Escrevi, neste espaço, no dia do referêndum, após o rotundo OXI, que era grego. Agora, depois da pancadaria que os gregos levaram em Bruxelas durante dezanove horas, continuo a sentir-me grego. Aliás, perdoem-me a inconfidência, sinto-me mais grego do que alguma vez já me senti.
Os gregos deram a Tsipras um voto de confiança. A confiança de um povo no seu governante, algo que Dona Maria Luís há muito perdeu…
Tsipras terá pensado que entre a chantagem e a punição anunciada e a possibilidade de a economia funcionar, mesmo à custa de suor, lágrimas e sangue, talvez esta última hipótese fosse a menos má. Não sei. Nunca falei com ele.
A verdade nunca é isto contra aquilo, apenas. É um pouco mais e um pouco menos. Imagino todos aqueles senhores e senhoras cheios de dinheiro dos credores a bater num Zé-Ninguém sem gravata, teso que nem um carapau…Os cofres que recebeu da Santa Família dos submissos não tinham literalmente o que se visse.
E, no entanto, aquelas senhoras e aqueles senhores, quase todos juntos uns aos outros, finlandeses, holandeses, alemães e outros, cheios de razão e dinheiro a darem pancada no Sr Tsipras e ele sem saber para que lado se virar.
Imaginemos: se respeitasse o resultado do referêndum era expulso e ficava como estava, sem tusto.
Se dissesse que sim àquela gente ficava em guerra consigo e com outros na Grécia.
Tsipras escolheu poder continuar a respirar, embora não seja seguro que na Grécia o oxigénio seja respirável.
O que ficou certo para todos os povos e cidadãos deste velho continente é que na União Europeia a moeda única é um colete de forças para manietar quem não queira perder a confiança do respetivo povo e queira seguir um caminho adequado à sua vontade.
Maria Luís e Passos Coelho não podem perder o que o governo grego pode vir a perder: a confiança do povo português. Há muito tempo que mais de cinquenta e muitos por cento dos portugueses não confiam neles.
Na Grécia Tsipras pode vir a perdê-la mas tem-na tido e quando havia dúvidas referendou-as.
Em Portugal Coelho e Portas prometeram mundos e fundos e impuseram aos portugueses empobrecimento.
O povo grego disse OXI e agora Tsipras disse em grande medida SIM ao que o povo grego tinha dito OXI. Vamos ver o que acontece amanhã.
A Grécia já existia e estes credores nem sequer eram um embrião do que quer que fosse.
Amanhã há um novo dia. A Grécia e o povo grego e o Siyriza e outros vão continuar a sua luta. Os credores vão ter de esperar por amanhã e por depois de amanhã e pelos dias que hão-de vir.
É na Grécia que bate a Europa dos povos. Em Berlim, Helsínquia, Bruxelas ou Londres bate a Europa da ganância dos usurários. Haverá novos encontros e os desfechos podem sempre serem diferentes.