a enorme satisfação do esforço do encantamento recíproco. Porquê esforçar-se se de um golpe pode obter o mesmo? Aí está a incapacidade de compreender o outro. Resta a violência.

Estes rapazes são responsáveis pelas suas condutas; no seu lastro vem se calhar um meio de violências.

A sociedade neo liberal gera um verdadeiro caos entre os seres humanos porque o poder e a força são entendidos como o meio para se chegar onde se quer independentemente da vontade do outro.

A culpa é individual, sem dúvida. Mas o homem é produto das circunstâncias; são as circunstâncias que formam o homem. Circunstâncias baseadas em valores positivos têm mais possibilidade de gerar homens e mulheres irmanados de valores e respeitadores da liberdade de cada um.

É perturbador que um terço dos rapazes de Portugal ainda não tenha adquirido, no mais íntimo de cada um, que a força do amor e do sexo reside na capacidade de ser aceite, de encantar e de ser encantado. E daí a tristeza e a alegria caminharam entre nós de mãos dadas. Não se lhes pode fugir. É preciso enfrentar a tristeza e saber preservar a alegria.

A força está exatamente no deslumbramento da perdição de dois seres que são livres e onde a coação mora apenas na liberdade de serem como são e fazerem como livremente quiserem.

A maior fatia dos entrevistados pensa assim. Felizmente, não obstante uma fatia significativa ainda não ter acordado para a possibilidade de alcançar o mesmo por esta via.

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