OS SORRISOS NO MEIO DA DESGRAÇA EM GAZA

 Um rapto é, em termos políticos, um ato de terror. A ocupação de um território por outro país, contra o direito internacional que reconhece a independência do território é terrorismo de Estado, o mais grave terrorismo.

Desde 1967 que Israel ocupa a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Leste contra a vontade do povo palestiniano e contra a Resolução 242 das Nações Unidas.

Para manter a ocupação os governos israelitas oprimem e reprimem violentamente todo o povo palestiniano: crianças, mulheres, idosos, homens e jovens. Já assassinaram mais de cinquenta mil palestinianos. Têm nas prisões mais de vinte mil presos. Expulsam os donos das terras e estabelecem novos colonatos contra a lei internacional que os considera ilegais.

Todas as tentativas, levadas a cabo pela OLP para resolver por via pacífica o fim da ocupação, resultaram em novas medidas repressivas, não deixando aos palestinianos outra via que não seja a das forças das armas contra as armas dos ocupantes.

A um patriota palestiniano nada mais resta para ver a sua terra livre que pegar em armas para acabar com a ocupação depois de esgotarem todas as ouras vias.

O Hamas, grupo islamista, menos radical do que o grupo que o Ocidente colocou no poder na Síria, é a face da resistência dos palestinianos.

Netanyahu prometeu exterminar o Hamas devido ao ataque de 7 de novembro que levou à morte de cerca de mil e quatrocentos israelitas.

Desde então até hoje mais de 50 000 palestinianos (a maioria crianças, mulheres e idosos) foram mortos pelos bombardeamentos brutais que ultrapassam em termos de explosivos o poder das duas bombas atómicas de Nagasaki e Hiroshima. Gaza está destruída. 90% da população não tem comida, nem habitação, nem cuidados médicos devido à política de terror de Netanyahu.

Hoje foram libertadas mais 4 reféns e 200 presos palestinianos, alguns condenados a prisão perpétuas, outros, crianças, por atirarem pedras aos soldados da ocupação.

Há pouco mais de 2000 anos eram os judeus que se revoltavam contra a ocupação romana da região. Os romanos acabaram por largar a região, não obstante a mais cruel repressão contra os revoltosos. A crucificação de Cristo enquadra-se num cenário mais largo de choque entre os daquele território e os ocupantes, mesmo que, como sempre, os ocupantes recrutassem entre os ocupados quem os apoiasse.

Israel é claramente uma criação ocidental e conta com o seu apoio, sem o qual não podiam manter a ocupação. Os EUA, a União Europeia, mesmo depois da política genocida de Netanyahu continuam a apoiar o seu governo.

Netanyahu prometeu exterminar o Hamas e teve o apoio ocidental, incluindo de António Costa.

O “invencível” exército israelita afinal não foi capaz de exterminar o Hamas que se apresentou ao mundo na libertação dos reféns como uma organização disciplinada, bem equipada e capaz de fazer cumprir os acordos do cessar-fogo, o que muito incomodou a narrativa ocidental quanto à capacidade daquela força de resistência.

O incómodo era tão gritante que não aguentou o sorriso das militares israelitas raptadas e agora libertadas. Segundo os preconceitos da narrativa ocidental, uma espécie de realidade paralela, aquelas mulheres nunca poderiam sorrir, mesmo quando passaram a ver a luz do dia, o que não deviam ver desde 7 de outubro de 2023.

Houve mesmo quem dissesse na elucubração raivosa pelo espetáculo tremendo montado pelo Hamas que elas foram obrigadas a sorrir…  Como? Faria parte do acordo que tinham de sorrir?

Durante séculos as mulheres foram proibidas de rir e os homens não o deviam fazer. Só os tolos se riam. O tolo na Barca do Inferno de Gil Vicente ri perdidamente. A Igreja argumentava que não havia imagens de Cristo a rir. …”o homem medieval tentou evitar juízos de aprovação do riso, pelo que que  risus se converteu em subrisus , que, sendo basicamente rir às escondidas assumiu a forma mais elegante e discreta de acolher e partilhar a alegria – de sonrisar”… (in O Riso , Teorização. Leituras. Realizações, Coord, Elisa Nunes Esteves, Isabel Barros Dias, Margarida Reffóios, pag-38, Caleidoscópio).

Daqui o sorriso, ou seja, o riso discreto. Só no século XX com a descoberta da rádio e da TV as mulheres ganharam o direito ao sorriso e a rir, mesmo com avisos de que se não deviam rir por qualquer coisa.

Ora bem, as reféns, muito humanamente não puderem conter a alegria de se verem livres e sorriram como é lógico, racional e, a todas as luzes, evidente. Pois, houve quem descobrisse contradição entre a postura corporal e os sorrisos. Há nestes enxames de empregados dos donos pequenos netaniauzinhos que só esperam poder evidenciá-los para se mostrarem dignos do soldo que recebem.

Aqueles sorrisos não eram mais nem menos que a certeza de que a luz que estavam a ver as iluminava e já não padeceriam no escuro, pois elas faziam parte como militares da guerra que opõe o exército de ocupação à lutas dos ocupados.

Ali se libertavam quatro. Noutro lugar 200 palestinianos. Alguns menores por atirarem pedras a tanques.

No entanto, o mundo comunicacional tinha de olhar para um helicóptero que supostamente transportava as reféns. Quase não se falou da ocupação e dos 50 000 mortos palestinianos desde 7 de outubro.

Nas reportagens não havia truque que escondesse esta verdade crua e nua: goste-se ou não o Hamas ao cabo deste tempo de bombardeamentos genocidas ganhou mais força na população. É esse o azedume de muita gente que não quer dar as notícias que são a notícia, a força do Hamas.

Um pensamento sobre “OS SORRISOS NO MEIO DA DESGRAÇA EM GAZA

Deixe uma resposta para steadybravelya21dd15058 Cancelar resposta