Give peace a chance
Os EUA e a OTAN definiram como objetivo estratégico em relação à guerra provocada pela invasão da Ucrânia a derrota militar russa.
Nesta conformidade a guerra irá prolongar-se por muito tempo, salvo se a situação militar vier a sofrer grandes alterações, ou se na Rússia ela se tornar insustentável para Putin ou para Zelenskii na Ucrânia ou para alguns países nucleares da OTAN devido à escassez de combustível ou de abastecimentos tendo em conta a inflação e a previsão de continuar a subir.
O empobrecimento dos trabalhadores e povos da UE é uma realidade indesmentível. Em Portugal, os trabalhadores vão perder algo similar a um mês de salário. Os pensionistas viverão pior. O número de pobres aumentou. Mais de dois milhões de portugueses vivem na pobreza. Os portugueses estão a empobrecer a olhos vistos. O que a União Europeia tem a propor é empobrecimento; simultaneamente sem um pingo de vergonha lucros colossais são anunciados diariamente pelas empresas de combustíveis e energia, bancos, de produtos alimentares. Já não há decoro. Por cada multibilionário criam-se quantos milhares de pobres? Quanto custa um ricalhaço destes?
O prolongamento de uma guerra (que nunca devia ter acontecido) com o seu cortejo horrendo de destruições e mortes tanto num país como noutro causará seguramente nos povos respetivos grandes comoções e eventuais revoltas.
Na Europa as sanções duríssimas que atingem a Rússia implicaram um ricochete que está a ter efeitos medonhos na vida dos cidadãos e consequências políticas inesperadas. A própria guerra serve de justificação para aumentos nos bens essenciais sem qualquer justificação a não ser a ganância.
As destruições na Ucrânia são terríveis e as baixas militares insuportáveis caso prossigam. No lado russo as mortes são elevadas e as sanções podem vir a ter reflexos muito mais agudos em 2023/4.
A Europa dependia da Rússia em matéria de combustíveis. O obreiro desta parceria foi Angela Merkl; não era uma esquerdista, nem uma política irresponsável. Era uma europeísta defensora do papel da Alemanha na UE. Tinha gás barato da Rússia. Agora a Alemanha e a UE dependem quase exclusivamente do gás dos EUA que é bem mais caro.
A guerra acontece em solo europeu e as consequências dramáticas da sua duração são sentidas sobretudo pelos europeus.
A miserável demagogia acerca dos cereais para o Terceiro Mundo quer fazer uma esponja sobre o colonialismo, o neocolonialismo e as elites nativas quanto ao estado do mundo, como se antes da guerra aqueles países vivendo na ordem mundial dominante não fossem já países a viver na miséria e na fome.
Se a guerra se prolongar até a Rússia ser derrotada pode levar a que possamos voltar às longas guerras como as que já tiveram lugar há séculos neste continente (uma de trinta, outra de cem). Só que agora os meios de destruição são muitos mais eficazes.
Valerá sempre a pena face aos arautos da invencibilidade dos EUA/OTAN interrogarmo-nos pela humilhação que sofreram no Afeganistão.
Os EUA/OTAN estão em condições de derrotar a Rússia por intermédia da Ucrânia? Pelos vistos do chamado lado ocidental há quem considere que é possível. Talvez seja a razão pela qual os arautos desta hipótese sustentem que a guerra será muito longa, até que o poder na Rússia caia. E se não cair? Até quando pode a guerra, as sanções e o empobrecimento de um continente doravante incapaz de assegurar combustíveis e energia para funcionar?
De um modo talvez mais simples, a um país com a capacidade militar como a Rússia é possível derrotá-la no campo de batalha sem um apocalipse nuclear? Esta pergunta tem de ter uma resposta para confrontar os que defendem a derrota militar da Rússia. A não ser que se considere que a OTAN derrotará a Rússia em termos convencionais e que nesse caso os governantes russos aceitarão tal hipótese.
A condução da guerra na Ucrânia não foi como os dirigentes russos imaginaram, mas daí à certeza de uma derrota vai uma diferença abissal.
Não se trata de querer ou não uma vitória de Putin. Trata-se de saber, face a estas circunstâncias e aquelas que no futuro se vislumbram, o que irá acontecer (e o que poderia ter acontecido no início da guerra e das conversações) a saber se teria sido melhor para a Ucrânia certas cedências ou empurrada pelos EUA/OTAN ser trucidada caso a demência continue a prevalecer em Moscovo, Washington, Berlim, Kiev, Paris, Londres, Bruxelas e outras capitais.
A hipótese de Putin cair é razoável? Até agora, apesar de várias movimentações de opositores à guerra, não está no horizonte tal hipótese.
Pensar em termos puramente militares que ele vai deixar-se derrotar tendo armas que impedem a derrota ou que levam à destruição mútua e neste caso todos perdem é um risco. Vale a pena corrê-lo? Responda responsavelmente quem tem essa obrigação.
E se Putin cair, falta saber quem o irá substituir. É previsível que um dirigente de um país gigante, pleno de história, como a Rússia se deixe dominar por Washington? Nem o inenarrável Boris Yeltsin o conseguiu. Quem tem em mãos ou em mente o Ocidente?
Para já (como se a guerra fosse um videojogo) o que os dirigentes dos EUA/OTAN/UE têm para oferecer é apenas guerra em cima de guerra. A Rússia igualmente. Claro que foi a Rússia que invadiu a Ucrânia e que tal invasão só pode merecer a firme condenação. Mas o problema é derrotar a Rússia no caminho de outra guerra com a China ou negociar para acabar a guerra e impedir novas guerras.
As opções estão em cima da mesa. Pode e deve condenar-se o invasor e exigir que a guerra acabe com base numa política de segurança que envolva todos os países atingidos. O que não se pode é deixar que em nome dos povos e dos países deixemos a Europa caminhar para o abismo. Também cada cidadão tem a sua responsabilidade em impedir esse rumo. Estar ao lado dos povos russo e ucraniano pela paz é exigir que a guerra acabe o mais rapidamente possível e sem derrotados. Por cada dia de guerra que passe é um dia perdido.
Se não se exigir a paz a guerra vai continuar e por muito que a ladainha de castigar o agressor seja linda, os que a defendem esclareçam como se sai do atoleiro e se a própria Ucrânia vai ganhar com a sua destruição enquanto Washington enche os cofres de dólares com milhares de milhões de vendas de armamento e combustíveis, deixando a Europa na sua dependência.
Os povos na Europa parecem confundidos, claro que condenam a invasão, mas o que se está a passar a nível de um confronto entre OTAN/Rússia deixa toda a gente receosa. A escalada pode atingir tal ponto que será sempre a Ucrânia quem mais sofrerá. A solidariedade ao povo ucraniano é mais que necessária.
Os seus dirigentes que seguem os comandos da OTAN e que guiam o país para o desastre total passarão no crivo da História como patriotas ou irresponsáveis?
São precisos homens e mulheres que se distingam dos demais irracionais que nos conduzem. Lúcidos, amantes da paz, capazes de aceitar que somos diferentes, mas iguais na nossa humanidade. Sim, precisamos. Onde estão? Saiam à rua a dar esperança a um continente que parece perdido e só vê armas sujas e limpas. Alguém que fale contra o belicismo. Alguém que nos deixe dormir em paz, sobretudos aos povos ucraniano e russo. Alguém que declare que podemos viver em segurança e quem não quiser será derrotado nas ruas e sem armas, apenas com o coração, a bondade e a fraterna esperança que herdamos ao cabo destes milénios de homo sapiens. Que sonho mais antigo há que não passe por viver em paz, não é John Lennon? Give peace a chance.
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