Os capachos foram feitos para os capatazes pisarem, coisa e tal. As carochinhas, pois.

Portugal foi autorizado por Bruxelas a gastar até cinco por cento do PIB para comprar armas. O país dos portugueses não está autorizado a passar o défice de três por cento, mas pode comprar armamento até os 5% que a parte que vai para além dos 3% não conta. Bruxelas informou que nesta matéria terá os seus olheiros a monitorizar a realidade dos factos, não vá o governo dos portugueses não cumprir as orientações da capital da Bélgica e sede dos que ali mandam nos países da UE.

Em Portugal nenhum português foi ouvido acerca desta ordem. Nem em Paris ou Bucareste ou Roma.

Ao que se sabe a ordem veio de Trump que por sinal quer deitar a mão à Gronelândia e que as senhoras e senhores que dão ordens em Bruxelas obedecem porque a Europa não pode prescindir da defesa dos EUA. Dizem.

Estas compras serão feitas ao complexo militar dos USA porque precisa dessas encomendas para fazer frente à ameaça russa de Putin, sendo certo que este senhor cavalheiro telefona a Trump e falam acerca de como vai a Europa e o mundo e a Europa e o mundo adivinham do que eles falaram porque os seus porta-vozes emitem declarações e tal e tal.

O neerlandês que combinou com o que manda ( ?!) nos USA ser ele o caixeiro viajante da Organização do Atlântico Norte que já vai no Indo-Pacífico assegura que os donos da NATO não aceitam mantê-la se os europeus não a pagarem.

Os europeus têm de pagar a conta das despesas, mesmo comprando aos USA as armas que poderiam ter de utilizar contra os USA se estes concretizarem a ameaça de empalmar a Gronelândia. Coisa que nunca fariam porque os USA têm de ser compreendidos…

Já houve um senhor holandês na altura da troica que achava que os dos Sul da Europa eram muito dados a gastos com copos e mulheres e como tal rédea curta, austeridade.

Agora a rédea é larga porque qualquer dia as tribos eslavas  da  Rússia com armas da 1ª guerra mundial e sem rações e mísseis e com o Chefe da tribo cheio de cancros tomam conta do país dos portugueses, mesmo que o almirante lhes faça frente logo à saída de Kursk, pois os russos não seriam capazes de se defender com um almirante a dirigir a guerra das planícies.

Para o senhor Rutte a verdade é esta: gastar em superficialidades como construção de casas, hospitais, Serviços Públicos, aeroportos, pontes é altamente lesivo dos interesses ocidentais pelo que não serão admitidos; comprar armas aos States é a forma de nos proteger dos eslavos da Rússia que já têm mira nos copos e nas mulheres e pior que tudo para um neerlandês é ver na sua cruzada puritana protestante um eslavo ortodoxo transformar-se num pecador de copos e gajas.

Pois e coisa. Neste dia a França de Macron mandou mais um navio de armas para Netanyahu. Pois. E a Alemanha de Merz continua a proibir manifestações de apoio à Palestina e o fim do genocídio palestiniano. Pois e tal, senhor António Costa, Presidente do Conselho Europeu que garantiu a pés juntos que com a Rússia não se negociava até à sua derrota. Pois e tal. A carochinha era muito linda e tinha um vestido com joaninhas pintadas e Portugal tem de gastar o que não tem porque os capachos foram feitos para os capatazes limpares os sapatos. Coisa e tal.

EM VEZ DE FALAR DE CIMA DA BURRA

A vaga neoliberal instalou-se dentro dos regimes democráticos e sangra-os. Na UE foram criadas regras que se impõem a todos os Estados, sejam mais ou menos desenvolvidos. Os partidos que governam têm nas questões decisivas para o seu desenvolvimento económico uma pauta única e reduzida. Há pouco espaço para a diferença, a qual se faz sobretudo por via de ataques em torno da honorabilidade. Os media ampliam os casos. Casos e mais casos e dias de chafurdice. Assim se governa e se faz oposição.

A discussão sobre os grandes problemas do país, da UE e do mundo está a cargo de comentadores com 90% de opiniões idênticas ou muito parecidas. Há uma espécie de pensamento único. Os partidos governantes não serão iguais, mas alinham na busca dos mesmos fins, entendem-se e diferenciam-se sobretudo pelo barulho dos ataques entre si.

O mundo das brutais desigualdades instalou-se. De Washington a Moscovo, de Toronto a Pequim, de Lisboa a Helsínquia, de Pretória a Riade, de Singapura ao Rio de Janeiro.

Por cá Ventura fala de ciganos e corruptos e de mais benefícios para os que já têm muitos. Tem a complacência dos media, é o político com mais entrevistas nas têvês…mais que Montenegro e Pedro Nuno dos Santos juntos. Branco o é galinha o põe.

As outrora chamadas linhas vermelhas de tanto se desbotarem passaram a incolores em quase todos os associados de Bruxelas para evitar a invocada ingovernabilidade. Os democratas-cristãos, os conservadores, os socialistas, assumem acordos em nome da tal governabilidade com a maioria das extremas-direitas. Parece que chegou a hora do Chega. Por todo o lado se lê e se ouve o perigo de marginalizar o Chega. Os donos disto tudo não veem problema no Chega ser a alternativa, tal como em Itália com Meloni, toda repimpada entre Bruxelas e Washington.  

Os povos sentem-se impotentes. Então, votam nos que pescam no descontentamento e apregoam como inimigos pobres desgraçados que nada decidem e são usados para entreterem os distraídos a atirarem pedras a esses concidadãos. Os votos no Chega não são só protesto e raiva, talvez sejam uma espécie de linha S.O.S. Quando tudo em redor está mal, pode ser atrativo experimentar o pior, tal como escreveu o filósofo inglês F.H.Bradley.

Como morreu a esperança, cada um(a) fica mais só. Nesse estado, é mais fácil vir ao de cima o lado mais negro da humana condição, o egoísmo, a vingança, a inveja, o oportunismo e o desespero. Os perdedores gostariam de copiar os ganhadores, os oligarcas, os famosos da boa vida. Os de baixo têm pedras e atiram o Chega como uma pedra para “partir isto tudo”, para ver se o pior faz mudar as coisas que vão mal. Em termos de psicologia de massas o sentimento pode ser irracional, mas a ideia punir o status quo “precisa” do voto em Ventura.

O PS português faz de conta que não vê o desaparecimento de outros pêsses noutros países exatamente por não fazerem diferente. Continua a insistir na defesa de políticas que criam este atoleiro democrático, seja nas políticas de desenvolvimento económico, seja na militarização da UE.

  O PCP dirige-se a uma parte da sociedade que, no essencial, já não o ouve ou já não existe. Faz que vai à frente e está parado a olhar para o passado, replicando métodos, palavras de ordem e campanhas. Fica contente com ir perdendo votos e deputados a conta gotas. Ajá anunciada moção de rejeição do programa do governo não lembra ao diabo. Qualquer um pode adivinhar o próximo Comunicado do CC do PCP sobre os resultados das próximas eleições.

O BE acantonou-se no seu identitarismo e fechou-se tentando abrir com um verbalismo populista sem qualquer efeito prático. Fala para dentro e para os que estão próximos.

Nem um, nem outro, capitalizaram o descontentamento social. São vistos como os outros partidos. E, sendo muito injusto, é necessário um exercício de grande humildade para compreender e ajustar os estilos, as propostas e uma maior clareza estratégica quanto aos objetivos.

Como é possível que estes dois partidos ao cabo de todos estes anos estejam de costas voltadas, como competidores incapazes de forjar algo comum, bem sabendo que sem essa base não procedem e, que mesmo assim, precisam de outros para alianças que permitam a mudança? Que dizem a juntar forças nas autárquicas e nas presidenciais…nem agora avançam com o apoio a Sampaio da Nóvoa ou outro para candidato a PR? As esquerdas têm de aprender a ouvir, a ter em conta o que ouvem, em vez de falar de cima da burra.

Em vez de falar de cima da burra | Opinião | PÚBLICO

ESTA VOZ SUBLIME DO IRÃO

WOVEN SOUNDS

Havia uma voz sem rosto. Vinha de um espaço do céu (assim se pensa) onde a harmonia é o único ser. Flutuava como um fio fino de filigrana. Intrigava a ausência do rosto.

A voz, nesse espaço celestial recolhia-se e então a flauta de cana (ney em persa) o selar, a kamancha, o tambor e a pandeireta surgiam num fundo de um horizonte de tecedeiras ancestrais, puxando fios.

 Logo a voz de embalar nos batia nas paredes que não vemos, mas sabemos estarem dentro de nós, na porta dos sentimentos de felicidade.

Tudo se passava como se um leve vento crepuscular nos afagasse a face.

Porém, a voz continuava sem rosto. Ouvíamo-la. Era como se ali sempre estivesse estado desde que se começou a tecer tapetes e o próprio tempo.

De repente, quando tudo terminou e ela deixou o tear e se virou, surgiu o rosto, o da iraniana Maryam Abtahi, a tecedeira de voz sublime. Ela e as outras a tecerem o futuro. Que seja tão colorido como os desígnios implícitos na voz e nos tapetes. Que a sorte chegue breve.

Isolar, atomizar, anestesiar.

Arlindo Cunha num interessante texto publicado neste jornal   Admirável Mundo Novo | Opinião | PÚBLICO analisa alguns comportamentos dos humanos no mundo de hoje a propósito do livro de Aldous Huxley.

Huxley cria que as novas tecnologias iriam formatar os humanos e fazê-los perder a sua individualidade, funcionando como peças de uma engrenagem hierarquizada. Não sucedeu, embora a sua reflexão dê muito que pensar.

O humano é um bicho inteligente, flexível, sensível, capaz dos maiores feitos e de brutais maldades criminosas. Num outro plano, como bem descreve Arlindo Cunha, é mais dado a ser levado por “… uma situação onde a liberdade não nos é retirada por terceiros, mas trocada voluntariamente por conveniência e prazer…”

No ponto atual do nosso viver há como que um choque invisível entre o indivíduo e a comunidade onde se insere. O neoliberalismo veio atomizar os seres humanos, fazer deles peças soltas ao deus-dará. Só há indivíduos. A sociedade é uma invenção, dizia a Sra. Tatcher. O que ela proclamava no final do século passado ganhou o universo dos humanos. Cada um sabe de si, se é que sabe. O mundo sou eu e as minhas ocupações. Uma infinidade de ocupações centradas em si mesmo. O outro só existe, se for como eu. O ponto de contacto é a “tribo”, mas para logo se aconchegar no ego gigante.  

Esta realidade foi engendrada na medida em que a vida em comunidade foi sendo estilhaçada, tornando a esperança no destino comum um sonho perdido, pelo menos por ora.

A democracia foi sangrada por dentro face à sementeira de austeridade e de empobrecimento. Foi plantado o desânimo. Partiu-se a bússola, e a democracia precisa de participação, confiança e sentido do percurso.

As forças totalitárias compreenderam que era mais fácil conquistar os humanos com “doçura” do que com a força bruta. No pós-modernismo tudo é fofo, não há arestas. A técnica é isolar, atomizar, anestesiar e virar cada um para dentro de si.

É interessante confrontar este ponto atual com outros no nosso caminho. Nas sociedades primitivas ser esquimó inuit era ser humano. Para os esquimós Toutches ser humano era ser toutche. Para os ianomanis da Amazónia o indivíduo conta enquanto membro do grupo. Só, não conta. Na Grécia antiga, a condenação ao ostracismo correspondia a uma pena de 10 anos de exílio, longe de Atenas.

Étienne de La Boétie no seu livro “Discurso sobre a servidão voluntária” , escrito no final do sec. XVI, regista que Ciro após conquistar a capital da Lídia, Sardes, recebeu a notícia que os lídios se tinham revoltado. Em vez de pegar em armas para os derrotar fundou bordéis, tabernas e jogos públicos, mandando pregões a anunciar a obrigatoriedade de os frequentar. Resultou em pleno, de tal ordem que a palavra latina para designar passatempo é ludi que vem de lydi. A palavra portuguesa lúdico vem daí.

 Sétimo Severo, Imperador de Roma, inaugurou as Decennallia, sumptuosas festas que criavam uma ilusão de poder e como grandes espetáculos eram concorridos por todo o povo de Roma que desse modo aplaudia o Imperador.

“…Nestas festas os tiranos ofereciam o quarto de trigo, o sesteiro de vinho e o sestércio…in “Discurso sobre a servidão voluntária”. Ainda não havia futebol.

Nada que que se compare no Dia do Trabalhador – 1º de Maio- ao dueto sublime a roçar o piroso entre Luís e Tony, em São Bento, o da porta aberta naquele dia.

O que agora é diferente por comparação com tempos antigos é a poderosa máquina tecnológica e o poder dos media no que toca a capacidade de tornar os indivíduos numa espécie de baratas a correr de fogacho em fogacho, sem a capacidade de integrar o que sucede na evolução global do mundo, como muitas vezes sucedeu, só que agora se agravou com a atomização social retirando ao indivíduo a sua razão de ser, a sociedade “… Nenhuma das faculdades superiores do homem existe a não ser para ligar a vida individual à vida da espécie…” in “Condition de L’homme moderne”, Hanna Arendt.

O ser humano traz consigo a novidade e o velho caminho por onde veio. Momentaneamente o caminho parece aproximar-se do abismo. Guerras na Ucrânia, Gaza, Iémen, Congo, Sudão e à beira do conflito na India e Paquistão e em Taiwan.

Aqui na Europa só se ouve o clamor da corrida às armas. A voz da paz está silenciosa. Os telemóveis ligados parece que nos desligam dos outros ou nos ligam apenas ao nosso minúsculo mundo. Como tudo é passageiro, os dias que hão de vir, talvez nos deem mais esperança. É preciso pensar. Ouvir a canção de Paco Ibañez, Palavras para Júlia …Un hombre solo, una mujer, así tomados, de uno en uno, son como polvo, no son nada… poema de José Austin Gyosolo. Não haverá o admirável mundo novo sem os outros.

COM ARMAS SE FAZ A GUERRA

Será que, nós humanos, não temos capacidade para nos mantermos como seres capazes de viver uns com os outros? Será?

As guerras não ocorrem ao acaso; nascem de preparação anterior. O primeiro passo implica a acumulação de armas. A corrida às armas tem em vista defender-se do “inimigo”. Todas as guerras se justificaram desta maneira. A da Ucrânia não constitui exceção nesta matéria.

Todas as partes foram acumulando armas: Rússia, Ucrânia e NATO.

Depois do golpe de Estado da Praça Maidan, em 2014, liderado por Vitoria Nuland, (a tal que queria que a UE se fod—e) tudo acelerou. A Rússia tinha pressa para impedir que a Ucrânia se continuasse a armar, como foi já esclarecido por François Hollande, Angela Merkl e Poroschenko; a NATO/EUA/UE partiam do pressuposto que derrotariam a Rússia com as sanções económicas, desligando-a do mundo.

Em grande medida, por essa razão os EUA, que tudo fizeram para derrotar a Rússia, salvo envolver-se diretamente (o que conduziria à 3ª guerra mundial- talvez a última- parece quererem desligar-se da aventura militar e deixar a UE a continuar a fornecer armas à Ucrânia (compradas aos EUA) e até, quem sabe, segundo alguns dirigentes de países importantes envolverem-se no território ucraniano, levando o continente para muito próximo do braseiro nuclear.

Ursula von der Leyen, António Costa, Kallas e outros engoliram o disco da corrida aos armamentos. Há dinheiro a rodo para a indústria da morte. Não o há para a saúde e para a habitação, mas há 800 000 milhões de euros … para armas. Diz da loucura em que vivem os dirigentes europeus, fechados numa bolha onde não entra a vida das populações e dos povos europeus.

Instigam a corrida aos armamentos, como recentemente Durão Barroso, em entrevista ao DN de 22/04/2025 que demagogicamente invoca os filhos e os netos para justificar a corrida aos armamentos, dado o aparente nexo de causalidade entre viver em paz e acumular armamento.

Historicamente, sempre que se defendeu a corrida aos armamentos para conter uma ameaça acabou por desaguar na guerra. Aliás, o próprio Durão Barroso tem um historial sinistro no que toca à defesa da guerra, pois garantiu-nos que o Iraque tinha armas de destruição massiva e bem sabia que era mentira. Que autoridade pode ter alguém que para capacho dos EUA se prestou a este infame papel?

A corrida aos armamentos e consequente acumulação de armas tem pelo menos dois objetivos: entregar aos grupos económicos que se dedicam à indústria armamentista a exploração de novos investimentos que darão maior percentagem de lucro que a indústria em crise e muito provavelmente jogar na guerra em condições que não degenerem numa guerra mundial no pressuposto que a Rússia não suporte o esforço de guerra e leve à queda do regime.

E, neste clima de histerismo armamentista que está em preparação a entrega de parte ou de todos os fundos da Segurança Social a Fundos privados e, em nome do esforço armamentista, e criar o risco de fazer as pensões entrar na roleta do mercado bolsista.

No dia do apagão um vizinho antes de se saber exatamente o que se estava a passar dizia-me que tinha sido o Putin a cortar os cabos submarinos…imagine-se a eletricidade a chegar por esta via. Na verdade, o clima de intoxicação de massas é realmente assustador. Droga a mente das pessoas. Impede-as de usar a razão.

Como escreveu o grande escritor e emérito pacifista, Stefan Zweig, …exigir imparcialidade durante a guerra é pueril, pois a guerra é indiferente a esses princípios, e até necessita precisamente de uma constante excitação que mantenha o entusiasmo pela causa própria e o ódio ao adversário…in  “O mundo de Ontem”, editora Livraria Civilização; daí as penas de prisão bem pesadas na Rússia e a censura a tudo quanto é russo na UE, muito para além do praticado na guerra fria. E o bater na tecla cega e acéfala, durante este tempo todo, da necessidade imperiosa de derrotar estrategicamente a Rússia, o que até hoje não se verificou.

Trata-se, como é bom de ver, de uma partida cujo resultado é não só imprevisível, como também altamente perigoso.

Ninguém sabe o ponto em que este confronto bate no limiar do que a Rússia possa considerar que está em causa o problema existencial. Por muito menos John Kennedy ameaçou a URSS com um ataque nuclear quando os soviéticos estacionaram mísseis nucleares em Cuba.

Os EUA ao “abandonarem” a Ucrânia não o fazem por motivos pacifistas e construtivos. Fazem-no porque estão a perder a guerra. Ou escalam para o patamar nuclear ou retiram-se para esconder a derrota no conflito. É aqui que bate o ponto.

Apesar do mundo alucinado e desvairado de Trump, a Administração no seu conjunto, foi levado a tomar um banho de realismo, e que mostra o declínio do Império e simultaneamente a capacidade de apreender que o mundo mudou e não há MAGA que faça o tempo voltar para trás.

É estranho e bizarro que o continente das guerras mundiais, de cem anos uma outra, continue perdido nos sonhos de grandeza imperial definitivamente arredados do palco. Quando Ursula von der Leyen ou Kallas ou António Costa carregam no acelerador do carro da guerra que representam para os povos europeus? Continuar o projeto de se submeterem aos EUA e comprarem-lhe armas, anunciando publicamente o seu desacordo com as negociações sobre a Ucrânia e uma autonomia estratégica para inglês ver.

Já perderam de vista o projeto pacifista de uma Europa de paz e de coesão social, o objetivo mais nobre desde a existência da Europa, mas para tal era necessário confiar nos povos da Europa e não partir de uma estratégia dirigista e burocrática afinada com os EUA para impor aos povos europeus a política neoliberal que devasta o mundo, como bem esclareceu no seu livro “Fratelli Tutti” o saudoso Papa Francisco.

A Europa vai de Lisboa aos Urais. Foi engendrada em múltiplos confrontos. Deve-se ao saber de homens de todo os países, desde Sócrates a Platão, Ovídio a Plutarco, Shakespear a Tolstoi, Roman Rolland a Goethe, Petrarca a Cervantes, Camões a Espinoza e a tantos e tantos europeus que com a sua arte, conhecimento e sabedoria imaginaram a nossa civilização e a fizeram avançar.

Não podemos permitir que regressemos à barbárie. É preciso que mulheres e homens esclarecidos levantem as suas vozes e consigam que a guerra na Ucrânia se resolva à mesa das negociações e certamente com concessões de parte a parte.

Precisamos de dar uma volta de 180 graus e usar afinal os recursos que existem para resolver os problemas reais que afetam os cidadãos dos países da UE, designadamente a habitação, a saúde, os serviços públicos e a degradação ambiental.

A intoxicação e manipulação dos governos e da maioria dos media funciona como uma droga para anestesiar a consciência e a razão humanas. Depois de tantas desgraças e guerras em solo europeu é caso para perguntar se ainda não estamos cansados de centenas de milhões mortos. Será que a essas montanhas de mortos queremos juntar o braseiro nuclear? Será que nós humanos não temos capacidade para nos mantermos como seres capazes de viver uns com os outros? Será?

Na morte de Francisco, o homem de sorriso de avô

Sinto me mais só.

Falta-me aquele sorriso.

Uma companhia. A ânsia de o ler. “Todos irmãos”.

Falta-me a sua coragem. A sua gentileza e a sua bondade. A sua força serena e contagiante.

Num mundo de hipócritas cheios de ” valores”, como o dos vendilhões do Templo, falta-me a sua subversão de apelar ao fim das armas nucleares. 

Falta-me a sua coragem, como a dos cristãos primitivos, de remar contra a maré.

Falta-me o exemplo de quem não queria ser exemplar, mas apenas a de um homem que trilhava o caminho da integridade.

Falta-me, num mundo de vénias aos mais poderosos, a audácia de estar com os pobres.

Falta-me a sua sabedoria de saber que vale mais a diplomacia que todas as guerras.

Falta-me, como comunista órfão e ateu, o mais católico dos católicos.

Guardo o que de bom deixou, mas a verdade é que me falta aquele sorriso. Um sorriso de um homem que fazia da fragilidade e de todos os frágeis a sua força.

E agora?

 Partir com todos os pobres e com todos os trabalhadores de todo o mundo pelas avenidas do despertar dos corações humanos para um mundo mais justo, sem armas nucleares, sem guerras, um mundo onde sejamos “Tutti Fratelli”.

Falta-me o irmão Francisco. 

Ficou o seu exemplo.

 ACORDAI

Nem sempre temos a consciência de que, em certos momentos, o que estamos a viver, irá ter efeitos que mudarão o modo como se viverá alguns anos à frente. O que se apresenta é muitas vezes o embrião do futuro e não o que permanece.

Quando Tatcher e Reagan iniciaram o combate de modo feroz contra a política saída do final da 2ª guerra mundial, atacando o contrato social que foi responsável pelo nível de vida “ocidental” designadamente o movimento sindical e declarando guerra ao setor público, iniciando as privatizações de tudo o que podia ser viável e rentável, o mundo passou a girar sob essa batuta.

Consolidou-se a consigna “Todo o poder aos bilionários”. Hoje, nos EUA, a democracia engendrou um governo dos ricos, para os ricos e pelos ricos. Que diria Abraham Lincoln, que defendeu que a democracia é o regime do povo, para o povo e pelo povo, da plutocracia dominante de Washington?

 Nos anos 90, a CEE e depois a UE com a participação das famílias políticas socialistas, liberais e conservadoras e Cª empreenderam uma guinada no sentido neoliberal.

As consequências estão à vista: austeridade, empobrecimento, de um lado, e brutal acumulação de riqueza do outro num número restritíssimo de oligarcas.

Tudo isto ocorreu em paralelo com a implosão da URSS, o que fez crer aos dirigentes norte-americanos que tinha chegado a hora de “Todo o poder aos EUA”. As invasões do Iraque e do Afeganistão e os bombardeamentos da Jugoslávia e da Líbia assentam nesta conceção, assim como o alargamento da NATO para o os países que pertenciam ao Pacto de Varsóvia.

Os governos ocidentais, embora saídos de diferentes partidos passaram a governar do mesmo modo, de acordo com os mercados, ou seja, aumentar os lucros de um lado o empobrecimento do outro.

As elites governantes saem em geral de dentro dos partidos. Reproduzem-se burocraticamente em cada capital dos 27 e com todo o lustro em Bruxelas. Os governantes entregaram a alma aos mercados. O niilismo campeia. O soberano (o povo) não quer a soberania – as eleições confirmam que muito pouco muda. Ataques pessoais, gritaria à falta de ideais. A própria justiça entra pela política adentro face à incapacidade do sistema.

De certo modo a democracia foi expropriada do povo que lhe dava sustento e seiva. Agora é uma repetição de atos eleitorais em que todos atacam todos e tudo. Os que ganham vão para o governo desfazer o que estava a ser feito e que, no essencial, é mudar as chefias para que quem vence possa abocanhar os cargos que justificam a existência do partido único – o partido dos mercados – constituído por várias secções de interesses, os partidos dos governos.

O neoliberalismo transformou as sociedades em indivíduos isolados, descrentes, sem horizontes, num vazio. Só há indivíduos, não há comunidades que ligam uns aos outros. Os verdadeiros indivíduos são os ricos, os famosos, os da vida boa. Os outros são verbos de encher. Servem para votar no tal partido único com as várias secções de interesses.

Os povos assistem a este desvario sem aparentemente saber o que fazer. Olham de lado. O soberano não quer o dom da soberania porque entende que o jogo está viciado. Já está tudo decidido. O soberano sente que o seu poder se encontra num beco sem saída.

Bizarramente os dirigentes da UE pretendem com a loucura do belicismo insuflar alguma crença ao Ocidente. As trombetas da morte batem à porta das casas da Europa. Quem lhes vai dar as chaves?

Nos anos 80 não se imaginava este caminho de desgraça. Não lemos bem os sinais. Pode ser que a cruel realidade desperte e varra a anestesia dominante. Vale a pena recordar o Acordai de José Gomes Ferreira orquestrado por Lopes Graça. …Acordai, acendei de almas e de sóis, este mar sem cais…

  … ACENDEI DE ALMAS E DE SÓIS

 ESTE MAR SEM CAIS…

Nem sempre temos a consciência de que, em certos momentos, o que estamos a viver, irá ter efeitos que mudarão o modo como se viverá alguns anos à frente. O que se apresenta é muitas vezes o embrião do futuro e não o que permanece.

Quando Tatcher e Reagan iniciaram o combate de modo feroz contra a política saída do final da 2ª guerra mundial, atacando o contrato social que foi responsável pelo nível de vida “ocidental” designadamente o movimento sindical e declarando guerra ao setor público, iniciando as privatizações de tudo o que podia ser viável e rentável, o mundo passou a girar sob essa batuta.

Consolidou-se a consigna “Todo o poder aos bilionários”. Hoje, nos EUA, a democracia engendrou um governo dos ricos, para os ricos e pelos ricos. Que diria Abraham Lincoln, que defendeu que a democracia é o regime do povo, para o povo e pelo povo, da plutocracia dominante de Washington?

 Nos anos 90, a CEE e depois a UE com a participação das famílias políticas socialistas, liberais e conservadoras e Cª empreenderam uma guinada no sentido neoliberal.

As consequências estão à vista: austeridade, empobrecimento, de um lado, e brutal acumulação de riqueza do outro num número restritíssimo de oligarcas.

Tudo isto ocorreu em paralelo com a implosão da URSS, o que fez crer aos dirigentes norte-americanos que tinha chegado a hora de “Todo o poder aos EUA”. As invasões do Iraque e do Afeganistão e os bombardeamentos da Jugoslávia e da Líbia assentam nesta conceção, assim como o alargamento da NATO para o os países que pertenciam ao Pacto de Varsóvia.

Os governos ocidentais, embora saídos de diferentes partidos passaram a governar do mesmo modo, de acordo com os mercados, ou seja, aumentar os lucros de um lado o empobrecimento do outro.

As elites governantes saem em geral de dentro dos partidos. Reproduzem-se burocraticamente em cada capital dos 27 e com todo o lustro em Bruxelas. Os governantes entregaram a alma aos mercados. O niilismo campeia. O soberano (o povo) não quer a soberania – as eleições confirmam que muito pouco muda. Ataques pessoais, gritaria à falta de ideais. A própria justiça entra pela política adentro face à incapacidade do sistema.

De certo modo a democracia foi expropriada do povo que lhe dava sustento e seiva. Agora é uma repetição de atos eleitorais em que todos atacam todos e tudo. Os que ganham vão para o governo desfazer o que estava a ser feito e que, no essencial, é mudar as chefias para que quem vence possa abocanhar os cargos que justificam a existência do partido único – o partido dos mercados – constituído por várias secções de interesses, os partidos dos governos.

O neoliberalismo transformou as sociedades em indivíduos isolados, descrentes, sem horizontes, num vazio. Só há indivíduos, não há comunidades que ligam uns aos outros. Os verdadeiros indivíduos são os ricos, os famosos, os da vida boa. Os outros são verbos de encher. Servem para votar no tal partido único com as várias secções de interesses.

Os povos assistem a este desvario sem aparentemente saber o que fazer. Olham de lado. O soberano não quer o dom da soberania porque entende que o jogo está viciado. Já está tudo decidido. O soberano sente que o seu poder se encontra num beco sem saída.

Bizarramente os dirigentes da UE pretendem com a loucura do belicismo insuflar alguma crença ao Ocidente. As trombetas da morte batem à porta das casas da Europa. Quem lhes vai dar as chaves?

Nos anos 80 não se imaginava este caminho de desgraça. Não lemos bem os sinais. Pode ser que a cruel realidade desperte e varra a anestesia dominante. Vale a pena recordar o Acordai de José Gomes Ferreira orquestrado por Lopes Graça. …Acordai, acendei de almas e de sóis, este mar sem cais…

https://www.publico.pt/2025/04/12/opiniao/opiniao/acendei-almas-sois-mar-cais-2129559

O KIT DA MAIS ILUSTRE COMISSÁRIA EUROPEIA

Uma comissária da União Europeia – Hadja Lahbib- a congeminadora do famoso do Kit para 72 horas para “responder” a crises.

Pode acontecer terramotos, tempestades, cheias, incêndios e é bom estar preparado. É preciso muito trabalhinho e juizinho.

Por outro lado, a comissária Hadja talvez não quisesse continuar a viver num anonimato que devia, sendo comissária da UE, considerar um infortúnio.

Ela deu conta doimpulso incontrolável dos cidadãos e das cidadãs para pegar em armas e partir para atacar a malévola Rússia que, segundo alguns estrategos, brevemente chegará a São Romão, bem próximo de Olivença. Ou, dizem outros, a Óbidos por causa do festival de chocolate.

Há até quem tenha visto para os lados da Sierra Morena (após o alerta do senhor Almirante por baixo do gelo da Gronelândia ao vislumbrar submarinos russos, perdão disfarçados de USA) carrinhas de caixa aberta cheia de drones e coisas desse género, disfarçadinhas de pacotes de rebuçados e de bolachas Cuetara que por sinal são muito boas.

Não desimaginemos das doenças e das intempéries, mas ao mesmo tempo imaginemos que os russos que fartos de batalhar na Ucrânia há mais de três anos, decidem contornar a Ucrânia e virem apanhar pela tardinha, sem dizer nem água vai, nem água vem, a Comissão inteirinha em Bruxelas a comer os chocolates belgas que também são bons, como eram os nossos Regina, que tinha uma fábrica para as bandas de Coimbra, quando havia fábricas de fazer coisas, que agora fazem notícias que é o que prende as pessoas aos telemóveis.

Cá está uma covardias sem limites, vir às escondidas e quando uma pessoa menos conta záscatrapás .  Oiçam lá, diz o oficial, agora os chocolates são para nós, vocês não têm direito a eles, temos de os aprisionar, e esta operação especial vai apanhá-los todos, e depois se quiserem negociamos, mas atenção, só depois de nos empanturrarmos.

Percebe-se bem o fito dos russos e a senhora comissária para não criar mau ambiente com o senhor Putin arranjou esta moenga do Kit para nos alertar para o perigo da Rússia vir por aí abaixo com os norte-coreanos a cheirar a alho e gastarem a água e as pilhas todas e nós sem nada. Os de cá sem água e sem os canivetes chineses que só a sra Hadja pode andar com eles nos aviões, porque o resto do pessoal nem corta unhas.

Esta ideia do kit é, por isso, fantástica. Num juízo de prognose é bem possível que os russos venham a Portugal aproveitar esta água das chuvas copiosas porque a deles ainda é do tempo dos bolchevistas.

E tem outra coisa; têm de o fazer enquanto está o Marcelo que é todo beijos e abraços. Se for com o senhor Almirante será muito diferente, mas mesmo muito. Fia fino. Se o artigo 5º ficar a seco ele vai direitinho a Washington e acerta as contas com o Trump num lampo.

Com ele é tudo armas, armas, nem pão, nem queijo. Ainda bem que há comissárias assim. Com ela é a sério – água, radio, medicamentos, pilhas e umas cartitas, não vão os russos fazerem amizades com os de cá e a coisa durar mais de 72 horas. Bem-haja o cérebro da sra. comissária, resplandecente de imaginação e prevenção.

UM PROVOCADOR É UM PROVOCADOR

JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS

Confesso que só hoje vi a entrevista à RTP1 no dia 24, devido aos protestos do PCP e de outros comentários.

 Na verdade, a RTP 1 não encomendou ao pivô uma entrevista. Encomendou um julgamento, até no plano, tal como num tribunal, o pivô estava numa posição mais alta que o Secretário-Geral do PCP. E esse plano é brutal do ponto de vista psicológico no sentido de diminuir o entrevistado.

José Rodrigues dos Santos, ao longo dos dez minutos, apenas tinha em mente encurralar Paulo Raimundo e foi o que tentou fazer, comportando-se como se fosse o dono da RTP, e quisesse acusar o PCP de blasfémia por não aplaudir os deputados ucranianos. Por muito que P.R. explicasse que não aplaudiu aqueles deputados porque serem também responsáveis pelo facto de na Ucrânia os partidos social-democrata, comunista, e outros, menos os partidos ligados aos nazis – os Banderistas e os nazis do batalhão Azov – bem como os sindicatos estarem ilegalizados.

JRS impediu conscientemente que PR abordasse os temas relacionados com as eleições de 18 de maio. Seguramente não convidaram PR com a informação que a entrevista de 10 minutos seria exclusivamente sobre a Ucrânia.

JRS e os seus donos atraíram PR para uma entrevista sobre as eleições e depois de o “apanharem” nos estúdios enfiaram-lhe um enxerto de “porrada”, o que não conseguiram face ao desempenho do entrevistado. Trata-se de uma covardia sem limites. Como todos os covardes, JRS pretendeu ser forte com a eventual  “ fraqueza” do entrevistado face ao tema Ucrânia, onde o pensamento único, o do partido da guerra é dominante e ficam boquiabertos quando alguém ao arredio da bolha dos media se atreve a defender outra solução que não seja a do rearmamento e a da guerra.

Como se convidasse Luís Montenegro, Pedro Nuno dos Santos, e todos os outros dirigentes e, durante o tempo, lhes perguntasse os motivos de defenderem o envio de cada vez mais armamento para a Ucrânia e a razão de os seus partidos aplaudirem deputados  de um parlamento onde socialistas, social-democratas, comunistas e partidos de esquerda  estão interditos. Ou por que motivo defendem o envio de armas para a Ucrânia e não para a Palestina. E nem mais um segundo sobre o dia 18 de maio.

JRS prestou um péssimo serviço ao pluralismo que deve nortear a informação. Vestiu a farda de capataz e despiu a de jornalista. Foi um pouco mais longe. De cima da sua arrogância comportou-se como um velhaco. Só faltou piscar o olho em direto aos que com ele organizaram semelhante velhacaria.