Como é do conhecimento geral, a governação no mundo ocidental (e não só) atravessa uma séria crise de confiança pelo facto de os cidadãos terem deixado de confiar nos governantes.
Um pouco por todo o lado verifica-se a tendência de essa frustração ser transformada em apoio a políticos que se afirmam contra o sistema para dele se apoderarem e se servirem.
Nesta conformidade, líderes da extrema-direita “arrasam” o sistema que os alimentam e hoje participam direta ou indiretamente em muitos governos europeus, talvez a maioria. São contra o sistema até a se guindarem ao poder. Em Portugal já participam indiretamente no governo regional dos Açores e marcam a agenda em diversas áreas, designadamente na imigração e na segurança interna, no plano nacional.
Nos EUA a crise é visível – nas brutais desigualdades, na pobreza, nos massacres de rua, na criminalidade, na queda da esperança média de vida, no número de presos, na dificuldade (impossibilidade para já) em competir com a China, na queda da produção industrial, no crescente isolamento internacional.
É provável que um homem como Trump com uma ambição desmedida, vivendo num ambiente de gente da mesma estirpe, imagine o mundo à sua imagem e semelhança. Dada a confrangedora ignorância político-cultural, olha para os diferentes países como para as suas Torres na 5ª Avenida de NYC, isto é, oportunidades de negócio.
Já tinha prometido a Kim Jong Un grandes e maravilhosos investimentos no Mar da Coreia. Agora, chegou a vez de fazer de Gaza uma Riviera no Médio Oriente escorraçando um povo inteiro da sua terra milenar, tal como se vivesse no tempo dos faraós do Egito e bastasse a sua vontade para passar a ser lei contra todas as leis internacionais que no Conselho de Segurança da ONU se debruçaram sobre o assunto. Tal como fizeram os foragidos europeus idos para a América do Norte dizimando os nativos e criando os EUA.
Perdido no seu labirinto de mitómano e saído do mundo dos reallity shows, Trump rodeou-se de um naipe de aventureiros plutocratas parecidos consigo em matéria de desígnio, ou seja, abocanhar o melhor, mesmo à custa de tempestades de pobreza como se está verificando no DOGE encabeçado por Musk para despedir centenas de milhar de funcionários, substituindo-os pela sua IA.
Trump prometeu o fim das guerras e até acabar a guerra na Ucrânia num dia. É o que se vê. Pressionou Netanyahu para fazer um cessar-fogo, talvez para obter a libertação dos reféns e “credibilidade” internacional. Joga com Netanyahu, mas Israel sabe que pode contar com Trump para prosseguir a sua violentíssima ocupação dos territórios palestinianos.
Mas se repararmos bem, o programa de Trump está virado para o passado e daí o Great Again, uma visão que está conforme o seu quadro mental. É a decadência a bater à porta da potência hegemónica que sabe que vai deixar de ser.
Alega que melhor seria o Canadá incorporar-se nos EUA, que a Gronelândia deve fazer parte dos EUA e que o canal do Panamá pode ser tomado pelos EUA. Como se tivesse a função de atribuir nomes aos lugares do Planeta, rebatiza o Golfo do México. Ameaça aliados e, apesar disso, os governantes europeus quase nem pestanejam. Seguem apoiando o regime de Zelenski e a guerra perdida. Anunciou que se vai encontrar com Putin para “entregar” a Ucrânia a si própria (menos os metais raros) e aos europeus. Os vassalos nem resmungam. A Europa do belicismo, ávida de apaziguar o Minotauro de Mar- a -Largo, com a compra de armas ao Pentágono segue o triste destino da irrelevância.
Trump insiste em querer comprar território pertencente aos palestinianos e que não está à venda. Pelo menos 47 000 palestinianos morreram pela sua terra, a Palestina. Em cima de tanto sangue derramado, Trump sonha com negócios. A UE assobia, incapaz de aplicar uma sançãozinha ao carniceiro de Telavive. O Ocidente está assim.
Não é uma questão geográfica mas sim uma nova fase do capitalismo.
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