Anda por aí uma nova doença. Ela está bem presente em certos partidos, na comunicação social e nas redes sociais. Falam-me amigos, que há muito conheço, que ela também aparece nas esplanadas e até nas esquinas onde, às vezes, ainda há quem pare para conversar.
Os sintomas desta nova doença consistem em passar para outros os problemas próprios e acrescentar a este viés outro, o de que aqueles problemas existem por causa de outrem.
Normalmente os psicólogos falam de que há certos adultos relativamente mais esclarecidos, ou supondo-se mais esclarecidos, que responsabilizam os outros pelos seus falhanços. Como não têm relva para justificar o falhanço do pontapé, nem árbitro, atiram-se a outros, responsabilizando-os.
Vladimir Ilich Ulianov, o tal da perinha e do boné à bolchevista, descobriu que havia dirigentes do movimento revolucionário que eram tão puros que descartavam alianças e compromissos com outras forças. Sofriam de infantilismo escreveu ele.
Pois bem, tendo em conta o movimento das coisas, e passados mais de cem anos, surgiu um novo infantilismo a que darei o nome de adultismo na medida em que os seus defensores se recusam a olhar para o que fizeram e atiram-se a outros que não fizeram o que eles queriam que fizessem, responsabilizando-o pelo seu próprio insucesso. Julgam-se mais adultos que os outros, incapazes de admitir que outra coisa não se pode fazer fora do quadro por si determinado.
Em Lisboa o PS, o BE, o Livre e o Pan decidiram propor para Lisboa uma coligação com Alexandra Leitão à cabeça. É um direito que lhes assiste. A coligação apareceu como irá desaparecer e correspondia a um projeto político de dar a Câmara ao PS que durante o consulado de Moedas ninguém o viu ou ouviu, talvez, viemos a saber pela voz de J.L. Carneiro por não ter chegado. Até ele concorda que não se sabe por onde andava, mas adiante.
Ora bem, a coligação teve menos votos que há quatro anos. Mas isso não interessa para o caso, o que conta foi o PCP seguir o seu caminho, concorrer e até aumentar o número de votos porque tinha um candidato bem preparado e capaz.
Vejam lá o despautério, até lhe ofereciam a Vice-Presidência…assim, talqualmente.
O PS por andar perdido nestes quatro anos, Carneiro dixit, achav\1a e pelos vistos muito gente, que o PCP devia encontrar o novo paradeiro do PS, conduzindo-o à Praça do Município, se possível com fanfarra. Entretanto, o mesmo PS aqui ao lado em Loures tinha como candidato uma nova versão do Tamerlão e em Santiago de Cacém não concorria porque o PS, mais o PSD, a IL e o CDS concorriam apertadinhos para varrer os comunistas do Município.
Ou seja, os adultos do PS, mais os dos seus aliados, mais os dos seus simpatizantes na comunicação social de cima do seu estatuto de adultos altamente conscientes e zeladores do combate à direita entenderam que o PCP, se fosse o que eles queriam que fosse, devia juntar-se a eles e garantir ao PS Lisboa.
Este texto visa o que visa e seguramente não visa desculpar, nem branquear o desnorte autárquico do PCP que a não ser corrigido levará (já está a levar) à sua insignificância autárquica.
Mas é preciso dizer que uma coisa é uma coisa e outra coisa é este infantilismo de fazer passar um tique de superioridade de adultos encartados de esquerda para justificar o seu próprio falhanço. Jamais. Aguardemos o que vai fazer quem agora chegou.