A RTP 1 prestou ontem um bom serviço ao país entrevistando o Presidente da República Árabe Síria.
Permitiu que se ficasse a conhecer diretamente de um protagonista incontornável as propostas do governo sírio para encontrar uma saída do conflito.
Bashar Assad não é um bom exemplo para ninguém; tem uma conceção de poder ditatorial, e não é um dirigente político tolerante para com os seus adversários.
O regime não tinha contemplação para com os oposicionistas. As cadeias sírias estavam lotadas de presos políticos.
Mas a Síria, como qualquer país do Médio Oriente, é uma construção de maiorias, minorias, seitas e diversas confissões religiosas.
O regime de Assad é caracterizado pela sua laicidade onde as minorias são minimamente respeitados: cristãos, yazdis, curdos, entre outros.
Quer o pai, quer o atual Presidente primaram por não trazer para a política o Islão e muito menos perseguir as minorias.
O que aconteceu na Síria não foi exatamente o que Assad disse, mas é verdade que aproveitando o descontentamento popular a Arábia Saudita, o Qatar, a Turquia, a França, o Reino Unido fizeram chegar à oposição armada quantidades enormes de armamento que caíram nas mãos do ISIS e da Al-Nusra.
Ninguém pode ignorar os vídeos e as cenas mais macabras de jiadistas “sírios” a comerem as entranhas de soldados sírios.
Em todas as reuniões realizadas em Genebra para encontrar uma solução, o Ocidente não aceitou a presença dos representantes das autoridades sírias.
É de todo incompreensível que o regime que controla treze das quatorze capitais provinciais seja excluído das negociações.
Para se encontrar soluções negociadas o melhor caminho não é seguramente excluir a parte mais forte e com uma legitimidade acrescida em relação às outras partes.
Ora o que aconteceu no Iraque, na Líbia e o que está a acontecer na Síria, mostra que não se pode brincar com o fogo, sem se queimar.
O regime saudita não tem comparação com o regime sírio em termos de respeito pelos direitos humanos e ninguém no Ocidente está disponível para atacar uma das mais absolutistas monarquias do mundo.
A Arábia Saudita patrociona, por todo o mundo árabe e muçulmano, a aplicação da sharia, com o desprezo de todas as outras religiões.
O mundo está consciente dos perigos que constitui hoje a vitória do ISIS.
O Presidente sírio e o Ocidente, nesta fase da conjuntura regional, só têm a ganhar em derrotar os jiadistas que ocupam grandes porções do território sírio e iraquiano.
Depois abrir-se-á o campo a outro tipo de negociações. O fundamental será permitir que os sírios possam decidir livre e democraticamente o futuro da Síria.
Isso implica a derrota dos jiadistas. E não há dúvidas para ninguém que a Síria é a parte mais determinada nesse combate