ACORDA EUROPA!

A Europa, à deriva entre a extrema-direita e um rotativismo de intérpretes do neoliberalismo desalmado (espécie de partido único), dilacerada por uma guerra sangrenta, sufocada de desesperança e de cidadãos ensimesmados, anestesiados por novas tecnologias de infantilização, perdidos entre a crua realidade e a desilusão, parece caminhar para um futuro sem futuro. Pior: há quem veja nos restos de um fascismo reciclado de democrático uma possibilidade de uma vida mais justa desde a Escandinávia ao Sul passando pelo centro do continente.

Duas guerras diante dos nossos olhos. A destruição e morte exaltada por ambos os lados como justificação para o injustificável.

A Rússia invadiu e ocupou uma parte do território ucraniano para impedir que a Ucrânia integre a NATO, tal como foi negociado entre os EUA/NATO/Rússia, nos termos do artigo 9 da Constituição da Ucrânia.

Em 1948 cerca de 700.000 palestinianos foram escorraçados das suas casas, roubados de tudo por Israel com o apoio ocidental. Deram-lhes tendas eternas. Desde então o rosário de catástrofes tem sido o quotidiano até hoje, com Israel fora da lei.

Talvez valha a pena respirar fundo e pensar no modo como a Europa se posiciona sobre estes dois conflitos e confrontar as narrativas dominantes, onde os maus são os inimigos dos bons, sendo estes os EUA. O país cujo Presidente George W. Bush dizia falar com Deus, mesmo após a invasão do Iraque para acabar com armas que não existiam e que Durão Barroso e Paulo Portas garantiram-nos existir e ofereceram os Açores para a Cimeira da guerra.

No que se refere à invasão da Ucrânia os EUA/NATO/U.E. depois de instigarem Zelenski a armar-se, assumido publicamente por Merkl, Hollande e Poroshenko (rasgando os Acordos de Minsk) e, mais tarde, a declaração de Istambul prometeram sanções jamais vistas, rios de dinheiro, carradas e carradas de armas, as long as it takes, até à derrota militar da Rússia… apostando tudo nas sanções. Só que o PIB russo cresceu e continua a crescer.

Era o tempo dos grandes anúncios em Kiev e da fervorosa fé de Ursula von der Leyen que as sanções jamais aplicadas a qualquer outro país derrotariam Putin que iria parar direitinho ao Tribunal Penal Internacional, onde George W. Bush, Blair, Aznar estão proibidos de entrar dado o seu liberalismo em matéria de invasões de outros países.

Zelenski entrava-nos em casa de manhã à noite. Putin era amaldiçoada a pontos de João Cravinho afirmar que seria preso, se viesse ao Algarve. A notícia única – o anúncio glorioso da vitória do Ocidente que se esfumou com a contraofensiva ucraniana. Agora, até Stoltenberg se desdiz. A Ucrânia contou pouco, a não ser para dar o sangue para os EUA/NATO/U.E. tentarem derrubar Putin.

Desde outubro de 2023 que os Israel/EUA/NATO/U.E. amaldiçoaram os palestinianos. Todos os bombardeamentos por terra, mar e ar se justificaram, mesmo que matem mais sete mil crianças e outras tantas mortes de idosos e mulheres num total de vinte e sete mil, tudo em três meses. Para os palestinianos o máximo que o Ocidente exige são pausas para depois Israel continuar a bombardear. Nem uma fisga, nem armas antigas, nem uma sançãozita, nem no desporto, nem no festival da eurovisão. Que Israel mate até se cansar e que os palestinianos vão para o inferno, onde estão.

Reparem: Gaza fica do outro lado do mediterrâneo. Washington a 9460 quilómetros de Gaza. Washington a 7828 de Kiev. Os EUA têm tropas estacionadas em todos os continentes. Têm 742 bases militares em 80 países, 118 e 44 na Alemanha e Itália respetivamente. 119 no Japão. Nenhum outro país tem algo que se pareça com esta rede de militarização do mundo.

A Europa está em guerra e na Europa pouco se fala de paz, salvo o Papa Francisco.

 Os EUA querem amarrar a Europa à sua estratégia de confronto com a China. É vital enfraquecer a Rússia, cortá-la da Europa para que fique ainda mais amarrada ao Império e dependente de combustíveis para já quatro vezes mais caros. Cabe perguntar às mentes exaltas a Europa seria a mesma sem Dostoievsky, Chagal, Tolstoi, Gogol, Tchekov,  Lermontov, Lomonosov, Tchaikovsky, Rimsky Karsakov, Putshkin, Prokofiev, Maiakovsky, Gorky, Solienitsine, Vassili Grossman, entre tantos, sem os construtivistas, e a derrota dos turcos na Crimeia, de Napoleão, de Hitler?

Os dirigentes europeus nada têm a propor para resolver o conflito sem o beneplácito dos EUA, salvo armas e dinheiro que desaparecerá nos campos da Ucrânia entre sucata destruída, corrupção e vidas perdidas. A Rússia e a Ucrânia não vão fugir da Europa… Há que encontrar caminhos para viver em paz. Já morreram centenas de milhares de europeus. No clima de guerra medra a extrema-direita. Os EUA têm imensos problemas internos. Fala-se em guerra civil. Na Europa há pobreza a mais. Só a paz pode permitir encontrar soluções. O futuro de guerra não é futuro. Acorda Europa!

https://www.publico.pt/2024/02/08/opiniao/opiniao/acorda-europa-2079727

https://www.publico.pt/2024/02/08/opiniao/opiniao/acorda-europa-2079727

Um pensamento sobre “ACORDA EUROPA!

  1. António Melo's avatar António Melo

    “destruição e morte exaltada por ambos os lados como justificação para o injustificável” – foi assim, por cá, no 28 de maio de 1926, com a gente anarquista a acreditar que a matar os mações, coniventes com Afonso Costa, é que acabava com a podridão do regime. Veio a plebiscitada Constituição de 1933 e a justificação para o injustificável institucionalizou-se – por longos 41 anos. Pode ser que até ao fim do ano tudo se clarifique – António Melo

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